Numa grave ameaça ao capitalismo de fachada brasileiro, o Ministro da Fazenda Guido Mantega avisou que o Governo vai tirar o pirulito que algumas grandes empresas chupavam desde 2008, quando a crise global deu ao Governo um pretexto para transferir dinheiro do Tesouro Nacional para bolsos já abastados.Guido Mantega

O projeto a ser desmontado — batizado de “Bolsa Empresário” pela oposição mas conhecido nos corredores do Poder como “Vem Cá Meu Rei” — obrigou o Tesouro a aportar 500 bilhões de reais nos últimos anos nos bancos públicos, o grosso disso no BNDES. O banco usa os recursos para empréstimos abaixo da Selic, aquela taxa de juros que rege a vida das pessoas comuns.

O total de empréstimos do Tesouro para os bancos públicos passou de singelos 14 bilhões de reais (ou 0,5% do PIB) no final de 2007 para orgiásticos 500 bilhões de reais (10% do PIB!) em setembro deste ano.

Calcula-se que o Bolsa Empresário custe à Viúva cerca de 35 bilhões de reais por ano. Oitenta por cento disso é prejuízo na veia, porque o Tesouro capta recursos a um juro maior do que receberá do BNDES. Mas calma que isso aqui não é a Renner nem a Marisa: o BNDES tem 40 anos para pagar…

É claro que a esquerda brasileira sabe que o País precisa de escolas e professores bem pagos, postos de saúde e creches, mas o PT sabe quais são suas prioridades.

Mas o dinheiro não foi jogado fora em vão — ele pagou uma lição sobre o que não funciona em economia.  O crescimento do PIB foi de zero em 2009 para 7,5% em 2010 — sabe quando a Ferrari acelera de zero para 100km/h em 8 segundos? — mas aí foi murchando pra 3%.. 1%.. 2%.. até chegar a zero esse ano, que foi o ponto de partida. Como dizia o professor de matemática: “Como queremos demonstrar.”  Ou, como diria um economista do Governo: “imagina se a gente não tivesse feito nada…”

Em retrospecto, analistas políticos dizem que o Bolsa Empresário foi uma forma de complementar o Bolsa Família e ajudar o projeto de poder do PT. “Eles sabiam que tinham que agradar aos muito ricos e aos muito pobres.. Queriam ficar 20 anos, e já conseguiram 16,” diz um analista com medo de se identificar porque trabalha no Santander.

Se colocado em pilhas de notas de R$100, o dinheiro do Bolsa Empresário percorreria uma distância igual ao perímetro do ego do ex-Presidente Lula.

O movimento de retirada da escada — o equivalente, nos EUA, ao Federal Reserve parar a recompra de títulos — vai ameaçar vários projetos “estratégicos” do Governo, como “O Boi é Nosso,” o “Telecom para Todos” e, claro, aquele programa que unificou os cadastros de vários outros que já existiam, o “Amigos do Rei.”Dilma Rousseff

Tim Maia já dizia: “No Brasil, puta se apaixona, traficante cheira e cafetão tem ciúme”. E governo “de esquerda” tira do público para ajudar o privado. Bom, pelo menos alguns privados.

Na manhã de hoje, quando saiu a notícia da redução do programa, um diálogo gravado sigilosamente por um dissidente da escola de economia da Unicamp capturou a revolta entre os acadêmicos que apóiam a Nova Matriz Econômica — aquela que diz que todos os problemas da economia são do lado da demanda.

Segue uma transcrição da gravação vazada a VEJA Mercados:

 

— Ainda bem que esse Mantega está demissionário.

— Esse cara está ameaçando a nossa matriz econômica, que custamos tanto a implantar.

— Imagina o Brasil com bancos públicos menores! Imagina se o balanço do BNDES voltasse ao que era.. tipo… no Governo FHC.

— Não! Isto não pode! Eu não vou aceitar! Eu vou denunciar este movimento como o que é: um crime de lesa-pátria!

— Senta aí, Conceição! Não precisa se exaltar.

— Mas o que ele disse exatamente?

— Está aqui na Reuters: Disse que o Governo vai reduzir o papel dos bancos públicos — BNDES, Banco do Brasil e Caixa….

— Leviano!

Enquanto isso, dava-se o seguinte diálogo entre o marketeiro da campanha de Dilma, João Santana, de férias em Paris, e um funcionário de seu escritório no Brasil:

— Chefe, já leu aí o que o Guido falou hoje? Aquela estória dos bancos públicos…

— Li sim, meu filho. Vi isso de loongee…. Cantei essa pedra lá atrás!  O povo sempre fica com medo quando a gente fala que vão vender estatal.. Não falei que era pra botar a culpa no outro?

— O senhor é mesmo um gênio.

— E o Partido, já pagou?

FRAGA-1

Nota de esclarecimento: os diálogos acima são obviamente tão fictícios quanto prováveis.