LAS VEGAS, Nevada – O futuro dos computadores será sem teclados e sem mouses. Tudo será na base da conversa entre ser humano e máquina.
A principal responsável por essa mudança? A inteligência artificial.
Luca Rossi, o presidente da divisão de Intelligent Devices Group (IDG) da Lenovo, disse aqui na CES – a feira anual da indústria de tecnologia – que a líder global em computadores e notebooks deu um all-in em IA: todos os seus principais lançamentos aqui na feira estão ligados de alguma forma à inteligência artificial.
“Estamos na infância da IA e todo eletrônico terá algo de IA dentro de si. E eu acredito que o PC com IA vai ter uma evolução mais rápida do que os smartphones tiveram nos últimos 15 anos,” Rossi disse ao Brazil Journal.
É com essa premissa que o executivo – que lidera a área responsável por 75% do faturamento e por todos os devices da companhia, incluindo a Motorola – acredita que a IA será responsável por um novo boom no mercado de computadores, que vem sofrendo uma retração pós-pandemia.
Durante a covid-19, grande parte dos consumidores e empresas decidiram trocar seus computadores por causa da necessidade do home office. As vendas explodiram. Mas logo veio a ressaca, e o setor de PCs sofreu fortes quedas em 2022 e 2023.
Agora, o cenário está começando a melhorar, ainda que lentamente. Segundo projeção da IDC, as vendas de 2024 devem subir 3% em relação ao ano anterior e alcançar 260 milhões de unidades – ainda bem distantes dos 348 milhões alcançados em 2021.
Rossi enxerga que os computadores com GPUs e IA integrada farão com que as pessoas desejem trocar seus computadores, resultando em um novo boom.
“A IA será uma espécie de superpoder: ela preparará toda a agenda da pessoa, desde programar um despertador, marcar um Uber e realizar tarefas repetitivas, como criar uma apresentação de PowerPoint,” disse ele. “Tudo isso sem precisar de comandos.”
Segundo ele, as pessoas vão querer esse nível de personalização – e isso só será possível com a popularização de computadores e smartphones com a tecnologia embarcada.
Trata-se de uma questão de segurança, na visão do executivo. Para ele, as pessoas terão receio de compartilhar informações pessoais por meio dos browsers de navegação – e o computador pessoal será uma fortaleza mais segura.
“E tudo será por voz. O teclado, querendo ou não, sempre trouxe uma limitação, pois ele sempre será um teclado.”
Para isso, a Lenovo aposta na evolução do LAM – Language Action Model. Ao contrário dos LLMs (Large Language Models), os LAMs serão capazes de ir além da conversa com o ser humano para, de fato, servi-lo.
Durante a CES, a Lenovo expôs algumas possibilidades. Entre os comandos no computador, a máquina já era capaz de fazer algumas ações, como comprar uma passagem aérea (inclusive colocando os dados do cartão de crédito) e tirar uma foto e estilizá-la sem que a pessoa precise apertar qualquer botão.
O processo, apesar de ainda lento e estar dando os primeiros passos, impressiona.
Vitaminada por esse tipo de inovação, a Lenovo prevê que a partir de 2027 80% dos computadores vendidos pela empresa serão “AI ready”, segundo Steven Long, o vice-presidente da área da IDG.
É uma estimativa até mais otimista que a do mercado. A consultoria Canalys aponta que o market share de PCs com IA vai chegar a 70% somente em 2028.
Para superar os números do mercado, Rossi sabe que a Lenovo tem que popularizar os computadores com IA, especialmente os modelos de entrada.
“Nossa missão será criar uma AI para todos. Evoluímos de uma empresa de PCs para uma companhia que está oferecendo uma solução completa em todo o mercado – de telas até a nuvem – e queremos fazer o mesmo com IA,” disse Rossi.
Por tudo isso, Rossi diz que a IA é um anabolizante para a Lenovo – mas os investidores ainda não estão enxergando tanto valor na aposta.
Mesmo com a disparada das empresas ligadas à inteligência artificial na Bolsa – em especial das Magnificent 7 – a ação da Lenovo patina. O papel cai 10% nos últimos 12 meses e a empresa vale US$ 15 bilhões na bolsa de Hong Kong.
Rossi disse que está em contato direto com analistas que acompanham a empresa e que eles estão entendendo e aprovando os passos dados pela Lenovo.
O executivo também não se preocupa com o atual momento de desglobalização – e pela Lenovo ser uma empresa chinesa, um dos principais alvos de Donald Trump.
“Estamos operando em 180 países, com fábricas espalhadas por diversos deles. Estamos empoderando os executivos locais para eles tomarem as melhores decisões para as subsidiárias,” disse.
No Brasil, a Lenovo vem ganhando espaço. Segundo Ricardo Bloj, o CEO da empresa no País, a marca vem ganhando 1 ponto percentual de share a cada ano desde 2013, quando a Lenovo comprou a CCE.
No Brasil, apesar de ser líder no segmento B2C há vários anos, a empresa nunca foi a primeira colocada no mercado B2B, dominado pela Dell. Mas segundo Bloj, a disputa agora está praticamente empatada.
Para se diferenciar do principal concorrente, a Lenovo vem apostando em serviços, que já representam cerca de 12% da receita tanto no Brasil quanto globalmente.
“Fazemos desde garantia estendida, suporte com engenheiros até device as a service. A ideia é entender todas as demandas do cliente para oferecer a melhor solução, e a IA também vai estar entre elas,” disse o executivo.