Quando foi fundada em 1987 a Granja Mantiqueira tinha apenas 30 mil galinhas. 

Mas de lá para cá, a empresa do mineiro Leandro Pinto e do carioca Carlos Cunha se transformou num verdadeiro império dos ovos  e quase num sinônimo da categoria. 

Hoje, suas 11,5 milhões de galinhas produzem mais de 2 bilhões de ovos por ano (6 milhões por dia), fazendo dela a maior produtora do alimento na América Latina. 

Mas em vez de descansar com sua hegemonia, a granja está atenta à revolução dos alimentos que já pariu fenômenos como a Beyond Meat nos EUA e a Fazenda Futuro no Brasil. A estratégia da empresa: criar um braço de foodtech para se manter à frente do mercado e inventar um ovo… diferente. 

Trata-se do N.Ovo, um substituto vegetal feito com proteína de ervilha isolada, amido e linhaça dourada.10764 3c0e04d2 99fc 80a6 3c6a 4940fa9dc9d4

Por trás do projeto está Amanda Pinto, filha do fundador e diretora de marketing da Mantiqueira, que passou dois anos visitando startups no Vale do Silício, estudando o mercado e desenvolvendo a fórmula do N.Ovo.

O produto acaba de chegar às gôndolas dos supermercados: em menos de um mês, já está em 700 pontos de vendas de seis estados, a maior parte em São Paulo e no Rio. Até o fim do ano, espera chegar a mais de 2 mil.  

Amanda explica que a ervilha usada no N.Ovo passa por um procedimento complexo, feito em laboratório, que isola a proteína dos demais nutrientes. “Conseguimos chegar numa concentração proteica de até 80%,  o que garante que a fórmula funcione e tenha a aplicação que precisamos,” ela disse ao Brazil Journal. 

A embalagem do N.Ovo é igual à dos “ovos-raiz”, mas ele não tem a forma de um ovo. Na realidade, o produto é um pó que, quando misturado com água, pode substituir os ovos comuns em todo tipo de receita, como bolos, pães e massas. 

O N.Ovo não pode ser usado  por enquanto  para fazer um ovo mexido ou omelete. (Esta versão está vindo a mercado nos próximos meses.) 

Um pacote do N.Ovo equivale a 12 ovos tradicionais e custa R$ 19,90  apenas um pouco acima do preço de uma linha de ovos premium.

“O ovo é um alimento muito completo e que serve para muitas coisas. Conseguir fazer um único produto que substitua tudo que ele faz é muito difícil,” diz Amanda. “Nossa ideia é ter uma linha de produtos, com várias opções que sirvam, cada uma delas, para funções específicas do ovo.”

Hoje, o N.Ovo está incubado dentro da Mantiqueira, mas a ideia é fazer um spinoff para a operação ter vida própria e um management independente, provavelmente com Amanda no comando. “O N.Ovo precisa ter a velocidade de um jet-ski,” diz Leandro, o fundador da Mantiqueira. “Não dá pra deixar ele preso dentro de um transatlântico.”

Ainda assim, a ideia é que o N.Ovo aproveite a força logística e a estrutura da Mantiqueira; enquanto a empresa-mãe deve se beneficiar do buzz em torno da novidade, que tende a dar visibilidade aos outros produtos da marca. 

O potencial do N.Ovo é de dar água na boca: um estudo da Lux Research estima que em 2054 as proteínas alternativas terão um market share de 33% do mercado global. No Brasil, onde o N.Ovo está criando uma nova categoria do zero, 14% dos brasileiros (ou 29 milhões de pessoas) já se dizem vegetarianos, das quais 5 milhões afirmam que são veganos (não comem nenhum alimento ou usam qualquer produto derivado de animais).

O mercado de produtos veganos cresce 40% ao ano no Brasil  curiosamente, boa parte da demanda vem de pessoas não veganas, que associam o veganismo com saudabilidade ou que decidem fazer uma opção mais sustentável de consumo ocasionalmente.   

Novidade no Brasil, os ovos à base de plantas já são uma realidade há algum tempo nos Estados Unidos. 

A Just  uma startup de São Francisco que produz diversos produtos veganos  lançou em 2018 o “Just Egg”, um plant-based egg que já é vendido em diversas varejistas do país e que acaba de entrar na cadeia de cafeterias Tim Hortons. 

O lançamento do N.Ovo vem na esteira de um rebranding da marca Mantiqueira, também feito por Amanda.  Desde que voltou de Berkeley há quatro anos  onde fez uma pós em marketing  ela vem redesenhando a estratégia de comunicação, criando um portfólio de marcas voltadas a diferentes perfis de público e tirando a imagem de que o ovo é apenas uma commodity

Já há, por exemplo, o ovo orgânico, feito com galinhas que só se alimentam com grãos orgânicos; os happy eggs, colocados por galinhas livres de gaiolas; o gourmet, que tem uma gema mais forte e é usado na gastronomia; e o jumbo, que é maior que os ovos tradicionais  e feito por galinhas corajosas.