Há pouco mais de 20 anos, o empresário Israel Klabin conseguiu um cheque de US$ 80 milhões do Banco Mundial para reformar e modernizar o Museu Nacional.
Um time de voluntários chegou a se formar para trabalhar num pré-projeto de reforma para apresentar ao banco.
“Era uma modernização enorme. E a única condição imposta pelo Banco Mundial para liberar os US$ 80 milhões era que houvesse um modelo de governança moderno, com conselho e participação da sociedade civil,” Klabin disse ao Brazil Journal.
O dinheiro nunca saiu dos cofres do banco.
O projeto foi vetado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que rejeitou a única condição imposta pelo banco: entregar o controle do museu e transformá-lo numa Organização Social (OS), uma associação privada sem fins lucrativos que presta serviços de interesse público.
“Os professores e membros influentes da UFRJ foram contra,” Klabin disse esta tarde, enquanto funcionários retiravam o que sobrou do incêndio que devastou o mais antigo e importante museu do país.
A reforma nunca realizada seria a primeira de uma vice-presidência para assuntos culturais que James Wolfensohn, o então presidente do Banco Mundial, acabara de criar em 1995.
Wolfensohn era grande amigo de Klabin, que além de ser um dos herdeiros da companhia homônima é um respeitado ambientalista, ex-prefeito do Rio de Janeiro (1979-80) e ex-aluno da UFRJ. (Klabin formou-se em engenharia civil e matemática quando a UFRJ ainda era a Universidade do Brasil.)
Prestes a completar 92 anos, Klabin, naturalmente calmo e educado, compartilhava a revolta do País com a tragédia. “Esse incêndio é fruto de um modelo arcaico de governança que não permite a modernização do país. Um funcionalismo que olha o Brasil de forma cartorial e funciona para si mesmo.”
“Isso me fez ficar com raiva do Brasil. Sabe o que vai acontecer agora? Vai acontecer a mesma coisa com o Jardim Botânico, com a Biblioteca Nacional, com o prédio do Ministério da Educação (Edifício Gustavo Capanema, projetado por um time de arquitetos liderados por Le Corbusier) e várias outras instituições herdadas por um governo incapaz e ineficiente. Estamos vivendo em um estado cartorial. O Brasil inteiro nas mãos de governos ineficientes cuja gestão é sempre politizada.”