Os EUA não estão sozinhos em lutar contra perfis automatizados que aproveitam momentos de agitação política para propagar informações falsas nas redes sociais e assim influenciar o debate.
Russos à parte, o problema já chegou ao Brasil.

O fenômeno (de conhecimento empírico para muita gente que frequenta as redes sociais) foi medido por um novo estudo publicado pela Diretoria de Análise de Política Públicas da Fundação Getulio Vargas.

Dez pesquisadores trabalharam no projeto, de matemáticos a analistas de redes sociais, numa extensa revisão de literatura e análise das bases de dados do debate político nacional que consiste em milhões de tweets.

Por questões de facilidade metodológica o estudo focou apenas no Twitter, mas o problema não fica restrito à rede do passarinho azul.

Segundo o estudo, os robôs estão ganhando terreno na discussão online desde a eleição presidencial de 2014. Ao longo daquela campanha, contas-robôs foram responsáveis por 10% do debate no Twitter. 

Três anos depois, na greve geral de abril deste ano, o número subiu para 20%. 

Em outras palavras, uma em cada cinco opiniões no Twitter durante a greve geral não vinha de uma pessoa, e sim de uma conta-robô programada para interferir no debate.

Segundo pesquisa do Pew Research Center — um think tank americano respeitado por ser apartidário — 62% dos americanos já se informam pela internet, enquanto 64% se dizem confusos quanto à veracidade de alguns fatos.

No Brasil, segundo dados da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, 49% dos brasileiros já se informam pela internet, número que seguirá em crescimento.

Para o diretor do ITS – Instituto de Tecnologia e Sociedade e pesquisador do MIT Media Lab, Ronaldo Lemos, a democracia corre perigo com o avanço dos robôs e das fake news:

“Acredito que a democracia está passando por uma momento de crise no Ocidente por várias razões. Robôs e fake news são parte desse problemas. Eles transformam a esfera pública num campo de batalha sitiado e ocupado. Além disso, geram uma exclusão enorme. Quem tem acesso a robôs e fake news é quem tem dinheiro. Essas estratégias diminuem a importância do cidadão comum e aumentam o poder de quem tem recursos financeiros para manter esse tipo de ação de forma permanente.”

Lemos acredita que a melhor forma de combater os robôs é com informação, o que inclui identificar a origem do dinheiro e expor os grupos que financiam as ações.

“Acho que a solução não é legal, ao menos por agora. As plataformas também têm um papel essencial a cumprir. Há sites, perfis e páginas que se especializam no chamado ‘assédio direcionado’, isto é, que se concentram em atacar visões contrárias à sua, de forma violenta e sistemática. O assédio direcionado hoje já viola os termos de uso da maioria das redes sociais e precisa ser detectado.”

No Brasil, as eleições de 2018 não contarão com o financiamento privado de campanha. Com isso, o caixa será bem mais curto, e a internet deve ter um papel ainda mais relevante. “Com certeza haverá uma grande batalha nas redes sociais,” diz Lemos. 

O estudo da FGV mostra que os robôs não são nem ‘de direita’ nem ‘de esquerda’. Eles se posicionam em ambos os extremos ideológicos.
 
Na última eleição presidencial, em 2014, 9,7% dos tweets em apoio a Dilma Rousseff vieram de contas automatizadas; para Aécio Neves, o número foi de 19,7%. No impeachment, 21,4% dos apoios a Dilma vieram de robôs.