Investir em arte é… uma arte, e não uma ciência.

Não é fácil navegar num mercado com tantas variáveis e tão poucas métricas – e que movimenta quase US$ 67 bilhões por ano, segundo o UBS.

Para ajudar na análise do mercado, instituições financeiras como o Citi, o ING e o JP Morgan estão oferecendo serviços de ‘art advising’ para seus clientes colecionadores.  Os bancos contam com departamentos próprios de arte, com profissionais egressos de galerias e museus, e os serviços vão desde análise de mercado – incluindo em quais artistas ou fases investir – ao auxílio para manutenção e transporte de obras. (E, claro, a concessão de empréstimos lastreados nas coleções.)

Nos EUA, o art advising já é um negócio milionário.

Há três anos, a Sotheby’s pagou US$ 85 milhões pela Art Agency Partners, uma consultoria de arte fundada por Allan Schwartzman, o americano que vem a ser também o diretor artístico do Inhotim.

No Brasil, por muito tempo quem queria iniciar uma coleção tinha apenas dois caminhos: ou se tornava um expert ou ficava na dependência dos conselhos “desinteressados” de amigos ligados ao mercado – e que depois cobram comissão das galerias (para horror de alguns marchands).

Agora, uma nova geração de art advisors está mudando esse panorama, trazendo novos olhares e mais profissionalismo para a arte de colecionar. E mais transparência na hora de cobrar pelos serviços.

Além de ajudar o cliente a fazer boas escolhas, os art advisors fazem um trabalho de evangelização: organizam visitas a feiras – como a Bienal de Veneza, a Miami Art Basel e a Frieze de Nova York – e promovem rodas de conversa juntando clientes com artistas, além de aulas de história da arte.

O Brazil Journal convidou três escritórios de art advisors de São Paulo a montar uma coleção com R$ 1 milhão – um exercício inspirado em uma reportagem da Bloomberg.

Abaixo, suas principais apostas (sem comissão para o site, é claro).

 

DANIELA SÉVE DUVIVIER (Master Arte)

Nesta coleção, Dani Séve mescla jovens em ascensão com artistas modernos, normalmente mais valorizados. São 7 artistas contemporâneos que têm uma importante contribuição na história da arte brasileira e alguns artistas dos anos 80 com bom potencial de valorização: com preço bom em relação à maturidade de suas carreiras e à qualidade dos trabalhos. Clique aqui para ver a seleção de Dani Séve.

 

FELIPE MELO E JULIA PORCHAT (Art_Ahead)

A coleção dos fundadores da Art Ahead é centrada em artistas bem jovens mas com uma carreira de destaque no Brasil e fora. A coleção foi batizada de “Paisagens oníricas vs Materialidade” e tem como condutor trabalhos que evidenciam uma certa “luta interna dos artistas em transformar projeções em algo palpável”, diz Felipe. “São todos artistas muito jovens, muito contemporâneos, muitas mulheres, e que estão arrebentando no mercado internacional.” Clique aqui para ver a seleção feita pelos sócios da Art_Ahead.

 

FERNANDO TICOULAT (Act. Art Consulting Tool)

Ticoulat sugere como investimento artistas que não foram reconhecidos pelo mercado a seu tempo, mas que agora começam a ganhar visibilidade comercial. São seis nomes, quatro já falecidos e dois nascidos antes dos anos 50. “São artistas ótimos, que têm um bom corpo de obra, bastante conhecidos e reconhecidos no meio, mas que só agora estão tendo o reconhecimento do mercado.” Clique aqui para ver a seleção de Ticoulat.

 

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A SELEÇÃO DE DANIELA SÉVE DUVIVIER

TUNGA

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Sem título, 2008

R$ 300.000, galeria Millan

Por quê? “Falecido há 3 anos, Tunga foi uma das figuras mais importantes da arte brasileira. Primeiro artista brasileiro contemporâneo a ter uma obra exposta no Louvre em Paris e um dos artistas com mais obras em Inhotim.”

JOSÉ LEONILSON (1957-93)

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Crédito: Rubens Chiri /© Projeto Leonilson

 

 

Perna de pau; o avestruz, 1983  

R$ 145.000, galeria Marilia Razuk

Por quê? “Artista da geração anos 80, Leonilson inovou com sua arte autobiográfica, usando costuras, bordados, textos em diferentes suportes como tecidos e telas abertas sem chassi. Considero seus desenhos uma jóia, uma obra íntima do seu trabalho. Produziu cerca de 2 mil obras e faleceu de HIV aos 36 anos.”

 

 

LUIZ ZERBINI

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Valença Policor, 2014

R$ 80.000, galeria Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “Zerbini também é artista dos anos 80 e um pintor por excelência. Sua pintura geométrica e figurativa são primorosas. Possui carreira internacional reconhecida, com exposições em Londres e Nova York. É o único pintor com uma galeria dedicada a suas pinturas no Instituto Inhotim.”

 

 

RODRIGO ANDRADE

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Sem título, 1997

R$ 145.000,00, galeria Millan

Por quê? “Rodrigo participou do Grupo Casa 7, de retorno à pintura nos anos 80. Tem a habilidade de pintar obras figurativas e abstratas e criou um estilo único de pintar com espessas massas de tinta a óleo, em formas geométricas aplicadas sobre a tela. Essa pintura do final dos anos 90 mostra a gestualidade vibrante da sua pincelada expressiva.”

PALATNIK

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W-161, 2007

R$ 230.000,00, galeria Nara Roesler

Por quê? “Palatnik tem 90 anos e é o principal artista brasileiro cinético. Participou de quatro bienais de São Paulo. Nesta obra que chama de W, o artista compõe um efeito ótico como se fosse uma série de faixas de madeira que ele pinta, risca e fileta, recortando e aplicando faixas de cores variadas.”

JAC LEIRNER

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Vazio Quatorze, 2008

R$ 168.000, galeria Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “Jac é uma das artistas mais reconhecidas no Brasil, com carreira internacional ativa. Artista conceitual, constrói esculturas e instalações a partir da coleta de objetos comuns. Foi a primeira artista brasileira a ganhar o prêmio alemão Wolfgang Hahn, concedido pelo museu Ludwig, de Colônia. Esta obra feita com sacolas plásticas é emblemática. Outra obra desta mesma fase ilustra a capa do livro da artista.”

 

CLAUDIA ANDUJAR

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Maloca próxima à missa católica do rio Catrimani

R$ 30.000, galeria Vermelho

Por quê? “Claudia é uma fotógrafa suíça naturalizada brasileira e desde os anos 70 se dedica à defesa dos Índios Yanomamis. Tem 88 anos e sua trajetória tem um cunho social muito importante. Morou por 30 anos em aldeias, ajudando os índios e registrando cenas cotidianas. Inhotim tem um pavilhão com suas obras, que também fazem parte do acervo da Tate Modern. Esta foto da oca, com filme infravermelho, é muito representativa e caracteriza muito bem a sua produção artística.”

 

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A SELEÇÃO DE FELIPE MELO E JULIA PORCHAT

MARINA RHEINGANTZ

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Mapeamento, 2019

R$ 43.000 e R$ 50.000

Baleia, 2018

R$ 28.000 e R$ 32.000, galeria Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “A artista carioca revive a pintura do ponto de vista abstrato. Pinta paisagens que não são exatamente paisagens, mas fruto de sonhos, com uma técnica absurda. As duas obras falam desse trânsito entre figurativo e abstrato. Marina já tem representação em Nova York e está em um momento incrível, com poucas obras disponíveis.”

ERIKA VERZUTTI

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New Moon, 2013

R$ 68.000 a R$ 72.000, galeria Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “É uma artista muito interessante e muito influenciada pelos temas do presente, com respostas rápidas. Essa obra é de uma fase muito boa e traz uma reflexão política da sociedade sem ser óbvia. Ela acabou de ter uma exposição no George Pompidou em Paris e esteve na Bienal de Veneza de 2017. “

VIVIAN CACCURI

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Pagode Interestelar, 2019

R$ 56.000 a R$ 62.000, galeria Leme/AD

Por quê? “A artista subverte completamente a noção de paisagem e vai para a materialidade. Faz uma reflexão sobre o sonho por meio da escultura – e ela chega a um resultado que é quase uma pintura. Artista com preço muito bom ainda e que está em ascensão. Foi incluída em uma lista do Wall Street Journal de artistas para se prestar atenção em reportagem publicada durante a Art Basel de Miami em 2016 e teve obras expostas na Bienal de Veneza de 2017.”

PALOMA BOSQUÊ

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Fonte #2, 2016

R$ 36.000 a R$ 42.000, galeria Mendes Wood DM

Por quê? “A obra da Paloma dialoga com a da Vivian, mas com uma linguagem mais poética. Tem uma delicadeza na construção da escultura, que deriva de sonhos. É uma artista que se desafia muito no uso de materiais diferentes, fazendo disso um questionamento à pintura. Carreira bem projetada, mas com produção pequena e demorada. Essa escassez cria um certo frisson e ela sendo incluída em coleções importantes.”

 

JAC LEIRNER

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Yale Nights, 2012

R$ 220.000 a R$ 240.000, Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “Jac é uma artista que trata de obsessões, que manipula emoções e interfere nos sonhos. Essa obra é feita de objetos – papeis, crachás etc – colecionados em uma viagem para Yale e unidos por fios extensores. Remete a uma outra obra famosa, que reúne uma coleção de pontas de baseado. Jac foi uma das primeiras artistas brasileiras contemporâneas a se internacionalizar – vendeu uma obra para o MoMA nos anos 90.”

 

WOLFGANG TILLMANS

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Congo sunset, 2018

US$ 10 mil +taxas de import., galeria David Zwirner

Patti Smith, Glastonbury, 2015

US$ 10 mil +taxas de import., galeria David Zwirner

Por quê? “Tillmans é um artista alemão bastante consolidado, mas que também tem muita obra acessível – que tem a ver com uma bandeira que ele tem de democratização da arte. Ele tem obras de US$ 200 mil. É dos mais importantes fotógrafos contemporâneos – e que reinventou a fotografia do ponto de vista do tema e do entendimento da fotografia como arte. Foi um grande retratista na década de 90 e hoje é ativista político. Já tem fotos do Minhocão e já teve suas obras expostas no MASP. Tem um olhar que foge do lugar comum.”

RODRIGO CASS

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Espiritual Vivente – Respira [A Presença], 2018

R$ 44.000 – R$ 48.000, Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “O artista tem um trabalho que dialoga com o de Willys de Castro e que trata da espiritualidade. Mas sua espiritualidade é onírica, intangível, enquanto para o Willys ela vai de dentro do objeto para fora. Suas obras são pinturas que também são esculturas de concreto. É quase uma catarse o jeito que ele vai injetando as peças nas telas. Uma subversão da pintura e da escultura ao mesmo tempo. Cass foi seminarista antes de virar artista e está no início de uma ascensão. Expôs recentemente na Califórnia.”

 

MARIANA PALMA

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Sem Título, 2018

R$ 150.000 a R$ 210.000, galeria Casa Triângulo

Por quê? “A Mariana é uma pintora que tem uma pesquisa de técnicas de pintura muito bonita. Ela usa ao mesmo tempo muita técnica e também se permite um descontrole. O efeito é esteticamente maravilhoso, com um impacto grande. Suas obras vêm em uma escalada de valorização. Ela está em coleções internacionais importantes e há alguns anos teve uma obra vendida em leilão por US$ 200 mil.”

 

SANDRA CINTO

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Sem Título, 2018

R$ 150.000 a R$ 180.000, galeria Casa Triângulo

Por quê? “Uma das nossas pintoras mais importantes, Sandra tem uma influência muito grande do modo de pensar Oriental. Desenhista exímia, mas que deixou o desenho um pouco de lado para focar em paisagens. Está nas coleções mais importantes do país, bem posicionada em coleções institucionais como MAC, MAM. Acabou de fazer uma exposição na Casa Triângulo que quando abriu as obras já estavam praticamente todas vendidas. Uma artista com lista de espera.”

ANDRÉ KOMATSU

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Grupo 9 (da série (Re)forma real), 2014

R$ 35.000 a R$ 45.000, galeria Vermelho

Por quê? “O artista foge totalmente da perspectiva do sonho e transforma a reflexão em materialidade: uma intervenção com materiais muito pouco comuns. É um artista que tem esculturas com ventilador, que criam desconforto com o som. Ele quer tirar você da zona de conforto. Nessa obra ele usa a perspectiva do cartão postal com um objetivo muito claro para discutir questões do momento, com imagens de Brasília, do Congresso. É um artista com representação internacional, também esteve em Veneza em 2017 e que teve ótimas críticas em sua última exposição na Galeria Vermelho.”

 

 

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A SELEÇÃO DE FERNANDO TICOULAT

IONE SALDANHA (1919–2001)

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Série Bambus, s.d

R$ 150.000, galeria Almeida & Dale

Por quê? “Importante artista brasileira. Sua produção em objetos é mais frequente após os anos 1960, quando passou a trabalhar com pinturas sobre ripas, bambus e bobinas. Nesta série, alguns dos críticos e historiadores associam o uso de objetos como desejo de manifestação das raízes populares brasileiras, com inspiração semelhante à do pintor Alfredo Volpi.”

AMADEO LORENZATO (1900-95)

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Sem título, 1984

R$ 190.000, galeria Bergamin & Gomide

Por quê? “Artista mineiro apreciado pelo escultor Amilcar de Castro, sua produção ainda era muito regional e pouco conhecida fora de Minas Gerais. Entretanto, a obra é de grande importância na história da arte brasileira e vêm ganhando o devido reconhecimento no mercado e junto à crítica.”

 

LYDIA OKUMURA (1948)

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Turning Point, 1989

US$ 46.000, galeria Jaqueline Martins

Por quê? “Brasileira radicada em Nova York, Lydia Okumura tem grande relevância institucional, com obras em acervos de museus nacionais e internacionais como MAM, Pinacoteca, MAC, MoMA, Metropolitan, entre outros, Okumura constrói composições geométricas abstratas que projetam-se das paredes para todo o espaço.”

REGINA VATER (1943)

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Give me your time, 1981

R$ 160.000, galeria Jaqueline Martins

Por quê? “O trabalho de Regina Vater transita por diversos suportes, como fotografia, vídeo, desenho e objetos. Nesta série, ela dialoga com a Arte Postal, movimento que ganhou repercussão nas décadas de 1960 e 1970 e que foi de extrema relevância para a história da arte conceitual brasileira.”

RUBEM VALENTIM (1922-91)

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Emblema, 1979

R$ 250.000, galeria Almeida & Dale

Por quê? “Um dos mais importantes concretistas brasileiros, suas obras de caráter geométrico vêm ganhando cada vez mais relevância, principalmente após duas grandes mostras realizadas na Caixa Cultural São Paulo e no Masp, em 2018. Baiano, Valentim aprendeu a pintar de forma autodidata e se inspira nelas raízes culturais da Bahia e seus ancestrais africanos.”

IVENS MACHADO (1942–2015)

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Sem Título, 2006

US$ 30.000 e US$ 80.000, galeria Fortes D’Aloia & Gabriel

Por quê? “Integrante da geração pós-movimento neoconcretista dos anos 1970, Ivens Machado manteve-se alheio ao circuito de arte na época. Com uma obra em grande parte voltada para objetos e escultura, o artista usava matérias-primas de construção civil, como concreto, vidro, madeira, entre outros. Desde seu falecimento súbito, a obra de Ivens, além de muito escassa, tem sido revisitada pela crítica e o mercado.”