(Caro leitor: É verdade que trocadilhos sexuais são clichês, mas hoje é sexta-feira, dia de maldade…)
Tudo ia bem nas preliminares.
Em janeiro, a Reckitt Beckinser fechou a compra das marcas de preservativo Olla e Jontex, da Hypermarcas, por R$ 675 milhões.
A brasileira precisava reforçar o caixa e focar na área farmacêutica. Já a multinacional britânica estava interessada em performar melhor numa estratégia que teve início em 2014, com a compra do lubrificante KY, da Johnson.
Mas consumar o ato seria mais difícil que o esperado. No fim de julho, a superintendência-geral do CADE broxou as partes envolvidas ao divulgar um parecer impugnando o negócio — ou seja, do jeito que estava, a operação dificilmente passaria pelo crivo dos conselheiros no tribunal.
(Com um nível altíssimo de detalhes sobre a ampla gama de tamanhos, sabores, texturas e propriedades de cada um dos produtos disponíveis, o tratado da superintendência sobre o assunto desafia a seriedade do leitor mais sisudo.)
A superintendência do CADE notou que a Reckitt ficaria com uma fatia considerável do mercado de preservativos ao somar as marcas-líderes Jontex e Olla (ambas da Hypermarcas) à Durex, que já fazia parte do seu portfólio. Mas, no entender dos técnicos, a presença de marcas concorrentes como Blowtex e Prudence era um atenuante para suavizar o poder de mercado.
O ‘deal breaker‘ era mesmo o negócio de lubrificantes, onde a Reckitt ficaria dona das marcas Olla, Jontex e KY.
Mas de lá pra cá, um remédio foi negociado: o Brazil Journal apurou que, como parte de um acordo negociado pelos advogados das empresas envolvidas com o CADE, a Reckitt vai se desfazer de pelo menos uma das marcas.
A Hypermarcas já recebeu 20% do valor de venda, e receberá o restante quando a operação fechar.
Para a Reckitt, encontrar um comprador com tesão talvez seja difícil.
Em 2014, quando ela comprou a marca KY da Johnson & Johnson, o mercado ‘erótico e sensual’ – nas palavras do próprio CADE — crescia 17% por ano. O cenário hoje é outro: o crescimento foi de apenas 7,7% entre 2014 e 2015, um número ainda relevante, “mas o argumento acerca da atratividade para um novo entrante fica bastante prejudicado”, disseram os técnicos no relatório.
Além disso, há uma ‘altíssima capacidade ociosa’ nas fábricas da Hypermarcas e da Johnson & Johnson, e pouca gente deve estar disposta a investir num mercado, digamos, meia-bomba.
Mas uma fonte da indústria diz que as coisas não são bem assim. “Esses 7,7% de crescimento são sem fazer nada. A graça são os brinquedinhos e as inovações que dá pra fazer, e que foram a maior porrada em outros países.”