A Fazenda Futuro — a foodtech brasileira que produz um hambúrguer à base de plantas que simula o gosto e a textura da carne — acaba de ser avaliada em US$ 100 milhões numa rodada liderada pela Monashees.
Esta é a primeira captação da startup desde que foi fundada há apenas três meses por Marcos Leta e Alfredo Strechinsky, os mesmos empreendedores que criaram e venderam a marca de sucos Do Bem para a Ambev há três anos.
A rodada Series A, de US$ 8,5 milhões, teve ainda a participação da Go4it Capital, a gestora de Marc Lemann e Cesar Villares.
Com os novos recursos, a Fazenda Futuro quer acelerar sua expansão nacional e aumentar a capacidade de sua fábrica em Volta Redonda, que hoje produz 150 toneladas por mês. Com seu Futuro Burger encontrando uma demanda bem acima do previsto, os fundadores agora vão aumentar a produção para 550 toneladas/mês e ampliar o portfólio de produtos.
A captação cobre as necessidades de caixa da empresa por 18 meses, Leta disse ao Brazil Journal.
A carne à base de plantas é um substituto da proteína animal que simula o gosto, a textura e a cor das carnes tradicionais usando apenas ingredientes vegetais. Quando cortadas, as carnes da Fazenda Futuro chegam a “sangrar” como as de verdade.
O Futuro Burger é feito com proteína de ervilha, proteína isolada de soja e grão de bico — além da beterraba, que é usada para simular o sangue.
(Este repórter provou o Futuro Burger e a primeira mordida é realmente de deixar o queixo caído: o gosto é muito parecido com o das carnes tradicionais).
Hoje, o hambúrguer está em quase dois mil pontos de venda em cinco estados e já pode ser encontrado na seção de carnes do Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart, por exemplo.
Leta e Strechinsky passaram dois anos desenvolvendo a fórmula do Futuro: viajaram pelos Estados Unidos e Europa para estudar todas as tecnologias e produtos que já existiam no mercado e contrataram uma equipe de engenheiros de alimentos para chegar no que eles chamam de Futuro Burger 1.0.
“Usamos inteligência artificial para estudar as moléculas que compõem a carne e fizemos diversos testes sensoriais para calibrar a quantidade ideal de cada ingrediente. Antes da versão 1.0 criamos nove versões diferentes,” disse Leta. “Nossa ideia é ir atualizando constantemente o produto, como um software.”
Em setembro, a Fazenda Futuro lançará a versão 2.0 do hambúrguer, baseada no feedback dos primeiros consumidores.
O plano é ambicioso: a Fazenda quer atacar o mercado dos grandes frigoríficos nacionais — que ela descreve como seus grandes concorrentes — e não focar apenas nos veganos e vegetarianos, o que pode acender um sinal de alerta para os investidores do setor de proteína tradicional.
“Queremos chegar num nível de sofisticação em que as pessoas não vão mais conseguir identificar o que é uma carne feita à base de plantas e o que é uma carne normal,” diz o fundador.
A tese tem se provado.
Segundo Leta, em algumas redes de supermercado, mais de 70% das vendas do Futuro Burger foram para consumidores de carne.
Por enquanto, o grande inibidor são os preços. Os hambúrgueres da Fazenda ainda custam sensivelmente mais que o hambúrguer-raiz. Para atingir uma escala que tornaria os preços equivalentes ou até menores, a empresa precisará produzir 1,2 mil toneladas por mês.
A Fazenda também está se preparando para levar ao mercado um novo produto: uma carne moída à base de plantas, que será lançada em parceria com o Spoleto. O produto será vendido nas mais de 500 lojas da rede, servido com seu tradicional molho à bolonhesa.
Outro plano: desenvolver outras texturas de carnes, como as de frango e peixe.
No Brasil, a Fazenda Futuro está criando uma nova categoria do zero. Mas em países como os Estados Unidos as carnes à base de plantas já estão virando mainstream, impulsionadas por startups como a Beyond Meat — que fez o IPO em maio e já vale US$ 10 bilhões na Nasdaq — e a Impossible Foods.
Recentemente, o Burger King incluiu o Impossible Burger em seu cardápio e as vendas decolaram.
“A produção de carne demanda muitos recursos: terras, água… Com o aumento do consumo per capita de bovino e o crescimento da população mundial vai chegar um momento em que vai faltar espaço para a produção,” diz Leta. “Simplesmente não vai ter terra para produzir boi pra todo mundo.”
ARQUIVO BJ:
Redes de fast-food já salivam com as carnes veganas