O Brasil é o terceiro maior consumidor de cerveja no mundo.
Mas nos últimos anos, o brasileiro vem abrindo mais espaço para os destilados em seus momentos etílicos, em especial para o gim, que praticamente quintuplicou em volume de vendas entre 2018 a 2022, segundo dados da Euromonitor.
Boa parte desse mercado, que cresceu com a popularização dos coquetéis, está na mão de grandes grupos globais como a Diageo e a Pernod Ricard. Mas a brasileira Carmosina Holdings, dona do gim nacional Vitória Régia, também está conseguindo dar os seus golinhos.
A primeira aposta foi na cachaça: a Carmosina surgiu em 2013 quando seu fundador, Thyrso Camargo (um neto de usineiro) e dois sócios decidiram criar uma cachaça premium para vender fora do Brasil.
Após estudar o mercado, nasceu a Yaguara, que ganhou medalhas de ouro em eventos como o San Francisco World Spirit e a Run and Cachaça Masters, além de ganhar prateleiras em mercados como EUA e Reino Unido.
Mas o maior acerto veio em 2017: a Carmosina percebeu a popularização do gim no mundo e decidiu fazer um gim orgânico e 100% nacional para concorrer com marcas renomadas como a Tanqueray, da Diageo, e Beefeater, da Pernod Ricard.
A aposta deu resultado, e a Vitória Régia hoje ocupa a quinta posição do mercado com quase 5% de market share. A marca de gim responde por metade do faturamento da empresa.
Mas Thyrso enxerga que ainda há muito espaço para crescer – e que há um lugar para uma empresa de destilados 100% nacional no mercado.
O movimento de consolidação já começou.
No início do ano, a Carmosina se fundiu com a Welcome Brands, que tem o negroni engarrafado N45 como seu principal produto. Com o negócio, a Carmosina passou a ter 10 bebidas em seu portfólio, como a vodca Atlantis e o vermute Aureah.
Segundo Thyrso, a negociação começou no fim de 2023 e o negócio foi uma troca de ações. O fundador da Welcome Brands, Leandro Faria, foi para o conselho da empresa combinada, que deve faturar R$ 25 milhões este ano – e gerando caixa.
A meta é alcançar R$ 100 milhões de receita líquida até 2029.
“Eu já conhecia o Leandro há anos: sentamos para conversar e vimos que havia um alinhamento muito grande de ideias, que é o de criar a maior empresa de destilados nacionais,” Thyrso disse ao Brazil Journal.
Mas o empreendedor sabe que não pode depender apenas do gim – que foi catapultado principalmente pela popularização do gin tonic – e está de olho em outras bebidas.
Hoje, os destilados respondem por apenas 12% do consumo de bebidas alcoólicas no País. Na Alemanha, outro povo que consome muita cerveja, esse percentual é de 20%.
Segundo a Euromonitor, o mercado de destilados no Brasil deve alcançar R$ 95,7 bilhões em 2027 – 55% de crescimento sobre os cinco anos anteriores.
Como a operação da Carmosina é asset light, é possível escalar o negócio mais rapidamente, disse Thyrso. Toda a produção é terceirizada para uma fábrica em Piracaia, no interior de São Paulo.
Para concorrer com gigantes, Thyrso reforçou o time: trouxe para o conselho Alberto Gavazzi – um executivo que passou 30 anos na Diageo, onde chegou ao cargo de presidente da América Latina.
Também recrutou Ricardo Silvério, com duas décadas de Diageo, para comandar a operação da Carmosina no Brasil.
A empresa também espera crescer especialmente no público jovem, apoiando grandes eventos. A Vitória Régia, por exemplo, patrocinou festivais de música como o Mita, em São Paulo, e o Doce Maravilha, no Rio de Janeiro.
Mas apesar do potencial de crescimento do mercado, a Carmosina ainda tem que enfrentar a má vontade do brasileiro com destilados locais.
“O brasileiro, ao contrário de outros latinos, ainda valoriza mais os produtos importados do que os nacionais,” disse Thyrso. “Mas o crescimento da Vitória Régia, um gim premiado, mostra que é possível mudar essa imagem.”