A cinco meses das eleições presidenciais, a Argentina virou um grande canteiro de obras.

O Presidente Mauricio Macri acaba de entregar dois importantes projetos de infraestrutura e se prepara para inaugurar mais 300 até o fim de outubro. São novos terminais aeroportuários, trens suspensos, viadutos e túneis. Os investimentos superam US$ 2 bilhões.

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As obras — a última tacada de Macri para tentar recuperar popularidade e garantir a reeleição — vem num momento em que a economia começa a dar indícios de melhora depois do pânico do mês passado.

Em 28 de abril, o BC argentino conseguiu autorização do FMI para intervir no câmbio e, desde então, o peso é a moeda que mais se valoriza no mundo frente ao dólar (uma alta de 3%). A inflação, que havia atingido 4,7% ao mês em março, caiu para 3,4% em abril e deve fechar maio em 2,8%.

Com a melhora na confiança, as ações também dão sinal de vida: o MSCI Argentina se valoriza em mais de 13% neste mês e é o índice emergente que mais sobe nos últimos 60 dias.

Nas ruas, a melhora nos ânimos é palpável.

Em Buenos Aires, onde estão concentrados quase um de cada quatro eleitores, os moradores estavam em alvoroço nos últimos dias.

Com a inauguração do Paseo del Bajo, um grande túnel que liga as estradas que vem do interior da província ao porto de Buenos Aires, os moradores se depararam com as ruas vazias — o trânsito simplesmente despencou.

Antes da obra, os caminhões transportando produtos agrícolas tinham que passar pelo centro de Buenos Aires para chegar ao porto, deixando um rastro de congestionamento no caminho. Desde segunda-feira, o mesmo percurso que era feito em até quatro horas está levando menos de 30 minutos.

Outro grande projeto: o Viaducto Mitre, uma espécie de trem urbano suspenso inaugurado há duas semanas e que liga o bairro de Belgrano ao Retiro, no coração de Buenos Aires.

No mínimo, os esforços de Macri têm chamado a atenção.

Uma pesquisa da Isonomia feita no mês passado mostra que 55% dos argentinos viram algum tipo de obra pública em seus bairros. Em Buenos Aires, a taxa foi de 81%.  

Em julho, devem ficar prontos o Viaducto San Martin, outra estação suspensa de trem; e a ampliação do Arroyo Vega, um túnel que desemboca no Rio de La Plata e que deve reduzir os impactos das chuvas e inundações em alguns bairros de Buenos Aires.  


As obras e a melhora dos indicadores têm um timing perfeito para Macri: a leitura hoje no mercado é de que houve um enfraquecimento da oposição.

10101 8c60e14b 9511 0000 0024 06cd3ba57932Há duas semanas, Cristina Kirchner abriu mão de sua candidatura para assumir a vice-presidência na chapa de Alberto Fernández, seu ex-chefe de gabinete, que deixou o governo em 2008 após divergências com Cristina.

A decisão foi vista como um tiro no pé, já que pode causar uma rachadura na própria esquerda. “Ele é mais moderado que a Cristina, mas não tem visibilidade nenhuma e é tão arrogante que é odiado pelos próprios peronistas,” diz um gestor que investe no país.

Esta semana, um levantamento divulgado pela Ricardo Rouvier, uma consultoria ligada ao Kirchnerismo, mostra que num hipotético segundo turno Macri ganharia de Alberto Fernández por uma diferença de 3,3 pontos percentuais.

Em outra pesquisa, feita na semana passada, mais um fôlego: 40% dos entrevistados disseram ter uma imagem positiva de Macri, contra 29% há cerca de um mês.