A Light precificou ontem à noite sua oferta a R$ 18,75 por ação, um desconto de 6,4% em relação aos R$ 20,05 do fechamento do papel ontem.

Quando tudo terminou, a companhia havia levantado R$ 1,875 bilhão na oferta primária, e a Cemig, R$ 625 milhões na secundária — incluindo o hot issue — not a bad deal para um papel que negociava a R$ 19,10 quando a oferta foi anunciada e para uma empresa que precisava do mercado para se desalavancar.

A precificação foi como naquelas dunas do Nordeste: com emoção.

Estava tudo fechado a R$18,50 com um book de muita qualidade quando a Cemig bateu o pé.  Queria passar a régua nos R$18,75. 

Pelo horário, já não era mais possível falar com investidores europeus e alguns americanos, mas — corta ali, espreme ali — o book ainda contava com institucionais fortes, particularmente fundos ‘long only’ dedicados que devem dar estabilidade ao free float.
 
Cerca de 60% da oferta ficou com investidores locais, e o saldo na mão de internacionais.  Depois da oferta, a Cemig passa a ter cerca de 23% da companhia, efetivamente transformando a Light numa corporação de capital pulverizado.
 
Agora, a Light está pronta para tocar sua vida operacional com uma alavancagem que deve cair para menos de 3 vezes sua geração de caixa já no final de 2019 e mais ainda até o final de 2020, considerando-se o liability managenent [gestão das dívidas] que a empresa deve fazer pós-oferta e o próprio aumento da geração de caixa que deve vir do turnaround operacional.

No fim de março, a alavancagem da Light era de 3,7 vezes sua geração de caixa anual — raspando no limite de 3,75x previsto nos contratos de dívida.

 
Neste momento, a história da Light tem dois vetores poderosos: a desalavancagem de seu balanço — num momento favorável, de muita liquidez no mercado interno — e a redução das perdas.
 
Este trabalho começou há anos, quando o recém-nomeado diretor comercial, Dalmer Alves de Souza, ainda era o superintendente que cuidava da melhoria de qualidade. Em 2016, Dalmer foi promovido a diretor de engenharia e, há poucas semanas, a CEO Ana Marta Veloso — que assumiu a companhia no início de maio — fez dele o diretor comercial.
 
No final de 2013, a Light tinha um DEC de 19,5 horas.  O indicador — que mede o número de horas médias por ano que cada cliente fica sem luz num ano — caiu para menos de 8 horas no final de 2018.
 
Mas ainda há muito a ser feito. Por exemplo, dos 4 milhões de consumidores da Light, cerca 25% ainda têm medidores de luz de mais de 30 anos que subestimam o consumo.  A mera substituição desses reloginhos deve gerar um aumento do faturamento, sem nenhum aumento de custo operacional.
 
Os bancos coordenadores foram Itaú BBA, Citi, Santander, XP, BTG Pactual, Bradesco BBI e BB Investimentos.