Marcel Telles vai deixar o conselho da Kraft Heinz quando seu mandato expirar em abril, a companhia disse à SEC.
 
Segundo o documento, a partida se deve a “limitações de tempo causadas por outros compromissos” e “não é o resultado de qualquer discordância com o management ou o conselho da empresa.”
 
O afastamento de Marcel acontecerá um ano depois de Warren Buffett — que controla a Kraft Heinz com a 3G Capital — também ter deixado o conselho, e vem num momento de turbulência interna e escrutínio externo na Kraft Heinz, cuja ação continua 50% abaixo de seu pico (US$ 96) e próxima de sua mínima histórica.  O papel fechou sexta a US$ 47,46. 10205 ac850840 c858 0000 0036 ea2cb51ee771
 
Com duas de suas maiores empresas enfrentando desafios, a 3G também promoveu uma mudança na companhia que tem dado menos dor de cabeça: a Restaurant Brands International (RBI), dona da marca Burger King.
 
No final de janeiro, a RBI promoveu seu CEO, Daniel Schwartz, à nova posição de “executive chairman”. Ele também passou a ser “co-chairman” da empresa ao lado de Alexandre Behring, o principal executivo da 3G.  A RBI disse que as promoções de Schwartz são um reconhecimento a sua “valiosa” contribuição para a companhia.
 
Schwartz, que trabalhava como analista da 3G, foi nomeado CFO da RBI logo depois da aquisição pelos brasileiros.  Mais tarde, quando Bernardo Hees deixou a RBI para comandar a Heinz, Schwartz tornou-se CEO — na época, com 33 anos.
 
No ecossistema da 3G, executivos ligados ou próximos às empresas estão tentando entender o que as mudanças significam. Para alguns, trata-se de um prólogo para a troca de CEOs do grupo.  Para outros, são mudanças naturais na vida das companhias.
 
“O que existe lá dentro hoje é uma enorme pressão por melhora de resultado,” diz um investidor que conhece o grupo de perto. “A história da 3G funciona bem enquanto a ação sobe e todo mundo está ganhando dinheiro, mas quando a música para, fica difícil.” 
 
Investidores que trabalham com a 3G há anos relatam profunda insatisfação com Behring e Hees, e usam expressões como “má gestão” e “problema de ego” ao falar dos problemas. Um deles disse ao Brazil Journal que a performance da Heinz fez Hees perder capital político tanto com o conselho quanto com o corpo executivo da companhia, enquanto outro diz não perdoar Behring por haver perdido a oportunidade de comprar a Unilever, “o ‘deal’ certo feito da maneira errada.” 
 
Behring tem passado cada vez mais tempo no Brasil, conversando com investidores e dando explicações sobre a performance da Heinz. “Eles estão preocupados com a franquia 3G junto a investidores brasileiros,” diz um destes interlocutores. 
 
Outro investidor acha que a 3G só sairá do dilema atual se entender as limitações de seu modelo de negócios.
 
“Deve estar havendo um grande ‘soul searching’ na 3G sobre se o modelo deles se esgotou ou não.  Antes, eles achavam que bastava alavancar em marcas fortes e logística eficiente e a cultura ferrenha de corte de custos faria a diferença. Mas quando se trata de produto e de marketing, eles investem pouco e entendem menos ainda. O mercado passou anos batendo na Irene Rosenfeld [ex-CEO da Mondelez].  Ela sempre investia em marca e marketing, e o mercado dizia, ‘Ah, mas ela não faz zero-base budgeting’… A situação da Heinz faz repensar tudo isso.”
 
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