Uma interpelação judicial feita por Maria Cristina Frias ao irmão Luiz revela detalhes sobre o desentendimento familiar que colocou a Folha de São Paulo no centro de uma disputa pública.
Destituída do cargo de Diretora de Redação da Folha, Maria Cristina foi à Justiça para que o irmão abra os livros de registro de ações das empresas do grupo: quer ter a real noção das reestruturações societárias que Luiz vem promovendo há anos.
No documento, Maria Cristina diz não saber sequer sua participação acionária, direta e indireta, nas empresas do Grupo Folha.
Ela diz que uma nova reorganização societária proposta pelo irmão deixará o jornal “abandonado à própria sorte”, “expondo a risco a sua saúde financeira” e “impondo novos e ainda mais profundos cortes de custos e de pessoal”.
Fontes ouvidas pelo Brazil Journal dizem que a reorganização societária a que se refere a interpelação é a separação do jornal do resto do Grupo Folha. No novo arranjo, Maria Cristina ficaria com o jornal. Para essas fontes, ela teria condições de comprar a Folha, mas não de mantê-la sem receber dividendos do UOL.
Maria Cristina diz na interpelação que a empresa Folha da Manhã, que edita o jornal, não está recebendo dividendos apesar ter feito investimentos anos a fio na sua controlada Folhapar. A Folha da Manhã detém um terço da Folhapar, a empresa que é dona do UOL, que por sua vez é dona da PagSeguro. Os outros dois terços da Folhapar pertencem a Luiz.
Além disso, ela argumenta que o caixa da Folha da Manhã foi esvaziado quando Luiz decidiu aderir à vista – e não em parcelas – ao Programa Especial de Regularização Tributária (PERT) em 2017.
Finalmente, ela reclama da venda da participação da Folha no jornal Valor Econômico para o grupo Globo – diz que a apuração de recursos da venda foi “atabalhoada” – e dos termos do acordo de licenciamento de conteúdos da Folha para o UOL.
Na questão dos dividendos do UOL/PagSeguro, Maria Cristina diz que Luiz impôs um limite “absoluto e abusivo” de 1% para a distribuição de resultados. “A prevalecer essa disposição [os dividendos] jamais chegarão à Folha da Manhã”, afirma no documento.
A disputa que joga Frias contra Frias não é nova: na interpelação, Maria Cristina descreve um histórico de conflito societário desde 2004 e diz que “vem sendo tolhida, reiteradamente e há muito tempo, em seu legítimo direito à informação”.
Luiz destituiu a irmã com o apoio da viúva de Otávio, Fernanda Diamant, que herdou um terço das ações do Grupo Folha. Maria Cristina teve o email bloqueado e sua agenda de compromissos violada. Segundo fontes da Folha, naquele dia, ela receberia uma visita de Neca Setúbal – mas Neca nunca apareceu. Sem o conhecimento de Cristina, Neca foi avisada que o encontro fora cancelado.
Maria Cristina argumenta que, ao destituí-la do cargo, Luiz estaria violando o acordo de acionistas firmado com o pai, Octávio Frias de Oliveira, em 2002, e que obriga os irmãos a uma reunião prévia para deliberar conjuntamente sobre os negócios da família.
Em entrevista à ombudsman da Folha, o novo Diretor de Redação Sérgio Dávila diz que a reunião de acionistas que decidiu pela destituição havia sido convocada com 25 dias de antecedência, seguindo o acordo de acionistas.
Uma fonte próxima a Maria Cristina diz que ela sabia que havia uma negociação em curso, mas que não houve a convocação formal da assembleia.
O escritório Chiarottino & Nicoletti representa Maria Cristina.
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