Rubens Ometto Silveira Mello não aguenta mais a esquerda.

Um dos maiores empresários de infraestrutura do País, o controlador da Cosan sempre teve que lidar com o presidente da época:  de FHC a Dilma, passando por Lula.

Agora, Rubens acha que o País deve tentar um governo de ‘centro-direita’ para, finalmente, desencantar as reformas de que precisa para voltar a crescer.

10560 71c7f80c 8eb0 9f1b 3739 9289fe6880a5Nesta conversa com o Brazil Journal, Rubens declara seu voto em Jair Bolsonaro e diz que as reformas têm que ser feitas logo no primeiro ano, aproveitando a popularidade do Presidente eleito.

Além de ser o maior produtor de açúcar e etanol do País, o Grupo Cosan controla a Comgás, a Rumo e metade da Raízen, a joint venture com a Shell na distribuição de combustíveis.



Em quem você pretende votar no segundo turno?

Vou votar no Bolsonaro.  Não vejo como é possível elergermos a esquerda depois de tudo que esse País passou.  Depois do final do primeiro mandato do Lula, o Brasil foi andando devagarzinho pro brejo. Está na hora de dar uma chance ao outro lado.  O Einstein cunhou aquela famosa definição de ‘insanidade’, que é ‘fazer a mesma coisa todas as vezes e esperar resultados diferentes’.  É isso.  A esquerda teve sua chance: avançou em algumas áreas e errou demais em outras, na economia e na corrupção.  Vamos tentar um Governo de centro-direita e ver se ele rompe com as verdades estabelecidas do Brasil, o estatismo, a burocracia, a dificuldade de fazer negócios.

Qual deve ser a prioridade do próximo presidente?

A prioridade zero tem que ser a reforma da Previdência, sem a qual o País vai ficar insolvente no médio prazo.  Sem um Estado solvente, pode esquecer a saúde, a educação e a segurança. Não vai ter dinheiro.  Olhando a coisa do ponto de vista empresarial, óbvio que precisamos também da reforma tributária e de uma simplificação da burocracia.  Não preciso te falar sobre as dificuldades de se fazer negócios no Brasil.  É uma coisa surreal.  É um tiro no pé do País todo dia. Outro dia o Brazil Journal publicou um artigo do Daniel Goldberg falando sobre insegurança jurídica.  O Congresso tem que olhar isso também, junto com o próximo Presidente, até porque a infraestrutura é o que vai gerar emprego na veia nos próximos anos, é o que vai botar o Brasil pra trabalhar.

Metade do país rejeita o Bolsonaro; a outra metade rejeita o PT.  São duas ‘marcas’ que dividem o País. Você acha que, qualquer que seja o eleito, haverá ambiente político para fazer as reformas? 

Não tem outro jeito.  O País está quase ingovernável do ponto de vista do orçamento.  Tem que haver um esforço coletivo.  No primeiro turno, eu votei no Geraldo Alckmin.  Considero que ele tinha as melhores condições de fazer as reformas porque é um homem sério, experiente, e saberia costurar as alianças que o próximo Presidente vai precisar ter no Congresso.  Agora, os tucanos estão sempre em cima do muro, não se entendem entre eles e precisam se reinventar.  É triste, mas é verdade.

Agora, eu vejo aí muitos artistas, intelectuais e parte da imprensa batendo no Bolsonaro.  Entendo que ele já falou muita coisa que ofendeu muita gente, mas me pergunto se eles também não estão cansados do sistema que temos hoje. Parte desses caras se acha muito inteligente, acha bacana ser de esquerda, acha que isso mostra algum tipo de superioridade, mas tocar um País é outra coisa.

Mas Bolsonaro ou Haddad conseguirão fazer as reformas?

Vou falar sobre o Bolsonaro.  Por tudo que tenho ouvido, há um núcleo no Congresso disposto a apoiá-lo, de mais de 200 deputados.  Isso é um ótimo começo, mas vai precisar ir além disso, e aí eu espero que ele tenha — e acho que vai ter — a capacidade de dialogar com o Congresso, de ouvir e tentar sintetizar as reformas que o Estado precisa e que a sociedade aceita.  É muito difícil, vai ser barulhento, mas tem que ser feito, e tem que ser feito nos primeiros doze meses…

Não te incomoda que saibamos tão pouco sobre os planos dele para a economia?  O fato dele ter ficado fora da campanha tanto tempo (depois da facada) prejudicou: só sabemos que o Paulo Guedes é o homem de referência, mas ele já foi desautorizado no primeiro turno.  Aliás, o senhor é dono de metade da Raizen.  Vai votar no posto Ipiranga? (risos)

Pra você ver o que eu faço pelo Brasil; o combustível da Shell é muito melhor. (risos)  Agora, falando sério:  eu espero que esse ‘casamento heterossexual’ que o Bolsonaro brinca ter com o Paulo Guedes perdure quatro anos. Essa aliança da ordem com o progresso, como diz o Paulo.  Ele mesmo [Bolsonaro] diz não entender de economia.  Isso é um ato de humildade louvável, e é por isso que ele deve mesmo escutar os especialistas. Mas mesmo que o Paulo Guedes saia, tem muita gente boa trabalhando com o Bolsonaro e muita gente que ainda não está lá mas poderia contribuir com o País.  Qualquer que seja o eleito, a sociedade tem que ajudar o próximo Governo, porque se ele não der certo, nós vamos continuar afundando.

Qual deve ser o papel dos empresários nos próximos anos?

Temos que conversar mais sobre política e ter mais interlocução com Brasilia.  No Governo Dilma, muita gente falava, mas ela se recusava a ouvir.  Deu no que deu. O empresariado tem um senso prático, ele não é um ser ideológico.  Ele quer o melhor para o País, porque um País com economia forte é um país de consumidores fortes, é um país com cidadania, no sentido mais amplo da palavra.  Isso é um ponto importante:  temos que continuar educando as pessoas sobre o que é ser empresário.  A imagem do aproveitador, do sujeito ganancioso que a esquerda sempre associou a quem empreende já fez mal demais ao País.  Marx escreveu que “a história da sociedade é a história da luta de classes”.  Temos que mostrar que a história das sociedades que funcionam é outra:  é a história do alinhamento de interesses.  Onde a empresa vai bem, ela gera empregos e pode pagar mais.  Onde a empresa vai mal, você tem a Venezuela.

Mas como o empresariado deve interagir com o governo?

Falando, conversando, dando sugestões e fazendo a crítica construtiva.  Nunca me furtei a isso, e acho que cada vez mais há empresários conscientes de que não podemos deixar Brasília no vácuo.