Era outubro de 2023 quando Helena de Rezende, a corregedora-geral da Polícia Federal, fez uma maratona pelos 27 estados, passando quase dois meses na estrada para capacitar mais de 1.000 policiais e servidores.

A iniciativa foi uma das primeiras de uma série de mudanças que Helena vem implementando na gestão da PF para aumentar a produtividade da corporação –  elevando seus índices de eficiência a patamares históricos num momento crítico para a segurança pública no País. 

Helena de Rezende ok

Naquele périplo pelo Brasil, a corregedora foi falar das metas que havia estabelecido e mostrar o que precisava ser feito para atingi-las. 

“Em geral, os servidores têm uma relação de distanciamento com a corregedoria. Existe aquela visão de que se a corregedoria não te chamar, já está ótimo,” ela disse ao Brazil Journal. “Mas a corregedoria é muito mais do que essa parte de correção de conduta. Temos sim essa área disciplinar e de investigação interna, mas também um trabalho forte de prevenção estrutural.”

Delegada da PF há mais de 20 anos, Helena começou sua carreira em Roraima, trabalhando numa investigação de corrupção de prefeitos e senadores do Estado. De lá foi para a coordenação geral de Polícia Fazendária em Brasília (na época focada em investigações de corrupção e desvio de verbas públicas) e depois para a área internacional da Interpol. 

Na sequência, ajudou a coordenar a segurança da visita do Papa Francisco ao Brasil em 2013 e das Olimpíadas em 2016. 

Depois destes grandes eventos, trabalhou para o Governo do Rio durante a intervenção militar no estado, reportando-se ao General Richard Nunes e ao interventor – na época, um relativamente desconhecido General Walter Braga Netto. 

Helena conheceu o hoje diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, na época do combate aos crimes fazendários e dos grandes eventos do Rio.

Quando assumiu a corregedoria, em 2023, ela desenhou sua atuação na PF ao redor de três grandes eixos: eficiência com base em dados, transparência ativa e uma gestão humanizada. 

Ao fazer as visitas, levava sempre dados estruturados de cada região — e de cada servidor com quem falava.

“O que fazíamos era abrir os dados e ver porque o trabalho estava ruim e o que tinha que ser feito para melhorar. Chegávamos em cada indivíduo e mostrávamos a importância dele no contexto regional,” disse a corregedora.

Segundo ela, alguns servidores tinham dificuldades específicas relacionadas ao sistema ou a temas ligados à operação do dia a dia. “Mostramos como ele podia sair daquela situação que estava prejudicando o trabalho dele e os caminhos mais fáceis para chegar onde queríamos.”

O resultado foi imediato — e metrificado.

Antes de fazer as visitas, o chamado ‘índice de alerta correcional’ da PF — que mede o percentual de investigações que têm algum tipo de alerta (seja uma demora na resolução ou algum tipo de autuação) — estava em 23,29%. Historicamente, o melhor nível do indicador havia sido 20%. 

A corregedoria estabeleceu o desafio de voltar aos 20% até 10 de dezembro – mas em meados de novembro já havia atingido 15,5% e, em fevereiro, estava em 10,2%.

“Não podemos querer mais do mesmo – mais viaturas, mais armas… – temos que achar outros caminhos,” Andrei, o diretor-geral da PF, disse ao Brazil Journal. “Essa busca por indicadores melhores vem pra gente otimizar nosso trabalho e focar a nossa energia naquilo que é essencial.”

Depois daquele experimento inicial, a corregedoria passou a desafiar a organização a superar metas específicas, e estes “desafios” se transformaram numa política de gestão.

No ano passado, Helena também lançou um desafio de três meses, focado na diminuição do tempo médio de duração dos inquéritos. Resultado: entre setembro e dezembro, o indicador caiu de 520 dias para 458 dias. 

Agora, um desafio que acaba de começar focará nas diretorias de combate ao crime organizado, meio ambiente e crimes cibernéticos. O objetivo: melhorar o IPO (índice de produtividade operacional).

Os desafios são entre os estados – e dão prêmios aos vencedores.

Andrei Rodrigues ok

“Mas o prêmio é sempre mais trabalho,” disse Helena, aos risos. “Premiamos os vencedores com missões internacionais ou missões para locais que as pessoas gostam, como Fernando de Noronha. Mas não é para tirar férias, são missões para trabalhar nesses lugares.”

Com essa abordagem mais próxima das pessoas e elementos de gamificação, a corregedoria já entregou todas as metas que havia estabelecido para o final da gestão, em 2027. E já “dobrou a meta”.

Quando a gestão começou, o tempo médio de um inquérito era de 670 dias. A meta era cair para 650 em 2024, 620 em 2025, 590 em 2026 e 560 em 2027. 

Os novos objetivos para este ano, 2026 e 2027 são 400 dias, 365 dias e 350 dias. 

No índice de solução de inquéritos, o cenário foi o mesmo. No começo da gestão, o indicador estava em 82,53% e a meta era elevar o número para 83% em 2024, 83,25% em 2025, 83,5% em 2026 e 83,75% em 2027. No início deste ano, o número já bateu em 84,72%. 

A melhora nos indicadores veio em meio a uma leve redução do efetivo policial, que caiu de 12.850 em 2023 para 12.730 hoje. “Isso mostra que foi tudo ganho de produtividade mesmo,” disse ela. 

As mudanças em curso na PF são parte do PF 80, um plano para modernizar a instituição que Andrei apresentou ao Presidente Lula ainda durante a transição de Governo.

O plano inclui um foco maior em diversidade e aumentar o percentual de mulheres em posições de comando. 

“As pessoas frequentemente associam o trabalho policial à figura masculina, mas aqui dentro nós temos 15% de policiais mulheres e agora 33% chefiando as superintendências, e nós vemos a diferença que a abordagem feminina faz,” disse Andrei. “A gente vê isso de perto porque os resultados aparecem.”

O diretor-geral está tomando medidas para aumentar o ingresso de mulheres na instituição – incluindo novas políticas para gestantes e trabalho remoto.

No concurso que acaba de abrir para contratar 2.000 servidores, a PF vai rever, por exemplo, o papel das provas de esforço físico. 

Segundo Andrei, “não queremos que as provas físicas sejam um limitador para recrutarmos bons cérebros, porque é disso que a gente precisa cada vez mais.”