A Bradespar anunciou que vai distribuir aos seus acionistas 41% da sua participação na Vale por meio de uma redução de capital — na prática, colocando cerca de R$ 11,6 bilhões no bolso de seus acionistas.
A medida está sendo recebida no mercado como o início de um processo de dissolução da holding, criada em 2000 para administrar participações acionárias do Bradesco em empresas não financeiras.
O anúncio, feito na terça-feira depois que o mercado já havia fechado, deve valorizar as ações da Bradespar no pregão desta quarta.
As ações da companhia negociam com um desconto de holding de 20% em relação a seu NAV [o valor patrimonial da empresa], percentual que deve começar a fechar.
“É claro que não vai entrar tudo no preço em um pregão, mas a distribuição é um baita sinal da direção que eles querem tomar”, diz um gestor.
O acionista da Bradespar vai receber 0,31 ação da Vale — o equivalente a R$ 29. Como uma ação da Bradespar negocia ao redor de R$ 60, a distribuição de ações equivale a um dividendo de 50% do valor de mercado da Bradespar.
“É muito relevante”, diz um analista.
Já há alguns anos, a Bradespar tem apenas ações da Vale — o último grande desinvestimento foi em 2018, quando a holding vendeu ações da CPFL.
Desde novembro passado, a Vale se tornou uma corporation e a Bradespar deixou de fazer parte do controle da companhia, o que também já alimentava especulações no mercado sobre o fim da holding. No comunicado, a Bradespar diz que está distribuindo as ações para ajustar o valor do seu capital social, “que se mostra excessivo às suas efetivas necessidades.”
Para uma fonte, o trigger para uma eventual decisão de acabar com a Bradespar pode ter sido a reforma tributária.
“A empresa pode ter avaliado que, se as regras mudarem, poderá ter de pagar algum imposto nesse tipo de operação, ou ainda na distribuição de dividendos pela estrutura de holding,” diz.
Na sua avaliação, a distribuição de 100% das ações só não aconteceu agora porque existe uma disputa judicial entre a Bradespar e a Litel, formada por Previ, Petros, Funcef e Funcesp. A discussão envolve uma disputa sobre qual das duas empresas — a Bradespar ou a Litel — teria que arcar com a conta de um processo judicial de R$ 2,8 bi que as duas perderam para a Elétron, o veículo de investimento da Opportunity na Vale.
Para viabilizar a redução de capital, a Bradespar teve de fazer uma movimentação contábil. Por meio da capitalização da reserva de lucros, ela aprovou um aumento de capital de R$ 1,66 bilhão, o que elevou o capital social para R$ 5,76 bilhões — tamanho necessário para fazer a redução de R$ 5,2 bilhões pelo valor contábil.