Desde segunda-feira, os ativos argentinos entraram em liquidação. A dívida soberana com vencimento em 2021 — o primeiro a vencer após a eleição — caiu 5 centavos para 82 centavos de dólar, jogando o yield para 17,9% ao ano (uma alta de 350 pontos-base).
O mercado de CDS — onde se compra seguro contra um default da dívida — agora precifica o risco-Argentina em 1.140 pontos-base — o mais alto do mundo. (Para efeito de comparação, o risco de países africanos quebrados está em 800/900 pontos-base. A Argentina tem superávits fiscal e comercial, e suas obrigações externas estão cobertas até o final do ano que vem.)
A última maré de pânico começou com uma pesquisa eleitoral que mostrava que Cristina Kirchner, num hipotético segundo turno, estaria à frente do Presidente Mauricio Macri, que tenta a reeleição. Hoje senadora, Cristina ainda não se declarou candidata à Presidência.
Na Argentina, as pesquisas são um faroeste (não caboclo mas gaúcho). Elas não são registradas, não precisam ser publicadas, e seus resultados são usados para manipular a reação dos adversários — e o mercado.
A pesquisa que mostrava Kirchner à frente foi feita pelo Isonomia, um instituto historicamente ligado ao Cambiemos, a coalizão de Macri.
A parte do mercado que acreditou na pesquisa resolveu liquidar suas posições; a outra parte, mais cética, acha que a pesquisa é uma jogada de Macri para incentivar Cristina a se candidatar.
Hoje, a centro-esquerda argentina está pulverizada entre vários candidatos em potencial. As primárias do peronismo acontecem em agosto e vão decidir entre: Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia de Nestor Kirchner; Sergio Massa, o ex-chefe da Casa Civil de Cristina; o Governador da Província de Salta, Juan Manuel Urtubey; e Daniel Scioli, o ex-governador da Província de Buenos Aires que perdeu para Macri em 2015. (Este grupo forma o peronismo moderado, ou “Alternativa Federal”; Cristina corre por fora com sua Unión Ciudadana – UC).
“As pessoas estão frustradas e decepcionadas com o Macri, mas elas o-dei-am a Cristina,” diz um investidor.
A pesquisa pode ter sido uma estratégia política brilhante, mas foi um desastre para o mercado. Hoje de manhã, o chefe do Isonomia deu uma entrevista para dizer que os resultados “foram retirados de contexto”.
Piorando as coisas: a posição técnica do mercado.
No início do ano passado, a Argentina inundou o mercado de dívida com US$ 15 bilhões em novos títulos. É difícil achar um fundo macro em NY que não tenha alguma exposição ao país.
Agora, parte deste carry trade está sendo desfeito, trazendo os preços a patamares mais humildes.