Com 92% de seus pontos de venda localizados em shoppings, a Renner foi a primeira grande rede de varejo a fechar suas mais de 500 lojas no Brasil e no Uruguai, em muitos casos antecipando-se a decisões do Poder Público.

10938 0976aab1 a0bd 566e 55f1 80165db24469O CEO da empresa, Fabio Faccio, relatou ao Brazil Journal essa difícil tomada de decisão e o impacto que a paralisação (ainda por tempo indeterminado) pode ter nos negócios e em seus 24 mil funcionários. 

“Os decretos [de fechamento do varejo] começaram no Rio e Uruguai. No Rio, o Estado fez um decreto orientando o fechamento de todo o varejo, com exceção de supermercados e farmácias. Os shoppings fecharam na sequência. A gente fechou junto com os shoppings e mesmo alguns que demoraram mais pra fechar, a gente fechou antes. E fechamos todas as nossas lojas de rua também. No mesmo momento, o governo do Uruguai também tomou essa decisão, e fechamos nossas operações por lá. 

Na sequência, começamos a discutir outras operações que entendemos ser de risco, como a Grande São Paulo. No dia 18 de manhã, decidimos fechar todas as nossas lojas em São Paulo e começamos a tomar as medidas para fechar no dia seguinte. No final da tarde, o Dória decretou que os shoppings teriam que fechar até o dia 22, mas já fechamos tudo no dia 19. E começamos a discutir se deveríamos fechar o Brasil inteiro também. Víamos o fluxo de consumidores caindo em todo o Brasil, a demanda por itens não essenciais despencando, e o vírus se disseminando cada vez. 

Achamos melhor fechar todas as lojas antes de esperar que cada cidade fizesse seu próprio decreto. Entendemos que mesmo dois, três, quatro dias podiam fazer uma diferença grande e que quanto antes fechássemos as lojas melhor para o País.

Ainda não estamos estimando qual vai ser a perda de receita, mas com certeza vai ser um impacto bem grande. Por outro lado, vamos ter um impacto também grande na redução das despesas. Temos uma parte muito grande de despesas que são variáveis e que vão cair com o fechamento das lojas. 

Os custos fixos continuam, mas estamos tentando reduzir também. E a maioria dos custos variáveis param. A energia elétrica, por exemplo, com as lojas fechadas deixa de existir. É muito cedo para falar quanto vamos reduzir de cada linha as principais são pessoal, aluguel e energia mas estamos discutindo todas. Aluguel estamos na discussão com os shoppings e provavelmente vai reduzir bastante. Na despesas com pessoal, também estamos em discussão com os sindicatos.


Temos 92% das nossas lojas em shoppings (incluindo Camicado e Youcom) e desde o início estamos conversando com os shoppings sobre a questão do aluguel. Já temos recebido algumas propostas conjuntas para compor soluções que funcionem para ambos os lados. Boas soluções não existem neste momento, porque todo mundo vai ter impacto nos resultados no curto prazo, mas estamos tentando preservar o negócio e ver o que é correto para todos nesse momento. Temos sentido uma boa abertura para negociações equilibradas dos dois lados. Todas as empresas estão unidas neste momento para chegarmos no acordo que seja o melhor possível para todos. É uma coisa completamente nova, ninguém nunca passou por isso. É difícil saber o que vai acontecer. 

Na parte do pessoal, estamos focados na preservação de emprego. Pretendemos não fazer demissões, e estamos usando várias ferramentas para cada caso, como compensação de jornada, banco de horas, férias individuais e coletivas. Estamos usando todas as ferramentas de preservação de emprego. Tenho visto discussões sobre decisões governamentais nesse sentido também, e estamos acompanhando.

Além disso, estamos reavaliando todos os nossos investimentos com foco em preservação de caixa. Tínhamos dado um guidance de R$ 910 milhões de capex (investimento) para este ano. Nesse momento, todos os nossos investimentos estão suspensos e todas as novas despesas estão suspensas. Estamos avaliando todas. Não temos ainda um novo guidance, mas com certeza estamos tomando todas as ações para preservar nosso caixa. 

Dos investimentos estamos discutindo o que podemos postergar. Pelas posições que temos e nossas estimativas não seria tão necessário, mas queremos ser o mais prudentes possível. Nossos maiores investimentos para este ano são novas lojas, o novo centro de distribuição no interior de São Paulo, e novas tecnologias e transformação digital. Todos esses investimentos conseguimos postergar ou realocar

Temos um caixa bastante sólido hoje. Nossa alavancagem está em torno de 0,3 vez. Tomamos mais um pouco de dinheiro com os bancos. Já tínhamos uma posição confortável de caixa e ficamos mais confortáveis ainda. Além disso, nos próximos 3 meses não temos nenhum grande vencimento de dívidas.  

Estamos numa situação segura e bem sólida para atravessar esse período. Não temos ideia de quantos dias ou semanas vão ser, e qual vai ser a dimensão de tudo isso, mas estamos nos preparando para o pior cenário, esperando que aconteça o melhor.