A Tenda acaba de anunciar que vai investir numa ‘fábrica de casas’ — um projeto que demandará de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões entre capex, opex e capital de giro, e permitirá à construtora entrar em cidades menores dobrando seu tamanho. 


10872 b164bdd5 1e4e 2691 5920 30a4d92b0068A Tenda — cujo negócio é focado no Minha Casa Minha Vida — já vinha estudando desde o ano passado a entrada no modelo de construção ‘offsite,’ em que a estrutura é produzida numa fábrica e em seguida levada ao canteiro de obras, onde é montada.

Originalmente, a companhia pretendia fazer uma fábrica de apartamentos’, mas percebeu que em cidades pequenas e médias a casa teria maior aderência.


De lá para cá, testou diferentes produtos e técnicas construtivas até chegar na tecnologia de ‘wood frame’, uma estrutura de madeira muito comum em países como Estados Unidos, Suécia e Alemanha e que garante um maior conforto térmico.

A fábrica deve começar a operar no primeiro semestre, antecipando o calendário de entrega, já que, originalmente, a fábrica seria construída a partir de 2022.

Este modelo offsite reduz drasticamente o tempo necessário para construir uma casa e a necessidade de mão de obra nos canteiros. Na medida em que ganhar escala, a Tenda estima que seu custo de construção será o mais baixo do mercado. 

O CEO Rodrigo Osmo disse ao Brazil Journal que nos primeiros quatro anos a fábrica dará prejuízo e vai consumir caixa da empresa. A partir de 2025, a operação deve chegar ao breakeven, e o ‘economics’ se estabilizará no ano seguinte, quando a produção deve atingir 10 mil unidades/ano.

O projeto (desde a construção da fábrica e compra de equipamentos até as despesas operacionais) demandará um fluxo de caixa de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões. 

“É uma aposta de apenas 10% do nosso market cap com uma opcionalidade gigantesca,” disse o CEO. 

Segundo ele, o mercado de casas é significativamente maior que o de apartamentos, e o modelo offsite permite entrar em cidades pequenas, aumentando drasticamente o mercado endereçável da Tenda. 

“Hoje, estamos apenas nas grandes cidades porque precisamos produzir mil apartamentos por ano (numa cidade) para o negócio ser viável. Com a fábrica, podemos atender literalmente qualquer cidade,” diz Rodrigo. 

Em outras palavras: no modelo offsite a escala local de cada cidade deixa de ser relevante, e o que importa passa a ser a escala global da fábrica. 

Rodrigo disse que o negócio pode dobrar o tamanho da Tenda nos próximos anos. 

Hoje, a construtora vende cerca de 18 mil unidades/ano, número que pode chegar a 31 mil em cinco anos. Já o negócio de casas teria potencial de chegar a 30 mil unidades/ano. 

Segundo ele, nos primeiros dois anos o foco será em construir o landbank e testar o ‘product-market fit’ com alguns projetos piloto. A Tenda já está construindo algumas casas em seu centro de inovações e fará um primeiro lançamento nos próximos meses: um condomínio de 60 a 70 unidades em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. 

O grande desafio do projeto: desenvolver a cadeia de suprimentos de ‘wood frame’ no Brasil — que em algumas etapas ainda não tem condições de absorver uma demanda de 10 mil unidades/ano.

“Mas várias dessas cadeias podemos verticalizar, o que até criaria um diferencial competitivo lá na frente,” diz o CFO Renan Sanches. “A madeira em si não é um problema, mas no limite poderíamos chegar a ter uma floresta.”