Fernão Bracher, o fundador do BBA e um dos maiores banqueiros brasileiros, morreu nesta segunda-feira por complicações decorrentes de uma queda. Ele tinha 83 anos.

Ex-presidente do Banco Central no governo Sarney, Fernão também foi vice-presidente do Bradesco, antes de fundar o BBA, em 1988.

O banco foi vendido ao Itaú em 2002 por R$ 3,3 bilhões e se tornou o banco de investimento da casa dos Villela e Setúbal.

No início do ano, Bracher caiu quando passava um final de semana na Fazenda do Pinhal – propriedade no interior de São Paulo onde passou a infância e que havia recomprado e restaurado.

Ele era pai do CEO do Itaú, Candido Bracher.

O chairman do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse que o Brasil perdeu “um homem de negócios à frente do seu tempo. Seu exemplo de lucidez e coragem de enfrentar os problemas de frente deixa uma lacuna que não será preenchida.”

Fernão Bracher orgulhava-se da origem germânica que se manifestava em pequenas coisas, como sua obsessão com horários.

Vivia rodeado de amigos, filhos, netos e amigos dos netos que recebia na fazenda Sant’Ana do Monte Alegre, em Descalvado, interior de São Paulo. O almoço, pontualmente às 14h30, era precedido por três badaladas de sino, quando todos deveriam estar à mesa.

Os amigos o lembram como um homem de delicadeza e gentileza ímpares, que genuinamente se interessava pela opinião de terceiros – fosse o interlocutor um jovem adolescente ou um grande PhD.

Fernão Carlos Botelho Bracher nasceu em São Paulo em 3 de abril de 1935, filho de Eduardo Bracher e de Zila Botelho Bracher.

Formou-se em direito no Largo de São Francisco e partiu para uma temporada de dois anos nas universidades de Heidelberg e Freiburg, na Alemanha, onde aperfeiçoou o alemão e teve o primeiro filho, Candido, com Sônia, que viria a ser psicanalista, e com quem compartilhou toda a sua vida, até ela falecer há quatro anos.

De volta ao Brasil, juntou-se à banca do Pinheiro Neto, mas foi logo atraído pelo setor público. Depois de uma breve passagem pelo Banco da Bahia, mudou-se para Brasília em 1974 para atuar como diretor da área externa do Banco Central. Em cinco anos no cargo, contribuiu para estruturar o mercado de câmbio no Brasil.

Depois de alguns anos como vice-presidente do Atlântica-Boavista de Seguros e do Bradesco, aceitou o convite de Dilson Funaro, ministro da Fazenda de José Sarney, para assumir a presidência do BC em 1985.

Assumiu com um discurso em defesa da austeridade fiscal e montou uma das melhores equipes que já passou pelo banco, com Pérsio Arida, André Lara Resende, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Carlos Thadeu Freitas Gomes. Liquidou três bancos – Comind, Auxiliar e Maisonnave – que, em graves dificuldades, sobreviviam à custa de linhas de crédito público.

Mas enquanto o BC rezava pela cartilha da austeridade fiscal e do tripé macroeconômico, a Fazenda preparava a moratória da dívida. Desconfiado dos rumos da política econômica, pediu demissão em janeiro de 1987, deixando o BC no mês seguinte.

Aquela não seria sua última passagem pelo setor público. Voltou dois meses depois como assessor especial do novo ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser Pereira, com a missão de negociar a dívida externa com os bancos internacionais.

Em 1988, finca definitivamente o pé no setor privado, ao abrir, em sociedade com Antonio Beltran Martinez e com o banco austríaco Creditanstalt, o banco de investimentos BBA, que em poucos anos se tornaria uma referência entre os bancos de atacado do Brasil.

Em 2002, o Itaú comprou 95,5% do capital por R$ 3,3 bilhões. Bracher seguiu no comando do banco até 2005, quando passou o bastão para o filho Candido, hoje CEO do Itaú.

Fora do banco, passou a se dedicar à filantropia, em especial em temas ligados à educação pública. Além de buscar influenciar políticas para melhorar o ensino público, como a reforma do ensino médio, por meio de entidades como Todos pela Educação, presidia o Instituto Acaia, que oferece educação infantil e fundamental em período integral para crianças das comunidades no entorno do Ceasa, em São Paulo, e também no Pantanal, além de oficinas técnicas e cursinho para estudantes de baixa renda ingressarem em universidades públicas.

Na fazenda Sant’Ana do Monte Alegre, onde passava os finais de semana, montou um grande programa de reflorestamento de matas nativas e de reintrodução na natureza de aves capturadas pelo Ibama.

Fazia também parte do conselho do Museu do Ipiranga e se preparava para lançar, em sociedade com a filha Beatriz, a editora Chão, focada no resgate da produção literária na forma de diários, cartas, depoimentos e memórias do século 17 ao início do século 20.

 

Bracher deixa os filhos Candido, Beatriz, Eduardo, Elisa e Carlos, além de 15 netos e três bisnetos.