Tutinha adora um barraco. 

Desde que sucedeu o pai no comando da Jovem Pan, há cinco anos, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho transformou os estúdios da rádio na avenida Paulista no ringue de um boxe ideológico, repleto de cruzados sangrentos e nocautes memoráveis. 

10791 1d240551 03cd e9d7 70bf 0c87f0225829Empregando um exército de comentaristas de opiniões controversas e tendo os governos do PT como saco de pancada, a rádio ganhou voz como formadora de opinião e hoje é líder em audiência no país no horário nobre da manhã, com mais de 200 mil ouvintes por minuto. 

“Jornalismo é commodity. O que viraliza e gera audiência é opinião,” o dono da Pan disse ao Brazil Journal. “E a gente adora um pauzinho, gente se pegando de porrada.”
 
Como negócio, a Pan começou a mudar quando Tutinha instalou câmeras nos estúdios, passando a transmitir todos os programas no Youtube. Alguns, como o Pânico, já eram exibidos na internet desde 2002, por iniciativa de seu pai, o Tuta.

Pelos microfones da Pan já passaram (ou ainda estão) nomes como Reinaldo Azevedo, Marco Antonio Villa, Joice Hasselmann, Rodrigo Constantino e Augusto Nunes — que permitiram à rádio surfar na onda conservadora do Youtube.  Hoje, a Pan alcança uma audiência agregada de cerca de 18 milhões de visitantes únicos/mês. 

Os números são importantes, mas na hora de monetizar a audiência, quem ganha mesmo são as plataformas — e isso incomoda Tutinha.

“Tem que virar a chave. Tem um cofre gigante e a chave está com a gente,” diz o empresário ao explicar sua estratégia digital.

Para virar o jogo, Tutinha está implementando uma estratégia digital que vai mostrar ao mercado anunciante que a Pan não é apenas uma rádio, e sim um publicador de conteúdo multiplataforma. 

Mês que vem, a empresa deve lançar o Panflix, um app para celular e smart TVs que vai agregar todo o conteúdo produzido nos estúdios da casa. O investimento é de R$ 30 milhões – em equipamentos e novos conteúdos. 

O Panflix terá uma programação exclusiva para a internet. A grade inclui uma dezena de atrações novas, como um programa de entrevistas inspirado no Roda Viva da TV Cultura, e um podcast histórico explorando os arquivos de áudio da rádio desde os anos 50. 

Estão previstos ainda mesas redondas esportivas, programas de culinária, turismo e uma repaginação do Pânico. O app também vai agregar um conteúdo de e-sports, com transmissões de campeonatos da BBL, empresa de games do grupo, e também o conteúdo de 90 emissoras regionais da Jovem Pan.

Nem todo conteúdo será próprio. Em um modelo de revenue share, Tutinha vai trazer para casa o portal de notícias de negócios Neofeed, recém lançado pelos jornalistas Carlos Sambrana e Ralphe Manzoni. 

A estratégia envolve um grande reforço na área comercial, que passará a ter profissionais especializados em BI e mídia programática. O novo time é liderado por Guilherme Lima, que passou 10 anos na Microsoft e nos últimos 9 meses foi gerente comercial na Globo. 

Lima está animado e diz que a audiência combinada dos vídeos da Pan no Youtube é “maior do que dos vídeos da Globo no digital”.

Para Tutinha, o problema da Pan é que até agora ela submonetizava seu conteúdo.  “Nunca focamos no digital, em mídia programática, nunca vendemos um anúncio no site,” diz.  Para efeito de comparação, enquanto a Pan hoje tem de 50 a 55 anunciantes por mês, ela agora vai mirar nas 700 maiores empresas do Brasil que investem em publicidade.

Hoje, quando você vê um anúncio antes ou durante um vídeo da Pan no YouTube, a plataforma está ficando com toda a receita publicitária.  Mas agora, a Pan fez uma parceira comercial com o YouTube, e partir de novembro a maior parte da receita ficará com ela.

Tutinha acha que as novas iniciativas vão dobrar o faturamento da Jovem Pan em seis meses.  O grupo Jovem Pan, que inclui outros negócios de games e audiovisual, fatura R$ 300 milhões; a fatia da rádio nesse bolo é de R$ 90 milhões.

Embora a inspiração seja a Netflix, o Panflix não é um serviço de streaming. Todo o conteúdo ficará hospedado no Youtube. Tutinha acredita que o volume de conteúdo ainda não é suficiente para atrair assinantes. 

As pancadas contra “a corrupção do PT” trouxeram audiência, mas também pesaram no caixa. “Perdi R$ 30 milhões em dois anos. Foi o preço que paguei para ter independência,” diz Tutinha, para logo depois afirmar que em cinco anos fez o caixa da Jovem Pan aumentar “20 vezes”. 

Tutinha se guia pelo feeling — e tem o termômetro da audiência. “Meu público quer que o Brasil dê certo. Se uma hora eles não quiserem mais o Bolsonaro, estarei do lado do ouvinte.”

A rádio ganhou fama de bolsonarista, mas Tutinha diz que seu partido é o Brasil. “Não sou chapa branca. Quero que o Brasil dê certo. Faço campanha pela reforma da Previdência.”

Nos últimos dias, o Brazil Journal acompanhou a programação da rádio e não faltaram críticas a Bolsonaro.

 
“Bolsonaro é uma pessoa que dá margem a tomar pau. O filho tirou foto no hospital com uma pistola, porra. Dá margem a porrada, o que eu vou fazer? Mas quero que o governo dê certo. É o que temos. Os ministros são bons, os melhores que já tivemos. Mas isso não impede da gente falar mal. Fazemos sempre um contraponto, com pessoas que defendem e outros mais críticos. O ouvinte que tire a conclusão.”