Um ano atrás, a Yooga estava queimando R$ 500 mil por mês e tinha apenas mais 15 dias de runway em caixa.
Para piorar: a startup de software para bares e restaurantes estava prestes a fechar uma rodada de R$ 16 milhões quando um problema de governança — um investidor-anjo que tinha muito poder de veto na empresa — acabou fazendo os fundos desistirem.
A solução dos fundadores foi ir para o tudo ou nada: os três se alavancaram na física, tomando um empréstimo bancário de R$ 1,5 milhão.
Essa aposta de ‘vida ou morte’ deu resultado. A Yooga fechou o mês passado com um ARR (a receita mensal anualizada) de R$ 15 milhões, margem bruta de 80% e um EBITDA positivo.
A startup já tem mais de 6.000 restaurantes como clientes, que pagam uma assinatura mensal. O software oferece desde um ERP para a gestão do negócio até integrações com sistemas de pagamentos, com a contabilidade, e uma solução de delivery (próprio ou conectado aos marketplaces).
Os números colocam a Yooga como a líder dessa categoria na América Latina — à frente de startups badaladas como a Deli (que já levantou US$ 7,5 milhões e tem a a16z e a Atlântico como investidor) e a Zak (que captou mais de US$ 29 milhões com gestoras como a Tiger Global).
Segundo levantamento da SaaSholic, que investe na Yooga, a Zak tem cerca de 400 clientes e um ARR de US$ 400 mil; a Deli, que nasceu em Buenos Aires e entrou no Brasil recentemente, tem cerca de 15 mil restaurantes na base em todos os países em que opera e um ARR de US$ 2 milhões.
“Começamos o negócio sem nunca ter ouvido a palavra venture capital na vida,” Vinícius Melo, o CEO e cofundador, disse ao Brazil Journal. “Isso criou um senso de urgência na gente, porque fazer funcionar era a única opção que tínhamos. É claro que não ter capital fez o processo ser mais lento. Demoramos quatro anos para ter 200 clientes. Mas agora, nos últimos dois, já chegamos a 6 mil.”
Vinicius fundou a Yooga com 22 anos, depois de ter trabalhado como garçom nos Estados Unidos e no Brasil. Os outros dois fundadores são Victor Sortica, o CTO, e Cassiano Guerra, responsável pela área de tecnologia e produtos.
Agora, a Yooga acaba de levantar sua primeira rodada institucional para acelerar o crescimento da base e apostar em novas soluções para os restaurantes.
A captação, de US$ 2,3 milhões, foi liderada pela SaaSholic, a gestora focada em softwares de William Cordeiro, Gustavo Souza e Diego Gomes — que antes de investir se dedicou a resolver o problema de governança da Yooga, tirando o investidor original do cap table.
Também participaram da rodada investidores-anjo como Alexandre Dubugras (da Alude), e Alex Theuma (fundador do SaaStock, um dos maiores eventos de SaaS da Europa).
O valuation foi de US$ 20 milhões (post-money).
William, da SaaSholic, disse que a gestora sempre estudou a tese de ‘vertical SaaS’ para restaurantes na América Latina — cujo maior expoente global é a americana Toast — mas achava os “valuations, salários e tamanhos de cheque fora da realidade.”
“A Yooga, no entanto, estava lá em Vitória, longe da panelinha do VC-track, e focada em construir e desenvolver o melhor produto e atendimento,” disse o gestor. “Os founders saíram do zero para quase US$ 3 milhões de receita recorrente levantando menos de US$ 300 mil até hoje. Eles foram forjados na escassez, e longe do hype do mercado.”
Apesar de competir com a Zak e a Deli, Vinicius disse que o maior concorrente da Yooga hoje ainda é o mundo analógico. Mês passado, segundo ele, a startup fechou quase 500 restaurantes novos e 90% deles vieram do analógico. “É o cara que tem o livro-caixa dele, que ainda gerencia o negócio na planilha do Excel,” disse ele.
A startup também tem tirado muitos clientes dos softwares mais antigos — criados há 20, 30 anos — de empresas como a Linx e a Totvs; e de startups que fazem apenas uma etapa da gestão do restaurante em vez de oferecer o modelo completo como a Yooga.
Com a rodada, o plano da Yooga é continuar crescendo a base de restaurantes e aumentar sua receita com serviços financeiros — que hoje respondem por apenas 5% do top line.
A Yooga ganha uma comissão sobre as vendas dos clientes que usam sua solução de integração de pagamentos — conectando o restaurante com diversos subadquirentes e com maquininhas de cartão, como a Stone.
Hoje, no entanto, uma parcela pequena dos R$ 2,5 bi que os clientes da Yooga movimentam por ano passa pela solução da startup. A meta de longo prazo é que 40% do GMV passe pela plataforma. Já no ano que vem, a startup espera que 30% de sua receita venha das soluções de pagamento.