Nos últimos anos, os principais cargos nos maiores fundos de pensão do País passaram a ser ocupados por pessoas filiadas ou próximas ao PT e aos partidos da base governista, sem que necessariamente fossem as mais qualificadas para a tarefa.
Devidamente “aparelhados”, os fundos de pensão se mostraram, digamos, maleáveis à ideia de investir em empresas e projetos com laços de amizade com o Governo.
A crônica dos maus investimentos é tão vasta que manteve o emprego de muitos repórteres econômicos brasileiros nos últimos 10 anos: bilhões enterrados em frigoríficos, empresas de papel e celulose, energia elétrica, fundos de crédito de bancos esquisitos… Escolha o setor e lá estará um gordo fundo de pensão, financiando um gato ainda mais gordo.
Até aí, notícia velha.
A novidade está na capa do Valor Econômico de hoje, que chama a atenção para uma revolta incipiente entre os participantes de fundos de pensão de grandes estatais contra o status quo, o aparelhamento e os investimentos com viés político.
A primeira queda da Bastilha aconteceu na Funcef, o fundo de pensão da Caixa. No início do mês, uma chapa formada por auditores da Caixa, sem vinculação partidária ou com o movimento sindical, conquistou “três vagas para diretores executivos, duas para o conselho deliberativo e uma para o conselho fiscal.”
Segundo o Valor, o próximo teste da insatisfação dos aposentados com a forma como sua suada contribuição é aplicada virá na eleição de representantes na Previ.
Os fundos de pensão gostam muito de falar em governança nas empresas em que investem. É uma palavra bonita, com um halo de nobreza. Essa ‘revolta dos aposentados’ mostra que o debate finalmente chegou à governança dos próprios fundos — infelizmente, com um atraso que vai sair caro.
A ideia (infeliz) de que o dinheiro dos participantes dos fundos de alguma forma pertence também ao Governo não começou com o PT. No Governo Fernando Henrique, os fundos de pensão foram colocados a serviço da agenda das privatizações. A diferença é que os fundos acabaram ganhando dinheiro com as operações, o que não deve se repetir com a safra de investimentos da era Lula-Dilma.
A propósito, numa entrevista em 2012, o sociólogo Francico Oliveira, um dos fundadores do PT, disse o seguinte sobre a elite sindical, que hoje ocupa boa parte dos cargos de liderança nos fundos de pensão estatais: “O sindicalismo foi mais forte e transformou o PT nisso que ele é hoje. Tem dois grandes grupos de gangues no Brasil, não tem classes aqui. Tem gangues. Os de baixo estão organizados como gangues e os de cima também. Os de cima assaltam o tesouro público. … Os de baixo assaltam-se uns aos outros”.