A Elliott Associates, gestora americana especializada em investir em empresas problemáticas, ganhou hoje uma queda de braço com a Vivendi pelo conselho de administração da Telecom Italia, num movimento que pode ter implicações para a sua controlada TIM Brasil e seu interesse na Oi.

No começo de 2017, antes de começar seu ativismo na Itália, a Elliott chegou a fazer uma proposta de aporte de R$ 9 bilhões pelo controle da tele brasileira. Sem acordo com os credores, a proposta não vingou. Agora, os americanos parecem querer retomar a agenda.

Na apresentação feita a investidores para angariar votos para sua chapa ao conselho da Telecom Italia, a Elliott deixou claro que a consolidação no Brasil é parte de seus planos. “Reter o controle do negócio de alta performance brasileiro”, disse na parte que se refere à TIM Brasil. “E possivelmente combinar com pares locais, fortalecendo sua presença internacional”.

Amos Genish, o CEO da Telecom Italia, disse ao Financial Times no mês passado que não aceitaria pressões para fundir a TIM com a Oi, um movimento que chamou de “precipitado”.  Apesar de ter sido indicado pela Vivendi, Amos também tem o apoio da Elliott e a expectativa é que permaneça no comando. Fundador da GVT e ex-presidente da Vivo, o israelense conhece como poucos o mercado brasileiro. 10063 1f496139 9490 0004 03b1 2a2e2e45bcfd

Mas alguns investidores apostam que a nova composição de forças no board da Telecom Italia pode mudar esse cenário. “A Elliott fez um processo de due diligence detalhado e conhece como poucos as vantagens competitivas e os problemas da Oi”, diz o gestor de um fundo que está comprado em Oi e aposta que a tele deve mudar de mãos ainda este ano. “É um ativo muito estratégico para ficar sem controlador por muito tempo”. 

Além da Telecom Italia, a China Telecom já manifestou interesse na Oi — e o interesse dos chineses é grande, já que a aquisição seria uma forma de criar mais mercado para os equipamentos ‘Made In China’. O bilionário egípcio Naguib Sawiris também já tentou fazer um aporte na companhia em um plano apresentado em conjunto com os bondholders, mas foi barrado pelo conselho.

A fusão entre TIM e Oi, aventada há anos, seria uma forma da italiana expandir sua rede no Brasil e competir com a Telefónica e a Claro, ambas com bolsos bem mais fundos. O problema é que a Oi demanda capital.

“O interesse da Elliott na Telecom Italia é a própria Itália, onde está acontecendo um amplo processo de turnaround“, diz uma fonte próxima aos credores da Oi, que estão perto de converter sua dívida em ações e, portanto, representam o que seria a ponta vendedora no negócio. “A Oi vai precisar de muito dinheiro e ainda tem muitos imbróglios regulatórios a serem resolvidos antes de ser alvo de compra”.

Em evento com investidores promovido hoje pelo Credit Suisse, o ministro das telecomunicações Gilberto Kassab sinalizou que um desses empecilhos está próximo de ser sanado. Kassab sinalizou que o Projeto de Lei 79, que altera a Lei Geral de Telecomunicações, deve ser encaminhado para votação nos próximos 60 dias.

A nova lei muda o regime das operadoras de concessão para autorização, o que, na prática, desobrigará as operadoras de investir na telefonia fixa (uma demanda obsoleta da legislação atual) em troca de implantar novas redes de banda larga no País.

“A Eletropaulo também era um ativo que ninguém queria, que tinha problemas, mas é estratégico. Veja o que aconteceu quando foi a mercado”, rebate o gestor que está comprado em Oi, apostando que a compra do controle sai ainda este ano.

Entre as boas notícias da Itália e São Paulo, as ações da Oi chegaram a subir 8% no pregão de hoje antes de fechar em alta de 4,5% com um volume 25% acima da média dos últimos 12 meses.

Em Milão, a vitória da Elliott significou mais uma derrota para Vincent Bolloré, o bilionário francês que tem 20% do capital da Vivendi — um império que se estende a transportes e logística — e uma postura beligerante nos negócios.

Num inferno astral, Bolloré está sob investigação da polícia francesa pelo suposto pagamento de propina aos presidentes do Togo e da Guiné, via sua agência de publicidade, para conseguir contratos de concessão nesse países.  (Quanto clichê…)

Na sua campanha pela renovação do board, a Elliott concentrou suas críticas nos problemas de governança. Os exemplos são abundantes: a Telecom Italia contratou a Havas, controlada pela Vivendi, para ser sua agência de publicidade e formou uma parceria multimilionária para comprar conteúdo com a Canal Plus, também dos franceses. Ambas as transações são investigadas pela Consob, a CVM italiana.

A batalha pelo conselho foi apertada. A Elliott emplacou sua chapa com 49,84% dos votos; a Vivendi ficou com 47,18%.  A abstenção de pouco mais de 2% dos presentes foi crucial para a vitória dos americanos, que terão 10 dos 15 assentos do board.

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