BELO HORIZONTE — Não foi à toa que a BR-381, que liga esta capital a São Paulo, ganhou a trágica alcunha de “rodovia da morte”.

Parte do problema é que, todos os dias, uma média de 2.700 caminhões trafegam na região metropolitana e adjacências – carregando 1,3 milhão de toneladas/mês de minério das montanhas de Minas aos portos do País, e de lá para a China. (Como cada caminhão faz um trajeto de ida e volta, o dano é dobrado.)

Agora, um empresário que fez fortuna na mineração está colocando de pé um projeto ambicioso para aumentar a eficiência dessa logística – e tirar os caminhões da estrada. 

Lucas Kallas

Lucas Kallas – o fundador da Cedro Participações, que opera duas grandes minas na região de Nova Lima – pretende investir R$ 1 bilhão para construir uma mini-ferrovia que vai escoar a produção de cinco mineradoras do estado (Trafigura, Mineração Usiminas, ArcelorMittal, Minerita e Comisa), conectando essa carga direto nos trens da MRS, que depois leva o produto até o porto de Sepetiba, em Itaguaí. 

A ‘shortline’ – como esse tipo de ferrovia é chamada – vai percorrer 32,4 quilômetros e terá 132 vagões e 3 locomotivas.  O projeto já está nos trâmites finais para a autorização da ANTT, mas ainda precisa das licenças ambientais, o que deve ocorrer até o final de 2025.

A previsão é que as obras comecem em 2026 e que a ferrovia entre em operação no ano seguinte, com capacidade de transportar 25 milhões de toneladas/ano – ou 100% da produção de seus cinco clientes em 2026. (As minas da própria Cedro não se beneficiarão do projeto por estarem em outra região.)

O projeto – com a escala de um investimento estatal e cuja audácia lembra os empreendimentos de Eike Batista – é também o mais arrojado da trajetória de Kallas, um self-made man que começou na mineração há 10 anos e hoje disputa o quinto lugar no ranking das maiores mineradoras do País. 

“Quando eu falo desse projeto, o povo acha que eu sou louco, mas eu não estou pedindo dinheiro a ninguém,” Kallas disse ao Brazil Journal. “O Brasil não tem um projeto estruturante com recursos privados há anos. Todas as grandes ferrovias do País foram com dinheiro do Estado, depois passaram a concessão para a iniciativa privada.”

Kallas disse que fará o capex usando um misto de recursos próprios e uma debênture de infraestrutura, que será captada depois que ele obtiver as licenças ambientais. 

“Estamos falando de uma estrada altamente adensada e com grande problemas logísticos, horas de velocidade baixa, e um trecho sinuoso,” disse o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe. “A shortline tira as carretas dessa estrada, reduz o custo do embarque do minério e salva vidas com a queda do tráfego.”

Segundo ele, ainda não apareceram vozes para se opor ao projeto. “Se houver oposição vai ser um absurdo, mas no Brasil estamos acostumados a ver absurdos. Imagina a redução do CO2 ao tirar essas carretas da estrada!  Do ponto de vista ambiental é um gol extraordinário.”

Nos cálculos da Cedro, ao tirar os caminhões de minério da estrada, a shortline deve gerar uma redução de emissões de carbono de 40 mil toneladas/ano. 

A construção do shortline da Cedro foi facilitada pelo novo Marco Legal das Ferrovias, que incumbiu o Estado das desapropriações das terras adjacentes. (Antes, o investidor privado tinha que sair comprando as terras para viabilizar a construção.) 

A Cedro não é o único grupo nacional construindo uma shortline. A Eldorado Celulose – pivô da briga entre a J&F e a Paper Excellence, da Indonésia – pretende construir uma ferrovia de 80 km conectando sua fábrica de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, até a malha da Rumo, e de lá até Santos. 

Nos últimos anos, Kallas está usando os dividendos crescentes de sua mineradora para diversificar os negócios. Financiou a construção de três cancer centers da Oncoclínicas na modalidade ‘build-to-suit’, está investindo R$ 500 milhões numa fazenda no Norte de Minas voltada à exportação de café premium, e comprou 10% da Biomm, a fabricante de biomedicamentos fundada por seu amigo Walfrido Mares Guia.

Kallas também se tornou um grande cliente na Faria Lima, onde tem uma liquidez substancial investida em firmas como a Latache Capital e a Exa, a boutique do ex-XP Pedro Mesquita.

A Cedro deve faturar cerca de R$ 3 bilhões este ano, principalmente com a mineração, e tem reinvestido 85% de sua geração de caixa.

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