A melhor explicação para a alta da Bovespa?

O dinheiro continua saindo (discretamente) da bolsa americana e entrando (descaradamente) em outros mercados.

Como já dissemos aqui , o dólar no patamar de 3,20 deixa o Brasil barato para os investidores internacionais, a despeito da economia em recessão e do clima político azedo.

Uma das formas de medir o interesse dos investidores internacionais por mercados emergentes é acompanhar o fluxo de dinheiro que entra nos ETFs, que são cestas de ações listadas na Bolsa.

Investidores usam os ETFs para fazer apostas em determinados mercados (ou em fluxos para estes mercados), sem ter que escolher empresas específicas. Assim, há ETFs específicos para países — ETF de Brasil, México, etc –, e para conjuntos de mercados como Europa, Ásia e América Latina.

Dados do banco Credit Suisse mostram que, desde o início do ano, a entrada de dinheiro novo nos ETFs de ações internacionais (que investem em todos os mercados menos os EUA) já passa de 43 bilhões de dólares.

Este valor já é maior do que tudo que entrou nestes mercados em 2014 e, se o ritmo atual for mantido ao longo do ano, o fluxo em 2015 será o dobro do que foi em 2013, o ano em que o fluxo de entrada foi recorde (65 bilhões de dólares).

A saída de recursos de ETFs que investem em ações de empresas americanas chega a 13 bilhões de dólares desde o início do ano. (Reparem no ineditismo da situação na tabela abaixo)

Enquanto isso, um dos maiores ETFs de mercados emergentes, o iShares MSCI Emerging Markets, teve uma saída líquida de 2,2 bilhões de dólares no mês passado.

Este dado, no entanto, não invalida a tese de que os investidores internacionais estão puxando a Bovespa, porque a maior parte do investimento que entra aqui é feito diretamente, com gestores que trabalham em Nova York ou Londres escolhendo empresas brasileiras para investir, e portanto sem a intermediação dos ETFs. A decisão de alocação destes investidores neste momento é consistente com o quadro descrito pelos fluxos dos ETFs, que sugerem que parte do mercado está diminuindo suas apostas nos EUA, onde a Bolsa está na máxima histórica e o Fed prestes a subir os juros, para comprar mercados que estão na lona.

Além disso, as corretoras no Brasil continuam a reportar entrada de investidores internacionais nas duas últimas semanas.

Na Bovespa, o descompasso entre o investidor internacional e o doméstico nunca foi tão pronunciado: desde o início do ano, os estrangeiros compraram 10,6 bilhões de reais em termos líquidos, enquanto os investidores institucionais locais (gestores independentes, seguradoras e fundos de pensão) venderam 11,4 bilhões de reais.

A qualidade do fluxo de capital internacional entrando na Bovespa também está melhorando.

“No começo do ano, era um ‘fluxo manada’ de investidores globais, mas nas últimas três semanas a gente passou a ver gestores dedicados a Brasil ou a América Latina, aqueles caras que escolhem as empresas,” diz o operador de uma grande mesa institucional brasileira. “Enquanto isso, aqui no Brasil a gente vê os fundos de pensão se realocando em NTN-Bs [título ligado à inflação] e em renda fixa em geral, e gestores de Bolsa vendendo porque tiveram resgates…”

Mesmo para os investidores internacionais, o custo de oportunidade de investir na Bolsa é muito alto. Na renda fixa, a Selic está pagando 12,75% ao ano.

No final do dia, a questão é se o fluxo vai ser apoiado pelos fundamentos, porque a Bolsa, em termos históricos, ainda não está necessariamente barata.

Com o Índice Bovespa em 53.500 pontos, a Bolsa brasileira está negociando a um múltiplo de 12,75 vezes os lucros estimados para este ano, cerca de 10% acima de sua média histórica. (O múltiplo para 2016 já é mais palatável:  10,5 vezes lucro).

 

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