Em apenas duas noites, um banqueiro do BTG Pactual gastou mais de R$ 1 milhão numa boate de Nova York.

O que poderia ser apenas um excesso — destes que transformam o ‘high life’ de Wall Street em matéria-prima para filmes e podem incomodar alguns clientes — acabou na Justiça por um detalhe: o cartão de crédito do banqueiro rejeitou a festa, ele pendurou a conta, e não honrou a nota promissória na data prometida.

O protagonista do caso é o banqueiro Marco Gonçalves, sócio e chefe da área de fusões e aquisições do BTG.  Marcão, como é conhecido no mercado, se juntou ao BTG em 2009, depois de anos no Credit Suisse, e foi responsável por negócios gigantescos e altamente lucrativos do banco, como a capitalização da Oi e a venda da TAM.

Não está claro se as despesas na boate foram de cunho pessoal ou envolviam a prática — comum entre bancos de investimento — de ‘entreter’ clientes.

Os eventos envolvendo Marcão foram descritos num processo movido contra ele pela Hi-Fi Marketing Group, proprietária da boate Provocateur. Descoberta pelo New York Daily News, a estória foi o assunto do dia, ontem, nas mesas da Faria Lima e do Leblon, e viralizou no Whatsapp.

Em nota à imprensa brasileira, Marcão afirmou:  “Em relação à reportagem publicada pelo ‘New York Daily News’, repercutida por alguns veículos de comunicação do Brasil, informo que desconheço os fatos ali narrados e que não possuo nenhum tipo de pendência com o estabelecimento comercial mencionado no texto”.

O processo alega que, em 10 de junho do ano passado, Marcão foi à Provocateur, uma boate ‘top’ no porão do Gansevoort, um hotel descolado no Meatpacking District.

Ali, de acordo com o processo judicial, ele e as pessoas que o acompanhavam consumiram “algumas das melhores champagnes e bebidas do Clube, incluindo ACE Rose Magnum’s, Cristal Magnum, Dom Perignon e Patrón Tequila Magnum.” A conta deu US$ 208.005,74.

Como uma boa noitada tem mais é que ser repetida, Marcão voltou ao local na noite seguinte, consumiu no mesmo padrão, e a conta desta vez deu US$ 131.871,46.

Fim de noite, hora de pagar a conta. Quando o banqueiro tentou passar o Amex de novo, o cartão rejeitou os gastos — tanto a despesa daquela noite quanto da anterior, que, ao que tudo indica, havia ficado ‘pendente’ no sistema do cartão.

Segundo a queixa da boate à Justiça, Marcão foi informado sobre o saldo devedor, e a boate concordou em deixar, pendurado, o valor de US$ 250.000,00.

Em 15 de novembro, Marcão assinou uma nota promissória comprometendo-se a pagar a boate até 31 de dezembro, e fez “numerosas promessas, verbais e por escrito, de que o pagamento estava a caminho”, sempre segundo a queixa judicial.

Como não teria honrado o compromisso, a dona da boate processou Marcão na U.S. District Court for the Southern District of New York, um tribunal mais famoso por ouvir grandes casos do colarinho branco do que pequenas delinquências de promissórias. Entre os casos históricos que a corte já ouviu estão o processo contra as seguradoras envolvendo o sinistro do naufrágio do Titanic, a tentativa do Governo americano de impedir a publicação do ‘Ulysses’, de James Joyce (que o Governo considerava ‘obsceno’), e a tentativa de Richard Nixon de impedir a publicação dos ‘Pentagon Papers’ pelo The New York Times.

Processado em 27 de janeiro, Marcão chegou a um acordo com a boate na última quarta-feira. 

Procurado pelo Daily News, ele ecoou o que disse à imprensa local: “Houve um acordo. Não há processo contra mim.  Não devo nada.”

Veja a íntegra do processo abaixo: