A Kroton anunciou seu plano para desbravar o mercado de educação básica — e a primeira aquisição dentro da nova estratégia.

Com o esgotamento da possibilidade de crescimento por aquisições depois do veto do CADE à compra da Estácio, o CEO Rodrigo Galindo está mirando o segmento premium do ensino particular, colocando a Kroton em concorrência direta com o Grupo SEB, a Escola Eleva, a Bahema e a Somos Educação. Todos fizeram movimentos recentes de aquisição.

O parcela premium do ensino básico fatura R$ 25 bilhões/ano em mensalidades e mais R$ 20 bilhões no chamado ‘contraturno’ — aulas de línguas, música, etc., que são frequentemente oferecidas pelas próprias escolas.

 
Trata-se de um universo de 1,4 milhão de alunos, o equivalente a 21% do total de alunos na educação privada, mas que, graças aos tíquetes altos, respondem por 40% da receita total do setor.
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Se conquistar uma fatia de 10% deste segmento — R$ 4,5 bilhões — a Kroton quase dobraria seu faturamento, que foi de R$ 5,6 bilhões ano passado.

Para desenhar sua estratégia para um mercado significativamente diferente do que domina, a Kroton contratou Mario Ghio, o ex-CEO da Somos Educação. Ghio, que já está na Kroton há mais de dois anos, será o vice-presidente acadêmico da Saber, e Dieter Paiva, o diretor-geral de educação básica. 

Numa conversa com repórteres hoje à noite, Galindo se mostrou consciente das diferenças operacionais entre o ensino superior — onde o corte de custos e o ensalamento sempre foram as principais ferramentas de produtividade — e o ensino básico, no qual o convencimento dos pais é a chave para a terra prometida da receita recorrente.

“As operações terão autonomia operacional, administrativa e acadêmica,” disse Galindo. “Vamos manter intactos todos os atributos: o projeto pedagógico, os professores.”

A Kroton pretende obter ganhos de escala ao abrir outras unidades da marca na área geográfica de influência da marca.

Galindo disse que as margens do ensino básico são “marginalmente inferiores ao ensino superior”, mas que os retornos são parecidos graças ao crescimento via unidades greenfield.

A dúvida é se a reputação das instituições de ensino superior da Kroton — conhecidas por sua eficiência espartana e margens EBITDA que são a inveja de outros setores — será vista como um problema para os pais, que comparam escolas obsessivamente antes da escolha mais importante que fazem pelos filhos.

A reputação do primeira escola comprada pela Saber é impecável: o Centro Educacional Leonardo da Vinci — “Leonardo” para os alunos — disparado o melhor colégio de Vitória, com 29 anos de história e 1.250 alunos. Em algum momento, todo o PIB capixaba passou pelo colégio fundado por Maria Helena e José Antônio Pignaton, que continuarão respectivamente como diretora e conselheiro.
 
José Antônio, um ex-seminarista que lecionava no Colégio Nacional — antigamente a instituição mais aclamada de Vitória — ainda chega no Leonardo às 5:30 da manhã, conhece cada aluno pelo nome e é um mentor para muitos. Hoje um self-made man, Pig, como é chamado pelos alunos, também foi um dos fundadores do Darwin, um colégio de Vitória que opera com tíquete mais baixo.
 
“É um orgulho ter um filho no Leonardo: é superconcorrido, tem fila para matricular,” disse um capixaba que passou pelas carteiras do Leonardo e hoje trabalha na Faria Lima. Primeira colocada no ENEM do estado por seis vezes nos últimos anos, a escola possui um programa bilíngue do ensino infantil ao médio, incluindo a opção por um diploma de ‘high school’, que permite ingresso em universidades americanas.
 
A Kroton não divulgou a receita do Leonardo, mas um analista de buyside estima que ela deve girar em torno de R$ 40 milhões/ano.

Apesar de ter se tornado um gigante do ensino superior, a Kroton tem sua origem no Curso e Colégio Pitágoras, fundado em 1966 em Belo Horizonte e hoje um dos maiores sistemas de ensino do país, com mais de 700 escolas parceiras.  Um investimento da Advent no Pitágoras, então controlado por Walfrido Mares Guia, deu origem à Kroton antes mesmo da aquisição da universidade dos Galindo.

 
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