Mais do que qualquer outro setor, as grandes empresas de tecnologia são um enigma para os investidores. Algumas, como o Twitter, ainda estão buscando a sintonia fina do seu modelo de negócios. Outras, como a Amazon, crescem sem parar desde o primeiro dia, mas ainda não conseguem gerar lucro líquido dada a necessidade de reinvestimento.Barry Diller

Na Bolsa, os investidores atribuem um preço a essas empresas todos os dias, mas para entender o seu valor — num mundo em que uma nova tecnologia ou modelo de negócios pode mudar tudo de uma hora para outra (vide Netflix e Uber) — você precisa ouvir um especialista.

Barry Diller talvez seja um dos caras que mais entenda do assunto. Executivo que fez história (e um patrimônio de 2,3 bilhões de dólares) na indústria de mídia dos EUA — responsável pela criação da Fox Broadcasting Company e do canal USA — Diller é o chairman e principal executivo da IAC/InterActive e da Expedia, a agência de viagens online. A IAC é dona, entre outras coisas, do aplicativo Tinder, da plataforma de vídeo Vimeo e dos sites About.com e The Daily Beast.

Ontem, numa entrevista à Bloomberg Television, Diller discorreu sobre os desafios e as oportunidades de alguns dos maiores nomes da internet. E fez uma previsão: Jeff Bezos, o fundador da Amazon, será o homem mais rico do mundo daqui a alguns anos. Foi uma aula compacta — cinco minutos — sobre temas que interessam a qualquer empresário: a importância de tranquilidade e continuidade na gestão de uma companhia, o peso apenas relativo da ‘opinião do mercado’, e a correlação daquele velho clichê — o ‘cliente está sempre certo’ — com o sucesso de uma empresa.

Não é todo dia que alguém consegue falar com tanta clareza e objetividade sobre a chamada ‘nova economia’ — mostrando que, em muitos aspectos, ela funciona igualzinho à velha.

Segue o trecho da entrevista:

O Yahoo! parece estar sob muito stress. Você compraria as ações do Yahoo! no preço atual?

Não.

Por que não?

Se eu acho que existe valor no Yahoo? Claro que acho. Na verdade, ele até faz sentido com alguns de nossos negócios. Mas essa empresa vem de 10 anos muito duros. Não é que eles estejam mortos, mas depois da quantidade de brigas, desgaste, esgarçamento e tensão por que essa empresa passou, ela não vale muito, a menos que você a pudesse comprar com um desconto enorme. Se isso acontecesse, claro que eu compraria.

Mas eles têm como sobreviver sozinhos?

Claro! Eles têm um business! Eles têm 500 milhões de pessoas navegando pelo sistema deles. Se você não consegue fazer um business com isso, tem alguma coisa muita errada.

Ok, mas isso me faz pensar no Twitter. Tem muita gente navegando o sistema deles e, ainda assim, eles não conseguem achar um caminho.

Isso não é verdade. Não é que eles não consigam encontrá-lo. Eles vão começar a ter receita desses consumidores. Eles já têm receita. Eles são um negócio que está de pé. Eu não sei o valuation deles, porque eu não presto atenção nisso. O que eles têm que fazer — e estão fazendo — é tornar o [Twitter] mais simples para as pessoas normais usarem, porque não é um produto tão simples se você não é um aficionado.

Mas então o maior problema deles é crescer o número de usuários ou a receita por usuário?

Eles tem que continuar a… Olha, eles não estão no ponto em que o Facebook está, pra dizer o mínimo. O Facebook tem usuários suficientes para um século! Este não é o caso do Twitter. Eles têm que crescer os usuários.

Mas eles perderam metade do valor de mercado, ou seja: os investidores estão dizendo alguma coisa.

Well(Engasgando) O que os investidores sabem? Os investidores olham para o passado… Isso que você falou não entra na minha cabeça.

Como assim? Você precisa que os investidores acreditem na sua empresa para….

Os investidores só vão acreditar na sua empresa quando os fatos já tiverem acontecido, e eles já tem que ter acontecido há algum tempo, particularmente se você estava uma situação ruim… Quando isso acontece, ok. Mas isso leva tempo. Aí sim os fatos vão dizer alguma coisa [aos investidores].Jeff Bezos

… a menos que você seja a Amazon, porque aí os investidores simplesmente acreditam em você…

Mas os fatos da Amazon são impressionantes! O que quero dizer com isso: desde a primeira hora do primeiro dia, o que a Amazon e o Jeff Bezos disseram foi, ‘nós vamos construir uma infraestrutura para atender os clientes, e não ligamos para mais nada’. Então é um período de investimento sem fim. Vou te fazer uma pequena previsão: Jeff Bezos vai ser a pessoa mais rica do mundo, certamente dentro de cinco ou sete anos. [Nota da coluna: A Amazon, que divulga seu resultado trimestral hoje à noite, vale 280 bilhões de dólares na Bolsa de Nova York. Bezos é dono de 18% da empresa.]

Mas em algum momento você tem que ganhar dinheiro com isso. [A Amazon cresce mas não tem lucro líquido.] Não pode ser literalmente um período infinito de investimento…

Eles ganham dinheiro sim. O fluxo de caixa deles é muito bom. [A questão é que] eles reinvestem tudo, e é por isso que eles vão ser uma das empresas mais valiosas do mundo. É por isto: atenção insana em agradar o cliente, não importa o custo. O produto Amazon Prime deles é genial.

Mas se Jeff Bezos vai ser o cara mais rico do mundo, e nós estamos vendo o varejo tradicional apanhar feio, qualquer um que venda o mesmo produto que a Amazon vende vai ser tirado do jogo! Isso significa a morte de todos os outros varejistas? [Nota da coluna: No Black Friday nos EUA, as vendas em lojas físicas caíram 10%, enquanto as vendas online subiram 10%. Em novembro e dezembro, a Amazon foi responsável por 42,7% de todas as vendas online nos EUA, de acordo com a consultoria Slice Intelligence.]

Nãaaaoo! [irritado com a tese] Uma coisa não precisa morrer para que a outra viva!

O Wal-Mart está apanhando.

Eles estão indo ok…. Por favor! Não vamos olhar as coisas só em termos absolutos…

Vamos falar do YouTube [que pertence ao Google]. Como você mencionou antes, tem muita coisa lá que você pode não querer assistir, mas o YouTube é enorme. É enorme.

Enorme. O YouTube é oito vezes o nosso tamanho [o tráfego da IAC InterActive, presume-se].

Por que eles não transformam o YouTube num negócio de assinaturas maravilhoso?

Olha, eles não são idiotas. Eles realmente olham pro YouTube como um negócio de busca, primariamente. Mas ele já evoluiu de um negócio de busca para um negócio de mídia, e há uma diferença grande entre as duas coisas. Eu acho que eles entendem isso, então eventualmente…. Mas eu também acho que outros players, neste ínterim, podem se aproveitar, e é por isso que eu acho que o Vimeo, ao longo do tempo, vai se tornar uma plataforma muito grande para vídeo. [O Vimeo pertence à IAC].