Em setembro de 2017, o cofundador do Mercado Livre, Stelleo Tolda, disse ao Brazil Journal que a vertical de pagamentos da empresa poderia se tornar “até maior” do que o próprio marketplace.
Três anos e uma pandemia depois, o Mercado Pago processa mais de R$ 80 bilhões por ano, quase o dobro do GMV do Mercado Livre — e quem tivesse prestado atenção a Stelleo teria multiplicado seu investimento por 5x.
Agora, numa nova entrevista com o site, Stelleo diz que outros dois negócios, ainda novos e pouco explorados dentro da companhia, podem ganhar um peso relevante nos próximos anos.
Sem alarde, o MELI vem desenvolvendo seu próprio Shopify — o Shops, que permite aos varejistas criar suas lojas online fora do ambiente do marketplace — bem como uma vertical de publicidade digital chamada Mercado Ads.
Os dois negócios ainda representam uma fração ínfima do faturamento da companhia, que teve receita líquida de R$ 4 bilhões e GMV de quase R$ 50 bi ano passado.
Mas o potencial salta os olhos.
Stelleo disse que, em três anos, o Shops pode chegar a 10% do GMV total do Mercado Livre. Considerando apenas o GMV de 2020 — sem levar em conta o crescimento até 2024 — o Shops poderia movimentar cerca de R$ 5 bi/ano.
Já o negócio de publicidade pode facilmente triplicar de tamanho.
“O negócio de publicidade da Amazon representa mais de 3% do GMV dela e já é o terceiro maior do mundo, atrás apenas do Google e Facebook,” diz Stelleo. “No nosso caso, está bem abaixo de 1%. Ainda é muito incipiente.”
No Shops, o MELI compete com diversos players, incluindo empresas já consolidadas como a Locaweb (dona da plataforma Tray) e startups como a Nuvem Shop, que acaba de levantar US$ 90 milhões numa rodada Série D liderada pela Accel Partners — sem falar no próprio Shopify, que está entrando com mais força na América Latina.
Mas um dos diferenciais do Shops é usufruir de todo o ecossistema da empresa, diz Stelleo.
Depois de criar a loja virtual pelo Shops, o varejista pode usar a solução de pagamento do Mercado Pago, as ferramentas de logística do Mercado Envios, e divulgar sua loja por meio do Mercado Ads, uma facilidade que deve ajudar a atrair e reter os lojistas.
Esta solução one-stop shop “é uma proposta muito poderosa para o varejista,” diz ele.
Os esforços nas duas verticais vem num momento em que o MELI está acelerando seus investimentos no Brasil. A empresa recentemente anunciou que vai investir R$ 10 bilhões só este ano, montante igual ao dos últimos quatro.
Stelleo diz que o foco principal dos investimentos será no desenvolvimento da logística própria da empresa, que ainda responde por uma fatia pequena das entregas do marketplace.
“Assim como fizemos com o Mercado Pago, vemos potencial de oferecer esses serviços de logística fora do ambiente do Mercado Livre,” diz o executivo.
O MELI já tem cinco centros de distribuição funcionando e pretende abrir mais três este ano. “Estamos investindo em vans, carretas, e até em aviões.”
O Mercado Livre vale US$ 79 bi na Nasdaq.