NOVA YORK – Noves fora a densa fumaça que asfixiou a cidade dias atrás, Nova York continua com o fôlego da metrópole mais vibrante do mundo – investindo pesado em novos espaços públicos que encantarão turistas e locais.

No mês passado, o Museu de História Natural inaugurou o Richard Gilder Center for Science (foto acima), um audacioso projeto arquitetônico que custou US$ 465 milhões, uma doação que misturou dinheiro público, de fundações e famílias.

O museu de quase 150 anos e que ocupa quatro quadras em frente ao Central Park já era um dos maiores centros de pesquisa científica do mundo, recebendo 5 milhões de visitantes por ano.

Agora, com o projeto assinado por Jeanne Gang, a arquiteta de Chicago celebrada por sua ênfase em sustentabilidade, o Museu ganha o Gilder Center, seis andares que armazenam quatro milhões de espécies catalogadas.

A textura, a cor e as formas fluidas do átrio central – banhado de luz natural – foram inspiradas nos desfiladeiros do sudoeste dos Estados Unidos, mas também remetem às curvas desenhadas por Antoni Gaudí no La Pedrera, em Barcelona.

O novo espaço conecta 33 áreas do museu em diversos níveis e andares, por meio de pontes e aberturas. Estão ligadas novas galerias, centros de leitura e de educação, instalações, restaurantes, além de um insetário e borboletário, ambos repaginados. Prova de que, em Nova York, os invertebrados moram com mais dignidade do que a espécie humana, espremida em apartamentos onde não cabem três borboletas.

“As novas conexões dentro do museu facilitam a navegação pelo campus,” Gang disse num material publicado pelo museu. (Ela também assina o projeto da nova sede da embaixada americana em Brasília, que deve ser inaugurada ainda este ano.)

Há dois meses, a cidade ganhou outro colosso: a Grand Central Madison, uma extensão da lendária Grand Central Station, que até então era desconectada de Long Island,  a região no litoral onde mora muita gente que trabalha em Manhattan.

O novo terminal vai desafogar o vai-vem deste contingente que antes só chegava em Manhattan pela caótica Penn Station, o maior “hub” de trem do país.

Por sua vez, a própria Penn Station também está recebendo investimentos de US$ 7 bilhões, incluindo complexos residenciais ao redor, 18 novas entradas e conexões diretas entre as saídas do metrô e as plataformas de trem. A primeira extensão, chamada Moynihan Train Hall, já foi inaugurada no final de 2021.

A Grand Central Madison é o maior terminal ferroviário construído nos EUA desde a década de 50.  Ocupa cinco quadras e custou astronômicos US$ 12 bilhões.  Está ornada com imensas obras de arte, incluindo mosaicos de 24 e 36 metros de largura, instalação de fotos e telas gigantes de LED dedicadas à arte digital e 3D.

As obras do terminal começaram por volta de 2010, quando ninguém esperava que uma pandemia afetasse a demanda pela rota de trens: a ocupação hoje é de apenas 65% dos níveis pré-pandêmicos, dado que muita gente passou a trabalhar de casa.

As reformas não param por aí. Até 2030, a cidade terá modernizado seus três principais aeroportos, totalizando investimentos de US$ 25 bilhões.

O primeiro foi concluído no ano passado, fazendo o LaGuardia decolar da era Flintstones e pousar na era Jetsons.

Outrora alvo de piadas por sua precariedade, o novo LaGuardia tem tantas novas atrações que o desafio é não se distrair e perder o voo: interação digital, expansão, circulação “intuitiva” entre os terminais e celebração da culinária e arte nova-iorquina.

O LaGuardia fica no Queens, a 25 minutos de carro do centro de Manhattan. Sem serviço de imigração, nele desembarcam os brasileiros que entraram nos Estados Unidos via Miami, Fort Lauderdale, Houston, Dallas, Orlando, Chicago e Washington DC, voando com companhias como Delta, American, United e JetBlue.

As obras começaram em 2016, com mais de US$ 2 bilhões em contratos firmados com empresas de mulheres e minorias.

O terminal da American conta com uma filial da padaria Eli’s Bread, além de uma escultura de água que, literalmente, dança conforme a música. Já o Terminal C, da Delta, tem janelas do chão ao teto e restaurantes locais como o Bubby’s, de TriBeCa. Os esperados 17 milhões de passageiros circulam por 37 portões de embarque, 13 banheiros touch-free e 49 terminais de self-check in.

Ali estão obras de arte colossais comissionadas pela Delta em parceria com o Queens Museum, um projeto que trouxe seis artistas locais que abordam temas de cultura e imigração.

Na reforma do Newark Liberty International Airport, em New Jersey, que também serve os passageiros de Nova York, foram despejados US$ 2,7 bilhões, com 21 novos portões de embarque e uma nova pavimentação da pista, oito pontes de conexão e estacionamento – tudo está pronto e tinindo, com exceção de 12 portões de embarque, e um novo monorail estimado em US$ 2 bilhões para repor o atual, que transporta 26 mil pessoas por dia.

Por fim, em abril o JFK iniciou suas obras, que devem durar sete anos. Numa nota divulgada à imprensa, as autoridades pediram aos moradores da cidade que estudem as mudanças de rotas em volta do aeroporto.

Mais um motivo para os nova-iorquinos praticarem sua melhor habilidade: revirar os olhos, mas obedecer.