O sucesso eleitoral de Emmanuel Macron — improvável, imprevisto e impressionante — dá esperança aos brasileiros que sonham com um candidato viável e racional nas eleições de 2018.
 
No fim de semana, o partido de Macron, fundado há apenas um ano e dois meses, estilhaçou as bolas de cristal dos analistas e obteve a maior vitória parlamentar desde 1958, quando o General Charles de Gaulle instaurou a Quinta República.
 
Ainda haverá um segundo turno este domingo, mas as estimativas indicam que o En Marche! ficará com algo entre 390 e 430 cadeiras no Parlamento, que tem 577. Macron e seus apoiadores precisam de apenas 289 para ter maioria.
 
Nos contexto atual, o que é bom para a França seria excelente para o Brasil.
 
Emmanuel MacronMenos de um mês atrás, os franceses elegeram um candidato jovem, mas com um histórico palpável e coerente na vida pública e no setor privado.  Um homem de conteúdo que defende há anos uma agenda pró-mercado da qual a França desesperadamente precisa.
 
Plus important, o candidato Macron não cedeu à bandeira fácil do dia — ‘fechem as fronteiras e tudo se resolverá, na economia e na sociedade civil’— e ganhou uma campanha em que concorriam nada menos que 11 candidatos.  O vencedor não ofendeu ninguém, não fulanizou, não desceu ao esgoto que se tornou a marca das campanhas contemporâneas.
 
Como a França, o Brasil é um País altamente polarizado, desesperado por reformas que destravem sua economia, e a campanha do ano que vem será eivada de discursos fáceis e candidatos cuja quantidade certamente será função inversa de sua qualidade.
 
Mas se o Brasil pode tirar alguma lição dos eventos na França, é que a solução pode, sim, vir da Política — e isso já é alguma coisa.
 
Os brasileiros têm todos os motivos para odiar os políticos.  Cada desdobramento da Lava Jato produz os recibos, as gravações, as provas cabais do escárnio, reforçando a convicção de que ninguém presta e aprofundando o instinto de querer dinamitar tudo para que possamos começar de novo.
 
A apropriação da máquina pública por boa parte da classe política — para financiamento de campanhas e/ou enriquecimento pessoal — gera a tentação de buscarmos alternativas em outros setores. Por que não um presidente-empresário?  Por que não um gestor eficiente (‘Falconi presidente!’)? 
 
Mas para o bem e para o mal, o Estado não é uma companhia, e o ‘contrato social’ não é um contrato de trabalho. A República é irremediavelmente a soma de três Poderes e, mesmo depois da Lava Jato, um ainda precisará convencer o outro, e todos terão que trabalhar juntos na agenda nacional. Não há como fingir que a Política inexiste só porque o sistema está corrompido até a raiz; há que salvar o que merece e pode ser salvado. Seria escapismo tentar substituir a ‘República Federativa do Brasil’ pelo Brasil SA que roda tão bem na planilha — mas apenas nela.
 
É essencial que os empresários participem mais da política, mas, quando a limpeza atual acabar, ainda precisaremos de um político que saiba inspirar as pessoas, articular uma visão de País, montar um time de excelência e negociar esta visão com o Congresso. Um homem (ou mulher) de propósito e humildade, com inteligência e sensibilidade para entender o momento histórico.
 
Os voluntariosos, os impulsivos e os autoritários serão candidatos midiáticos, e podem até ser vitoriosos, mas não serão presidentes eficazes.
 
Assim como os olhos do mundo hoje se voltam para a França — uma ilha de sanidade no oceano turbulento de populismo que atingiu o Reino Unido e os Estados Unidos — as atenções também se voltarão ao Brasil no ano que vem:  será que a maior economia da América Latina conseguirá apontar um novo rumo para a região, rompendo não apenas com a narrativa de venezuelização, mas com o próprio estatismo e a burocracia que têm impedido nosso progresso?  Estaremos prontos para uma mudança generacional na política, mas sem as aventuras colloristas do passado?
 
Em que pese a inspiração que vem da França, a perspectiva aqui não é nada encorajadora. O campo dos presidenciáveis hoje é populado, de um lado, por velhas ideias e, de outro, por um ‘novo absoluto’ que, sem conteúdo programático, usa a pele que convém à narrativa do dia.
 
As pessoas de bem tentam construir uma alternativa racional e promissora para o Brasil, mas ainda buscam seu Macron.
 
O candidato ainda não apareceu.