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A Osklen — a marca carioca ligada ao surf, skate e snowboard e hoje controlada pela Alpargatas — fez uma ponta em “Birdman”, que acaba de ganhar o Oscar de melhor filme.
O personagem de Ed Norton, Mike Shiner, usa uma parca da Osklen ao longo do filme.
Norton contou ao site “Another Men’s Fashion Blog” como tudo aconteceu.
“Conheci o Oskar Metsavaht [o fundador e chefe de criação da Osklen] na conferência do clima no Rio. Somos ambos ativistas do meio ambiente e nos tornamos amigos imediatamente. Eu adorei seus shorts de praia e blusas com capuz, mas a minha favorita foi uma jaqueta linda no estilo guerrilha — o tipo de coisa que Che Guevara teria usado num dia frio em Paris. Eu a usei nos ensaios e o diretor Alejandro Iñárritu amou, e fez dela o uniforme do Mike Shiner.”
Norton conta que Iñárritu queria uma jaqueta igual, “o Chivo (o cinematógrafo) também, e vários de meus amigos queriam.”
A Osklen já tinha parado de fabricar o modelo, mas, a pedido de Norton, Metsavaht concordou em produzir uma série limitada, chamada “The Shiner”, que será vendida apenas nas lojas da Osklen de Nova York e Miami, além do site americano Fancy. Os recursos da venda vão para uma ONG que tenta preservar o ecossistema do povo Maasai, um grupo étnico e semi-nômade que mora no sul do Quênia e no norte da Tanzânia, e que Norton ajuda há 12 anos.
O episódio mostra como o design brasileiro frequentemente ganha reconhecimento espontâneo lá fora — e às vezes se mistura ao ‘show business’ americano.
Há dois anos, os sapatos femininos Alexandre Birman, uma marca da Arezzo, foram mencionados num episódio da série teen ‘Gossip Girl’ e imediatamente passaram a ser vendidos nas lojas da Saks. E uma constelação de Hollywood — de Rihana a Angelina Jolie, de Cate Blanchett a Halle Berry e Sharon Stone — já apareceu em público usando joias da H. Stern (ainda que, neste caso, a coisa tenha sido planejada pela empresa). Isso sem falar nas Havaianas, talvez o maior ‘case‘ de marca local que tenha se tornado global.
Mas no pequeno grande mundo da moda de vestuário brasileira, a Osklen é reconhecida como a marca mais consistente na conquista de espaço internacional.
A Osklen, hoje 60% da Alpargatas, se aventura fora do País há 12 anos, e hoje tem oito lojas, incluindo em Tóquio, na ilha de Mykonos e em Punta del Leste. “No nosso novo plano estratégico, vamos focar nossa atenção e investimento no mercado norte-americano,” diz Metsavaht. “O plano é abrir cinco lojas ‘flagship’ (lojas no estado da arte, que chamam atenção para a marca) nos próximos cinco anos, e crescer muito no canal multimarcas.”
A Osklen pode acabar dando sorte: os próximos anos podem proporcionar uma virada para a moda brasileira no mundo.
Nos anos 80 e 90, o Brasil não tinha tradição de qualidade e de design original na moda produzida no País, que frequentemente era uma imitação de conceitos lá de fora. A reputação do País era a de um produtor de commodity, até porque muitas confecções trabalhavam para clientes no exterior.
A partir dos anos 90, com a abertura das importações, o maquinário brasileiro se modernizou. Começaram a surgir as ‘fashion weeks’, que deram autoestima e visibilidade à moda local, e uma nova geração de designers tirou da prancheta uma produção original, criando uma identidade própria.
A moda brasileira tinha tudo para explodir no mundo. Quase tudo. O custo Brasil e a sobrevalorização do Real na última década fizeram com que o vestuário brasileiro chegasse lá fora custando os olhos da cara. “Foi uma pena,” diz Metsavaht. “Na hora em que nossa expressão criativa conquistou um espaço lá fora, não éramos competitivos em preço. A Osklen chegou a vender em Milão com preços de Prada.”
Agora, com o dólar a R$ 3, as coisas podem começar a mudar, mas ainda há barreiras importantes. Por exemplo, a “moda praia” que a Osklen fabrica no Brasil chega nos EUA pagando imposto de importação de 35%.
A Osklen e outras marcas brasileiras querem tudo, menos que seu próximo vôo seja como o do Birdman — ou como o ‘vôo da galinha’, que tem sido a marca do crescimento brasileiro.