Em declarações bombásticas que vão colocar em xeque o ímpeto reformista da candidatura Bolsonaro e do novo Congresso, o coordenador político da campanha do PSL, Onyx Lorenzoni, afirmou agora à noite que seu candidato é contra a aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano.
“Não tem plano, não tem nas conversas”, Lorenzoni disse à Agência Estado. “O Jair não era a favor dessa reforma e a maioria das pessoas que o apoiaram não são a favor dessa reforma porque ela é ruim. É uma porcaria e não resolve nada”. Lorenzoni, do DEM, é cotado para Ministro da Casa Civil de um Governo Bolsonaro.
“Por que no plano de governo do Jair não tem plano específico? Por que isso é uma armadilha que os marqueteiros impuseram aos políticos”, disse o coordenador de campanha. “Se o Jair for escolhido, nossas ações iniciam só em 2019”.
O projeto que está no Congresso — e que já foi aprovado em comissão especial — é tido como a versão mais leve da reforma aceita por toda a sociedade. A equipe econômica sempre se refere a ela como ‘um mínimo denominador comum’, já que a reforma foi exaustivamente negociada com todos os setores do Congresso.
A declaração parece colocar Lorenzoni em rota de colisão com o economista Paulo Guedes, que já mencionou a urgência de uma reforma previdenciária e afirmou que o Presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já se ofereceram para colocar a proposta de reforma em votação depois das eleições. Por ordem de Bolsonaro, Guedes não tem dado entrevistas.
Quando ainda se manifestava publicamente, Guedes pregava uma reforma da Previdência para acabar com privilégios e disparidades entre a aposentadoria de servidores públicos e os da iniciativa privada. Em sua sabatina no BTG, o General Mourão, vice de Bolsonaro, também defendera que a reforma fosse aprovada antes da posse do novo presidente.
De acordo com o Estadão, durante a tramitação da reforma da Câmara, Lorenzoni atacou a proposta em plenário e defendeu uma outra versão ‘inovadora’ e em fases, prevendo que os mais pobres tenham acesso ao benefício mais cedo, com valor inferior ao salário mínimo e aumentando gradualmente. Em março de 2017, Major Olimpio, o senador pelo PSL eleito com quase um quarto dos votos válidos por São Paulo, escreveu um artigo chamando a proposta de ‘PEC do Extermínio’ e negou que houvesse rombo na Previdência.
É compreensível o custo de Bolsonaro se associar a uma reforma proposta por um governo de impopularidade recorde. Mas a negação completa da reforma por parte de um cacique de seu eventual governo vai jogar uma ducha de água fria no mercado, que comemorou não só a sólida dianteira de Bolsonaro no primeiro turno como também a ampla renovação do Congresso.
Os comentários também aumentarão a pressão para que ambos os candidatos expliquem nos próximos dias qual é a versão de reforma que defendem.
“Surpreendentemente, parece que elegemos políticos mais alinhados ao velho modo de ser: corporativistas, contra reformas como a da previdência, contra uma agenda liberal,” disse o economista Marcos Lisboa. “A sociedade queria mudança. Será que vamos ter retrocesso? Talvez ambas as candidaturas sofram da mesma opção pelo estelionato eleitoral que foi a última campanha.”