A sensação parece ser a de voltar para a barriga da mãe. Você flutua numa câmara fechada, sem som e na escuridão completa. E, por uma hora, não faz nada.

Essa é a proposta. Pagar R$ 140 para não fazer nada. E tentar desligar da vida, do celular, da campanha eleitoral…

A convite da Flutuar Float Center, testei um tanque de flutuação com “privação sensorial”, a prática de relaxamento que virou febre entre os estressados do Vale do Silício e de Wall Street. A Flutuar é o primeiro estúdio de São Paulo exclusivamente dedicado à flutuação com controle de estímulos sensoriais.

Há alguns spas que oferecem piscinas ou banheiras com o sulfato de magnésio – também conhecido como sal de Epson. Mas as cápsulas de privação sensorial são um passo além. Além do relaxamento muscular proporcionado pela flutuação, os tanques fechados permitem eliminar não apenas o estímulo da gravidade, como também o som e a luz.

Ao entrar no tanque, a primeira tarefa é se perdoar o sentimento de vagabundagem: “três da tarde e eu aqui, fazendo nada”. Ao flutuar, o corpo logo relaxa. Mas a cabeça demora um pouco mais para confiar na densidade da água. Apoio a cabeça nas mãos, e pouco a pouco vou me dando conta que é desnecessário.

Não tenho espírito aberto para regressões uterinas, mas, neste caso, me sinto como o narrador do “Enclausurado”, de Ian McEwan, um feto que se ocupa do que acontece lá fora. Mas, na ausência de estímulos, aos poucos o lá fora vai ficando distante e ficamos sem saber sobre o que pensar.

O tempo passa, mas perco a noção. Até que surge, baixinho, uma música zen. Faltam apenas cinco minutos para o fim da minha “nadação”. A essa altura os protetores auriculares caíram e começo a ouvir carros passando ao fundo na Av. Pedroso de Moraes. Acendo a luz azul da cápsula e me permito um momento de prazer infantil, fazendo barulho com a água e tentando (sem sucesso) afundar as partes do corpo.

Saio achando que não fui capaz de meditar, mas aos poucos vou sentindo meu corpo relaxado como se tivesse recebido algumas horas de uma boa massagem. Na medida em que o tempo passa, vou me dando conta de que estou zen. Esqueço de religar o celular. Quando ligo, questões para resolver de trabalho, para minha surpresa, não me abalam. Nove da noite caio em sono profundo – há anos não dormia tão bem.

Não são todos que conseguem se entregar ao tanque de flutuação, me diz o CEO da Flutuar, Tobias Nold, que montou o negócio com ajuda de outros 11 sócios, friends & family.

Volta e meia aparece um desses “influenciadores” do Instagram pedindo uma sessão de graça em troca de visibilidade junto aos seguidores. Uma turma que entra na sala, tira foto e em menos de 20 minutos já está pedindo pra sair. Outros se esforçam. Uma “influenciadora” precisou de quatro ou cinco sessões, ampliando o tempo de flutuação pouco a pouco, até conseguir se permitir não fazer nada.

Inspirados nas águas do Mar Morto, os tanques de flutuação com privação sensorial foram criados nos EUA nos anos 50 como parte de estudos sobre estímulos cerebrais. Ganharam força com os hippies nas duas décadas seguintes e hoje fazem parte de uma grande indústria do “Bem estar”, que, de acordo com o Global Wellness Institute, movimenta US$ 3,73 trilhões.

Embora prometa benefícios no mundo offline, boa parte dessa indústria está online, com apps que ensinam a meditar e reduzir a ansiedade (provocada, em grande medida, pelo próprio celular).

“Se todos flutuassem, o mundo seria um lugar melhor”, garante Tobias, que conheceu os tanques de flutuação nas viagens que fazia quando era executivo de vendas do Facebook. “Agora eu vendo o que eu acredito.”