A Estácio bem que fez a lição de casa: as despesas por aluno caíram no terceiro trimestre, o EBITDA subiu 26%, e a empresa até vai pagar um dividendo extraordinário de R$ 400 milhões.  No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a companhia conseguiu converter 63% de seu EBITDA em caixa, um recorde.

Não adiantou.

A captação de alunos no ensino presencial despencou 25% no terceiro trimestre, reduzindo em 10% a base de alunos desta modalidade e sublinhando o maior desafio do setor de educação superior na Bolsa: sem FIES, trazer os alunos para a sala de aula vem se provando um desafio cada vez mais hercúleo.

A ação chegou a cair mais de 10% na manhã de hoje, e perdia 8% por volta de 14 horas.

“Tem um trabalho importante de eficiência e corte de custo que eles vêm entregando lá dentro, mas com a captação em queda livre a receita contratada para frente é péssima”, diz um gestor do Leblon. “Até onde dá para gerar valor numa empresa que encolhe?”

Sem o financiamento estudantil, ‘preço’ virou o nome do jogo – e enquanto os concorrentes praticam descontos agressivos, a Estácio preferiu focar nas margens. Resultado: o número de alunos ‘mensalistas’ – que pagam a mensalidade cheia, sem FIES – caiu 24% no trimestre.

Um programa próprio de financiamento está estancando em parte a sangria, mas torna os resultados cada vez mais difíceis de ler.

Dos 32,8 mil alunos considerados mensalistas captados pela Estácio, 30 mil vieram do DIS, um programa de desconto nas duas primeiras mensalidades, em que o aluno paga R$ 49 nos dois primeiros meses e o restante é parcelado ao longo do curso. O problema é que, pelas regras de contabilidade, o valor cheio dessas mensalidades é contabilizado na matrícula, ainda que a conversão em caixa só aconteça bem mais à frente.

Com isso, a receita da Estácio subiu 5,5%, mas, pelas contas de analistas, teria caído 4% se descontadas as matrículas feitas com o DIS que só serão pagas ao longo dos próximos anos.

A narrativa não é exclusiva da Estácio. A Ser divulgou ontem seus resultados com uma queda de 8% na captação de alunos presenciais e a taxa de evasão aumentou.

A Kroton, que divulga amanhã antes da abertura do mercado, também vem apanhando na Bolsa – no ano, a queda é de 40%. (Estácio cai 35% e a Ser, 50%).

Na empresa comandada por Rodrigo Galindo, a receita está de lado e a geração de caixa vem despencando. A Kroton tem um programa abrangente de financiamento de mensalidades, em que os alunos terminam de pagar depois do curso – mas, assim como no DIS da Estácio, contabiliza essa receita na frente, fazendo uma provisão para potenciais perdas.

“Se na Estácio onde há espaço para ganho de eficiência, a situação é difícil, imagina na Kroton que já trabalha direitinho e não tem mais onde cortar custo?”, questiona um gestor.