Republicado a pedidos

 

Pode comprar Brasil.  Pode vender dólar, ficar ‘dado’ no juro e comprar a Bolsa.

A democracia brasileira — com todas as suas imperfeições — foi uma construção coletiva que envolveu toda a sociedade: da Igreja aos sindicatos, dos trabalhadores aos empresários, e até os próprios militares, que buscaram uma transição digna depois da fadiga de material causada por 21 anos de Poder usurpado.

Uma nova aventura golpista não interessa às pessoas de responsabilidade no País. 

Não interessa aos donos do capital, porque tudo que esse assunto gera é volatilidade e desperdício de tempo, dinheiro e oportunidades.  

Não interessa aos políticos porque, em cenários assim, eles acabam ou num porão fedorento ou silenciados e castrados.  

Não interessa aos jovens brasileiros, que querem educação de qualidade e emprego — e estão construindo um País mais justo, aberto e humano, infinitamente melhor do que este que nossa geração está deixando.

E certamente não interessa aos militares, que sabem que estariam embarcando num Vietnã particular: herdando um país dramaticamente polarizado, com finanças em frangalhos e desafios que demandam construção coletiva.

Isso sem falar no inevitável isolamento internacional: a Casa Branca atual certamente não apoiaria um golpe de inspiração trumpista. Muito menos a União Europeia e a China, agredidas rotineiramente por Bolsonaro e seu círculo xiita.

A época em que o General Olímpio Mourão mudava o tabuleiro da Política colocando seus tanques na estrada de Juiz de Fora para o Rio é apenas uma referência histórica, um retrato antiquado numa era dominada pela internet e pela informação, em que milhões de pessoas são mobilizáveis em questão de minutos.

Na frase célebre de Marx, a história só se repete como farsa, mas esse teatrinho de agora — esse rato que ruge — sequer é farsa, é mais um meme de Whatsapp.

Bolsonaro criou uma realidade paralela e há muito tempo não governa. Apenas se envolve em paranoias e não-problemas, causando a suspeita generalizada de que seu comportamento transcende o campo da política e invade o da psiquiatria.

Ninguém mais aguenta o nível de atrito que o Presidente gera todos os dias.  Para ele, tudo é guerra. Trump também agia assim.  Os EUA se cansaram; o Brasil está esgotado.

Agora, esse papo de golpe é um diversionismo deletério que só ajuda a narrativa do próprio Bolsonaro, um homem que jamais deveria ter sido Presidente e agora se desespera diante da derrota iminente.

Esqueça os petistas e a esquerda.  Se Bolsonaro soubesse o que o empresariado diz dele privadamente, entenderia que não tem mais o apoio na economia que Paulo Guedes um dia representou.

Aliás, Bolsonaro foi eleito como o anti-Lula.  Mas agora, é o próprio 17 que pode trazer o 13 de volta, porque o petista só conseguirá vencer em 2022 contra Bolsonaro.  Qualquer outro candidato ganharia fácil no segundo turno.

É importante e saudável que as pessoas se manifestem contra a narrativa golpista, mas não convém atribuir a “um cabo e um soldado” poderes que eles simplesmente não têm.

O Brasil é muito maior, mais complexo e melhor do que o hospício em que se tranformou o Planalto.  

A sabedoria milenar ensina que cão que ladra não morde, e as sombras na caverna sempre parecem maiores do que realmente são.

É hora do País acender a luz e acordar do pesadelo.