Depois de construir empresas e hipnotizar investidores, Amos Genish vai fazer os feudos de um império conversarem entre si. Ou pelo menos tentar.

A Vivendi — o conglomerado de mídia e telecom do bilionário francês Vincent Bolloré — acaba de anunciar Genish como seu ‘chief convergence officer’, um novo cargo a partir do qual Amos vai supervisionar “a convergência entre conteúdo, plataformas e distribuição.”
O movimento coloca o respeitado ex-CEO da Telefonica Brasil no alto escalão da empresa que controla a TIM Brasil, concorrente da Vivo. Amos ficará baseado em Paris e Londres.
A Vivendi — que Bolloré controla com 20,6% do capital — é uma coleção confusa de empresas com poucas sinergias entre si no estado atual.
Seus principais ativos são o Canal+, a maior operadora de TV a cabo da França, e a Universal Music, a maior gravadora do mundo, com 55 selos diferentes.
Outros ativos incluem a empresa de vídeo game Gameloft; o Dailymotion, um dos maiores sites de agregação de vídeo do mundo (como o YouTube); a StudioCanal, uma produtora e distribuidora de filmes; e uma participação de 28,8% (e crescente) na Mediaset, a operadora de TV a cabo italiana fundada por Silvio Berlusconi. A Mediaset colocou os dois bilionários em rota de colisão. Quando atingir 30%, a lei italiana obrigará a Vivendi a fazer uma oferta pública pela empresa. Berlusconi resiste.
Como se não bastasse tudo isso, a Vivendi é dona de 25% da Telecom Italia, uma participação que lhe garante o controle da empresa.
Bolloré e Amos, é claro, já se conhecem de outros carnavais.
Há oito anos, a Vivendi comprou a GVT e fez de Amos um bilionário. Em 2014, Bolloré revendeu a empresa para a Telefonica por US$ 9,3 bilhões — o pagamento incluiu dinheiro, 7,4% da Telefonica Brasil e 5,7% da Telecom Italia.
Amos e a Vivendi vão entrar na corrida da convergência pelo menos sete anos depois da integração entre conteúdo e distribuição começar nos EUA. Em 2010, a Comcast — então a maior companhia de cabo dos EUA — comprou 51% da NBC Universal da General Electric. (Em 2013, a GE vendeu o resto, e a Comcast passou a ser a única acionista.) Alguns anos antes, em 2004, a Comcast tentou uma oferta hostil pela Disney — US$54 bilhões pelo equity, e US$66 bilhões se incluída a dívida — mas não foi bem sucedida.
A AT&T está no meio de compra da Time Warner, outra transação que vai gerar verticalização entre conteúdo e plataforma — isso, se o Departamento de Justiça de Donald Trump não tiver outras ideias.
E, no início de dezembro, a Fox de Rupert Murdoch fez uma oferta para comprar os 60% da Sky que ainda não lhe pertencem.
Ontem, a Telefonica Brasil anunciou que Amos renunciou a seu assento no conselho. Ele também era membro do comitê de estratégia da empresa.
Geraldo Samor