No centro da disputa entre os irmãos Frias na Folha existe uma poça de liquidez chamada UOL.
A companhia – cujo principal ativo é o PagSeguro – tem mais de R$ 4 bilhões em caixa, segundo fontes ouvidas pelo Brazil Journal.
O UOL embolsou US$ 1,12 bilhão no IPO da empresa de adquirência, em janeiro do ano passado. Menos de seis meses depois, levantou mais US$ 613 milhões com outra oferta de ações, cuja ‘timing’ surpreendeu o mercado. As duas operações trouxeram um caminhão de mais de R$ 5,5 bilhões de caixa para a companhia – e apenas uma parte foi distribuída aos acionistas.
O UOL é controlado pela Folhapar – a empresa de participações dos Frias – com 64,6% do capital. Luiz Frias tem dois terços da Folhapar e, como acionista majoritário, dá as cartas na companhia. (João Alves de Queiroz Filho, o ‘Júnior’, dono da Hypera, e seus amigos mexicanos são minoritários no UOL, com uma participação conjunta de 25%; um fundo de private equity do BTG tem outros 6,5%).
Enquanto Maria Cristina Frias – destituída ontem do cargo de diretora de redação – defende que o UOL distribua dividendos para financiar um aporte da Folha, o irmão mais novo Luiz Frias prefere segurar o caixa.
O motivo não está claro. Luiz é conhecido por ser uma esfinge – nem mesmo assessores financeiros que já participaram de operações da Folhapar e da PagSeguro têm muita clareza sobre seus planos. No mercado, especula-se que o empresário queira fazer uma aquisição no setor bancário.
Ao fazer isso via UOL e não via PagSeguro, ele se apropriaria de um economics maior na operação. (A Folhapar tem quase 66% do UOL, enquanto o UOL tem 52,2% da PagSeguro.)
A PagSeguro já conseguiu uma licença bancária comprando a casca de um pequeno banco, o BBN. Mas suas ambições podem ser maiores – e incluir um banco que já tenha uma carteira própria de clientes.
“O fato é que a PagSeguro tem R$ 2,8 bilhões em caixa e conseguiria fazer uma aquisição sozinha”, diz um interlocutor com trânsito na companhia.
A tensão entre a liquidez abundante do UOL e a escassez crônica na Folha já existe há algum tempo. Maria Cristina e Otavio Frias Filho pediam que Luiz liberasse pelo menos uma parte dos dividendos a que a Folhapar teria direito, como forma de injetar liquidez no jornal. O irmão continuava recalcitrante: os repasses eram irregulares.
De certa forma, o desentendimento que ameaça a Folha reproduz a tensão entre os dois legados do velho Frias: o empresarial (desenvolvido por Luiz) e o jornalístico (construído por Otavio).
Na queda de braço que culminou ontem com a destituição de Maria Cristina, ela continuava a pedir mais recursos. Luiz não só negou como avisou que iria promover cortes.
As demissões começaram ontem mesmo no departamento comercial, e se estenderam agora à noite à redação.
Ontem à tarde, Luiz disse numa reunião com editores que “não existe dividendo para distribuir, pois já foram feitos investimentos.” Não deu detalhes.
Reiterou que não planeja vender ou extinguir a Folha – mas insiste na necessidade de cortar custos para atingir um equilíbrio financeiro.
Por ora, este equilíbrio parece inalcançável, e o jornal mais influente do País periclita na beira do abismo.