Para cada birdie* que Bento Assis faz em um campeonato de golfe, ele ganha US$ 10. Quando sai vitorioso, encaçapa mais US$ 100.

Mas semana passada, quando se concentrava para a tacada que iria torná-lo tricampeão mundial, Bento tinha outra motivação.

“Não estou pensando no dinheiro, quero fazer história.”

10765 476c4dad 273a 5805 58d5 5f81e4226a79E fez.  Bento tem 8 anos.  Aos 6, aos 7 e, mais uma vez agora, foi campeão da sua faixa etária no US Kids Golf World Championship, o campeonato de golfe infantil sub-12 que atrai milhares de “famílias de alta performance” para a pequena cidade de Pinehurst, na Carolina do Norte.  Foi graças a ele que a bandeira brasileira foi exibida pela primeira vez no campeonato.

Bento repete Allan Kournikova, irmão da tenista Anna Kournikova. (Hoje com 14 anos, Allan ganhou aos 6, 7 e 8, e aos 10.)
 
O sucesso das crianças no golf já virou série na Netflix. The Short Game é um documentário que acompanha a rotina de oito atletas mirins de até oito anos e a obsessão por um troféu em Pinehurst.  (Bento já assistiu “umas 50 vezes”.)

Pinehurst é a meca do golfe: tem apenas 16 mil habitantes mas 40 campos de golfe. (No Brasil inteiro, existem 100 campos.) Só o mundial da US Kids Foundation atrai cerca de 8 mil pessoas para a cidade, 1.500 delas, atletas mirins.

Todos querem ser o novo Tiger Wood, que quando tinha 5 anos já era capa de revista e dava entrevistas na TV. 

“Tem muito pai maluco, que põe a criança em homeschooling pra ter mais tempo pra treinar. Se treina demais, aperta demais, espana o parafuso. A estrada é muito longa quando você começa muito cedo. E a vitória de hoje não te garante nada lá na frente. Claro que te deixa motivado, mas você também fica mais pressionado,” diz Rodrigo Assis, pai de Bento. 

Bento já tem patrocínio da Under Armour – uma conta VIP para comprar o que quiser nas lojas da marca – e da TaylorMade, uma fabricante de tacos. Também tem apoio do ex-jogador Ronaldo, que ajuda a cobrir despesas de viagem com os campeonatos.

Bento detesta perder. Quando perde, no dia seguinte treina em dobro. Mas em condições normais, treina duas vezes por semana – nos outros dias joga tênis, bate uma bola ou pratica corrida.

“No último buraco, quando está empatado, eu costumo ficar nervoso,” disse ao Brazil Journal.  Para aliviar a pressão, respira fundo “como um lobo” – exercício que aprendeu com o psicólogo esportivo brasileiro, que ainda o acompanha em sessões por Skype. 

“O que eu acho mais legal no golfe é que eu faço um monte de amigos,” diz o garoto. A rivalidade fica no gramado – na piscina dos resorts onde acontecem os campeonatos, a criançada brinca junto.

Bento começou a brincar com os tacos de golfe aos 3 anos de idade, quando a família se mudou para um condomínio de golfe em Porto Alegre. A escolinha era do lado de casa e virou o seu playground. 

Há dois anos – com a economia do Brasil em queda e Bento em ascensão –  a família resolveu se mudar para a Flórida. 

Dividindo as prateleiras do quarto de Bento com carrinhos e super herois está uma coleção (que não para de crescer) de 52 trofeus e mais de 100 medalhas.

“Mesmo que não vire golfista, o golfe ensina muito: essa coisa de que o jogo só acaba quando termina, honestidade, integridade. Claro que eu amaria que ele fosse golfista profissional e estou dando as melhores possibilidades para ele se desenvolver. Mas o que vai acontecer lá na frente não tem como prever,” diz Rodrigo.
 
GLOSSÁRIO:
 
*Birdie: fazer um birdie em golfe significa acertar a bola no buraco com uma tacada abaixo do número de tacadas ideal para aquele buraco. 

TRAILER:

The Short Game – Netflix