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A revolução do RNA: da vacina da Covid ao promissor combate ao câncer

26 de nov, 2023

Embora o RNA mensageiro seja estudado há décadas, sua aplicação ganhou destaque com a pandemia, depois da utilização na produção de vacinas contra a Covid-19 em tempo recorde.

A expectativa é que essa tecnologia possa provocar uma nova revolução na medicina, na prevenção e tratamento de diversas doenças, como o câncer, diz o professor Paulo Amaral, especialista em genética molecular, neste episódio do Lado B.

O RNA mensageiro (mRNA) é uma molécula que carrega o código genético do DNA com as instruções para a produção de proteínas no nosso corpo.

Sua função foi descoberta em 1961, e sua aplicação no desenvolvimento de vacinas foi possível a partir das descobertas da bioquímica húngara Katalin Karikó e do médico americano Drew Weissman, que ganharam neste ano o Prêmio Nobel de Medicina.

Seus estudos marcaram um ponto de virada no uso do mRNA. “O maior desafio era como entregar o RNA mensageiro nas células sem que elas o considerassem um corpo estranho [que fosse destruído antes de induzir a produção de proteínas]. Eles descobriram que, se fizéssemos pequenas modificações químicas no mRNA, nosso corpo parava de reconhecê-lo como estranho”, explica Amaral, PhD em Genética Molecular pela Universidade de Queensland, na Austrália.

Diferentemente dos imunizantes clássicos, que introduzem o vírus inativado ou uma parte dele para que o sistema imunológico produza as defesas, as vacinas de mRNA induzem o organismo a produzir as proteínas presentes no vírus – que, então, são reconhecidas como ameaças pelo sistema imunológico, levando à produção de anticorpos e células de defesa.

Amaral conta que o pioneirismo da pesquisa abriu caminho não somente para o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19, como também para o tratamento e a prevenção de outras doenças.

Nosso corpo é um sistema de processamento de informações, diz o professor. Tratando-se de doenças, quando alguma coisa dá errado, o organismo começa a produzir RNAs e proteínas que não deveriam estar sendo produzidas e isso acaba sendo um sinal.

“O Santo Graal da biologia atualmente é a detecção de doenças antes dela se manifestar”, afirma.

“Temos biomarcadores, que são sinais. Alguns são famosos, como o PSA para o câncer de próstata. Há um esforço muito grande para detectar antes, para tratar e evitar que a doença progrida. Seja um câncer, seja uma doença psiquiátrica. As células emitem sinais de que há alguma coisa errada acontecendo”.

Apesar dos significativos avanços, o potencial do uso do RNA ainda é um “oceano azul”. Isso porque o RNA mensageiro é só um tipo de RNA, diz o geneticista, coautor do livro “RNA, The Epicenter of Genetic Information”, lançado em setembro de 2022.

Amaral afirma que apenas 1,2% do nosso DNA contém informação para a produção de proteínas. “O restante até recentemente era considerado como ‘DNA lixo’, porque não sabíamos qual era a função. Achávamos que era um produto que tinha ‘sobrado’”.

No entanto, ele aponta que a informação que faz uma pessoa ter propensão a ter um ataque cardíaco, um Alzheimer ou uma doença psiquiátrica, por exemplo, está nesses mais de 98% do DNA que, até então, estavam sendo ignorados.

“Esses problemas acontecem na parte regulatória. São mais sutis. Estamos começando a entender melhor essa parte só agora”.

Discutir temas diversos com base em pesquisas e evidências é a proposta do videocast Lado B, que tem tem novos episódios a cada quinzena.

Marcos Lisboa recebe convidados para debater macroeconomia, ciência, gênero no mercado de trabalho, políticas públicas, urbanismo e outros assuntos que afetam o cotidiano.

Disponível também na versão podcast no site do Brazil Journal e no Spotify:

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