A B2W está comemorando um fato de proporções superlativas: pela primeira vez nos últimos quatro anos, a companhia conseguiu gerar caixa no terceiro trimestre do ano, revertendo uma hemorragia que obrigou os acionistas a injetar quase R$ 4,5 bilhões na companhia nos últimos três anos.

Infelizmente para seus acionistas, isso já não significa tanta coisa.

Apesar da guinada em direção ao marketplace tornar a estrutura de capital mais leve, a dona do Submarino e da Americanas.com está crescendo pouco – e bem abaixo da concorrência.

Entre julho e setembro, o valor bruto de suas mercadorias vendidas (GMV, na sigla em inglês) cresceu 5,1%, abaixo da média de 9,1% do mercado, divulgada pela consultoria e-Bit.  A companhia gerou quase R$ 44 milhões de caixa.

Mas foi a comparação com os resultados do Mercado Livre, divulgados ontem à noite, que colocou os números dos rivais em perspectiva – e deixou claro quem continua à frente na corrida pelo ecommerce no Brasil.

O GMV do MELI subiu 50,7% em relação ao terceiro trimestre de 2016. O número considera toda a América Latina, mas tem uma grande representatividade de Brasil, que responde por mais de metade das vendas. A receita no País – que considera apenas a taxa cobrada dos vendedores que usam a plataforma – saltou 71% na comparação ano contra ano.

No momento em que a competição no Brasil está ficando mais acirrada, o Mercado Livre está usando parte do caixa gerado no negócio para defender seu mercado. Desde maio, oferece, por exemplo, frete grátis para compras acima de R$ 120.

“Eles estão conseguindo se preparar tanto contra um movimento mais agressivo da Amazon quanto para neutralizar a B2W, que está entrando mais no seu mercado”, diz um analista.

Resultado: o Mercado Livre subiu 15% na Nasdaq nesta sexta, enquanto todas as ações de ecommerce no Brasil despencaram.

Mas foi a B2W – que depende unicamente do canal online e não conta com lojas físicas – que sentiu mais o baque, com uma queda que chegou a superar os 10%.

Em seu processo de se tornar cada vez mais parecida com o Mercado Livre, a B2W anunciou recentemente que vai competir no mercado de C2C – em que pessoas físicas podem vender produtos usados diretamente para outras pessoas físicas.

Mas a companhia não tem intenção de usar o modelo de frete grátis. A estratégia para entregas, por enquanto, é o serviço de assinatura, batizado de ‘Prime’ (a semelhança com o serviço homônimo da Amazon não é mera coincidência).

Por uma anuidade de R$ 79,90, os clientes têm direito a um frete ilimitado na modalidade de entrega rápida, que leva metade do tempo da convencional. 

Na teleconferência com os investidores, o diretor de RI, Fabio Abrate garantiu que o Prime não arranha as margens: além da receita com a mensalidade, os clientes do Prime tem uma frequência duas vezes superior e um gasto médio três vezes maior que aqueles que não usam o serviço.

Além das preocupações com a concorrência, a própria qualidade da geração de caixa da B2W é questionável. O analista Guilherme Assis, do Brasil Plural, notou que a inflexão veio acompanhada de uma redução brusca no estoque de recebíveis.

“Acreditamos que o fluxo de caixa livre positivo pode ter vindo na esteira de uma venda maior de recebíveis, já que a média de dias de recebíveis caiu 15 dias na comparação anual, representando uma redução de R$ 421 milhões, o que é muito agressivo considerando o declínio de 17% nas vendas 1P [as vendas de produtos que a própria companhia tem em estoque]”, Assis disse em seu relatório.