Dono de um modelo de negócio inovador e descolado, o WeWork tem um calcanhar de Aquiles de governança bem tradicional.

O The Wall Street Journal revelou hoje que Adam Neumann, o CEO e fundador do WeWork — recentemente rebatizada de We Company — ganha milhões de dólares há anos alugando seus próprios imóveis para a startup de escritórios compartilhados fundada em 2010.

É um conflito de interesses daqueles de livro-texto e que dificilmente passaria incólume numa empresa de capital aberto.

Um porta-voz da empresa disse ao jornal que o WeWork tem um processo de revisão para transações com partes relacionadas. “Todas essas transações são revisadas, aprovadas pelo conselho e divulgadas aos investidores”, afirmou.

Segundo a reportagem, Neumann vem comprando imóveis e alugando para o WeWork desde 2014 — exatamente quando assumiu o controle total da empresa, numa rodada de investimentos que lhe garantiu ‘super-voting shares’. (Hoje, ele tem 65% do capital votante).

Um ano antes, ele já havia tentado realizar um negócio desse tipo, mas sem sucesso.

No meio de uma negociação do WeWork para alugar um imóvel em Chicago, o fundador da startup tentou comprar uma participação de 5% no prédio. O board do WeWork não gostou nada da ideia — que viu como um conflito — e barrou a operação.

Mas desde que Neumann ganhou o controle, a história tem sido bem diferente.

O executivo vem comprando fatias em diversos imóveis por meio de um grupo de investimentos, e locando parte deles para o WeWork. Atualmente, ele detém participações em alguns prédios importantes alugados pela startup.

O WSJ diz que ele tem metade de um prédio em Manhattan, ocupado atualmente pela IBM, além de propriedades em San Jose (CA), já locadas pelo WeWork ou em processo de negociação.

Em San Jose, Neumann é o principal investidor de um grupo que vem comprando inúmeras propriedades no centro da cidade nos últimos um ano e meio.

Entre elas, uma torre de 14 andares construída para o Bank of Italy em 1925, e o St. James Plaza, um prédio comprado por US$ 40 milhões no verão passado e que já assinou um contrato de aluguel com o WeWork.

Num prospecto de uma oferta de dívida feito no ano passado e obtido pelo WSJ, o WeWork disse que tem contratos com diversas propriedades controladas em parte por Neumann e que já pagou mais de US$ 12 milhões em aluguel para imóveis “possuídos por executivos do WeWork entre 2016 e 2017”.

Até o final dos contratos, os pagamentos da empresa devem somar mais de US$ 110 milhões. O documento não citava quais eram as propriedades.

A matéria do WSJ vem poucos dias depois de o Softbank ter injetado US$ 2 bilhões na companhia, numa rodada que a avaliou em US$ 47 bilhões.

O fundo japonês já tinha colocado US$ 4 bilhões no WeWork e avaliava injetar até mais US$ 16 bilhões, mas decidiu diminuir o investimento “diante das turbulências do mercado”.

 

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