“Me parece um ótimo deal para a JBS. Não foi um mau negócio para a Minerva mas, dada a situação do JBS, dava para a Minerva ter negociado melhor”, diz um analista que acompanha o setor. A avaliação se reflete na Bovespa. No final da tarde, as ações da Minerva operam em alta de 5% enquanto a JBS sobe quase 10%.
“A JBS é corrupta, mas é extremamente eficiente e tem bons ativos”, diz o analista.
O negócio anunciado hoje é estratégico para a Minerva, que vai consolidar sua liderança de mercado no Paraguai e há tempos buscava uma porta de entrada na Argentina. Com a aquisição, o frigorífico vai aumentar sua capacidade de abate em 52%, para 26,4 mil cabeças/dia.
Para a JBS, a operação não faz cócegas: os ativos vendidos representam cerca de 15% da unidade JBS Mercosul, que concentra a operação de carne bovina no Brasil e nos países da região e faturou R$ 28,4 bilhões em 2016, comparado a uma receita total de R$ 170,4 bilhões.
O grosso do negócio vem da Argentina. A Minerva levou uma capacidade de abate de 5 mil cabeças/dia, distribuída em cinco plantas e um centro de distribuição.
Numa teleconferência com analistas hoje cedo, a direção da Minerva sinalizou que, com as sinergias esperadas com as operações que já possui no Paraguai e Uruguai, o valor da transação poderia cair para 3,5 a 4 vezes o EBITDA.
Desde que a delação dos Batista se tornou pública, a grande expectativa é pela venda dos ativos da holding J&F, que terá que pagar R$ 10,3 bilhões – e em 25 anos, sem juros, com uma correção camarada apenas pelo IPCA — no que certamente é um dos acordos de leniência mais abjetos da história.
A J&F deve tentar vender ainda a Vigor, fabricante de laticínios, a Eldorado Celulose e a Alpargatas, dona das Havaianas.
Apesar da multa concentrada na holding, a JBS quer fazer um colchão de liquidez para enfrentar a turbulência gerada pela delação de seus controladores.
Há preocupação com a queda nas receitas. Na defecção mais high profile até agora, a Domino’s Pizza disse que não vai mais comprar produtos da companhia.
O mercado também espera a venda de ativos mais líquidos, como a participação na americana Pilgrim’s Pride, ou da Moy Park, a operação de frango voltada para a Europa e comprada da Marfrig em 2015.
Não se descarta, inclusive, a venda dos negócios de carne bovina no Brasil. “Eles querem se listar nos Estados Unidos, mandaram os bens todos para lá, claramente estão preservando as operações de lá e, com exceção da Seara, não tem tanto apego aos ativos no Brasil. Não teria ninguém com bala na agulha para comprar tudo, mas dá pra fatiar”, pondera um analista.