Os cariocas sempre se perguntaram por que seus museus não podiam ser tão bem cuidados quanto os Mets e MoMAs de Nova York.

Agora, essa justificada síndrome de vira-lata tem uma chance de acabar.

Fechado desde março por causa da pandemia, o Museu de Arte Moderna do Rio reabriu as portas sob nova direção, com mudanças profundas em sua gestão, funcionamento, estratégia — e na percepção do público. 

Na entrada, um painel na parede que diz “Aberto para Todos” é apenas o primeiro indício dos novos tempos.  Agora, como em alguns grandes museus do mundo, paga o ingresso quem puder, e paga-se o quanto se deseja. As visitas são marcadas pelo site, para evitar aglomerações. As atendentes saúdam os visitantes nas galerias, e há orgulho no olhar. 

10547 3d024bcc 6da6 03f0 7c3e d3309770188eDepois de organizar as finanças e reinjetar autoestima no Parque Lage — a escola de artes visuais referência no mundo artístico carioca — Fábio Szwarcwald está tentando fazer o mesmo no MAM, um dos principais museus da América Latina por abrigar, em um só lugar, 15 mil obras de arte moderna e contemporânea brasileira, um centro de pesquisa e documentação e uma cinemateca. (Fun fact: o MAM guarda o primeiro registro em película do Brasil, “Reminiscências”, produzido entre 1909 e 1926).

Escolhido por meio de um processo seletivo, Fábio assumiu como diretor executivo em janeiro.

“Encontrei um museu sem foco ou estratégia, mas entendi rápido quais eram os problemas e mudei a forma de trabalho das equipes”, ele disse ao Brazil Journal. “Em fevereiro, comecei a trazer novos profissionais, mas em março começou a pandemia.” 

Com o museu fechado, Fábio focou na renovação (e inovação).

Na parte de dentro, mandou limpar os aparelhos de ar-condicionado (algo que não acontecia há 20 anos), desenhou uma nova sinalização para ajudar a navegação nas galerias e criou visitas guiadas exclusivas.  

O foyer, onde fica a bilheteria, uma loja e a famosa escada circular, vai ganhar uma biblioteca e um café — e nos  jardins, antes abandonados, haverá exposições e performances de dança, música e teatro. “Queremos um espaço democrático e de criação”, diz Fábio, que trabalhou 23 anos no mercado financeiro em lugares como a GulfInvest, Banco Votorantim e Credit Suisse. 

As galerias do segundo e terceiro andares voltaram a receber luz natural depois que os blackouts que cobriam os vidros nos últimos anos foram removidos pelo novo diretor. Os janelões projetados por Affonso Eduardo Reidy voltaram a cumprir sua função: deixar que o visitante absorva tanto a estética criada pelo homem (ali dentro) quanto a aquarela criada pela natureza (lá fora). 

Na parte externa, o novo gestor assumiu a limpeza do entorno, incluindo o chafariz que beira o café, e estabeleceu uma parceria com o policiamento Aterro Presente para garantir a segurança (o lugar ainda tem população de rua, mas o MAM está conversando com a prefeitura para resolver a situação.) 

Mas as mudanças vão além do equipamento físico. Fábio abriu uma chamada internacional para escolher uma direção artística, selecionada por uma equipe interna e um comitê técnico externo. 

“Demos aos candidatos liberdade para repensar o museu e escrever até mil palavras. Tivemos 113 inscritos, dos quais 67 passaram. No final, ambos comitês escolheram os cinco finalistas sem saber do resultado do outro.”

Agora os escolhidos — a carioca Keyna Eleison e o espanhol Pablo Lafuente — focarão em montar exposições, atender o público, criar eventos culturais e reativar o Bloco Escola, um projeto de educação artística inoperante há mais de 20 anos.  Fábio acaba de contratar o escritório de arquitetura Henrique Mindlin para o projeto de restauro — o mesmo escritório que reconstruiu o MAM depois do incêndio de 1978.

“Minha prioridade é a governança e transparência para atrair mais patrocinadores além de pessoas físicas, criando sustentabilidade financeira de médio e longo prazo”, diz ele. “Estou profissionalizando a gestão. Ninguém é contratado por ser ‘amigo do Fábio,’ temos chamadas abertas. Recentemente, recebemos 1.700 currículos para cinco vagas. Os job descriptions são muito claros.”

Antes da pandemia, o MAM atraía 50 mil visitantes por ano, mas Fábio quer chegar a 300 mil quando o mundo voltar ao normal. 

Fundado em 1948, mesmo ano do MASP, o MAM nasceu com um viés de experimentação artística e arquitetônica. O prédio modernista foi a primeira instalação do então inaugurado — e hoje tombado — jardim de Burle Max.  O MAM é uma sociedade privada para serviço público, com conselhos administrativo e artístico. Além de cinemateca e escola, o complexo tem um teatro (patrocinado pela Vivo) que recebe até 4 mil pessoas em pé e 2.600 sentadas.

O MAM abriga três coleções complementares: o acervo do museu, com 6.600 obras, a Coleção Gilberto Chateaubriand, com 6.630 (a maior parte brasileiras), e a Coleção Joaquim Paiva, que hoje tem 1.840 obras e chegará a 3.000 até o final do ano. “Não fosse o incêndio queimando 50% do acervo, teríamos hoje a maior coleção da América Latina”, lamenta o diretor. 

As obras ficam guardadas em três espaços do museu, mas Fábio vai remanejá-las para um galpão alugado para aproveitar a área para projetos de educação e residência.

“O MAM tem que ser um espaço plural, acessível e democrático, que traga diversidade e se reconecte ao Rio. Seu caráter social tem que chegar também às regiões periféricas”, diz.

É quase inacreditável, mas quando as pessoas certas estão no lugar certo, o Rio de Janeiro ainda é capaz de boas notícias.

 

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