Numa evolução de seu modelo de negócios, a Sami — uma healthtech que até agora ajudava planos de saúde na redução de custos e melhoria da eficiência — acaba de levantar R$ 86 milhões para criar sua própria operadora, o que a coloca numa posição de eventualmente competir com seus atuais clientes.
O aporte — o maior ‘Series A’ de uma healthtech no Brasil — foi liderado pela Valor Capital e Monashees.
A Redpoint eVentures, que liderou uma captação de R$ 5 milhões para a Sami no início do ano, também acompanhou a rodada. Outros investidores incluem a Canary; o fundador da 99, Paulo Veras; e Sérgio Ricardo, o ex-CEO da Amil.
A capitalização vai dar à Sami o capital exigido pela Agência Nacional de Saúde para operar como operadora, e deve sustentar o crescimento da operação por mais 24 meses, Vitor Asseituno, o cofundador, disse ao Brazil Journal.
Por enquanto, a startup vai lançar um plano de saúde corporativo com foco apenas nas PMEs (empresas com até 99 vidas) e atuação restrita à região metropolitana de São Paulo; Vitor diz que esta interseção representa um mercado endereçável de 2 milhões de vidas. Mais adiante, a Sami quer oferecer outros produtos ao segmento corporativo e entrar também nos planos individuais.
A Sami está entrando num mercado em que a concorrência está recrudescendo, com o lançamento de planos mais baratos por grandes players como a SulAmérica (cujo plano Direto, em parceria com o Dr. Consulta, também foca em PMEs), e startups como a QSaúde, do fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho, e a Alice.
“Se você só tem cinco vidas, vai levar de 3 a 4 semanas para conseguir contratar um plano numa grande operadora, e não vai ter um atendimento próximo e de qualidade. A experiência para os pequenos ainda é muito ruim,” diz Vitor. “Queremos dar uma experiência boa, 100% digital e com reajustes bem abaixo do mercado.”
Segundo ele, um dos diferenciais do plano em relação aos incumbentes é que ele dá direito a um ‘time de saúde’ — um grupo de médicos de família, enfermeiras e psicólogos que estarão à disposição dos segurados. O atendimento será por telemedicina (24 horas por dia) ou numa clínica física dentro do hospital Beneficência Portuguesa (BP), num modelo também adotado pela QSaúde e Alice.
A Sami também vai usar dados para tentar melhorar os resultados do sistema com medicina de prevenção. Logo que o cliente entra no plano, ele precisa responder uma série de perguntas, que darão uma visão inicial sobre ele. Conforme ele usa a rede, a Sami vai colhendo mais dados e aperfeiçoando a experiência.
“Quando você olha um plano de saúde mais popular, ele tem baixo custo porque restringe o acesso dos segurados. Nossa lógica é oposta: queremos que os clientes usem e abusem de nosso time de saúde, porque no longo prazo isso tende a reduzir os custos do sistema,” diz Guilherme Berardo, o outro fundador.
O plano vai custar entre R$ 200-450 por vida (10% a 20% menos que os concorrentes) e a intenção da Sami é reajustar os preços apenas com base no IPCA.
Para baixar custos, a aposta é no time de saúde e no modelo de value-based healthcare (conhecido na indústria como ‘capitation’), em que os médicos são remunerados pelo desempenho e não pelo número de consultas.
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