Depois de rejeitar duas ofertas da BHP, a Anglo American anunciou hoje uma ampla reestruturação de suas atividades, em um turnaround cujo objetivo é concentrar seu portfólio em commodities de energia limpa.
A intenção é reconquistar a confiança dos investidores e provar que foi correta a decisão de não aceitar os US$ 43 bilhões oferecidos pela concorrente.
A reorganização, que deve ser concluída até 2025, trará uma economia nos custos operacionais de US$ 1,7 bilhão, disse a Anglo.
A reação inicial do mercado, entretanto, foi negativa. As ações da empresa caíram 3,2% hoje em Londres. Já a BHP fechou em alta de 2,8%.
A mineradora informou que sairá de suas operações em carvão para siderúrgicas e níquel. Além disso, venderá tanto o controle da De Beers, a maior empresa do mundo em diamantes, quanto da Anglo American Platinum, a líder global em platina.
O foco recairá sobre o cobre e outros metais relacionados à economia verde.
“Cobre é, obviamente, a história do dia,” disse Duncan Wanblad, o CEO da Anglo, em um call com jornalistas.
O investimento em cobre será feito tanto de maneira orgânica quanto por fusões e aquisições.
O CEO acredita que a reestruturação vai destravar o valor dos ativos de cobre, hoje depreciados por causa da complexidade do portfólio da companhia.
Segundo Wanblad, a oferta da BHP – mesmo melhorada e potencialmente o maior negócio já feito no setor – subestima o valor da Anglo. Seus ativos mais cobiçados são as minas de cobre no Chile e no Peru.
O interesse central da BHP é justamente alavancar sua posição no cobre: com a aquisição da Anglo, ela passaria a ser a maior produtora mundial do metal.
O cobre já representa a maior parte do faturamento das principais mineradoras do mundo, enquanto minério de ferro e carvão estão em declínio, disse Charles Putz, um ex-CEO da Namisa (atual CSN Mineração), em um post no LinkedIn.
“A corrida pelo cobre, impulsionada pela expansão dos veículos elétricos, energia renovável e automação, está prestes a remodelar o cenário global da mineração,” escreveu Putz.
De acordo com os analistas, o plano de reestruturação poderá elevar a barra, mas ainda não livrou a Anglo definitivamente das investidas da BHP.
Para se concentrar no cobre e também em minério de ferro, a Anglo está disposta a abrir mão das suas posições de liderança em diamantes e platina.
Segundo o Wall Street Journal, já haveria interessados pela De Beers, e o valor pode passar de US$ 7 bi. O negócio representa um terço do EBITDA da Anglo.
Já Anglo American Platinum, a líder mundial em platina, é listada em Joanesburgo e tem grande influência do governo sul-africano.
Para poupar caixa, a Anglo vai ainda engavetar o seu projeto de uma mina de fertilizantes no Reino Unido.
“Wanblad está certo ao enfatizar que o plano apresentado reduz os riscos para os acionistas, porque haverá menor exigência de aprovações regulatórias,” escreveu Javier Blas, comentarista de energia e commodities da Bloomberg.
“Mas ele deixou os investidores no escuro a respeito de outros detalhes importantes: não teve respostas sobre o custo fiscal dos desinvestimentos em platina e silenciou sobre os prováveis writedowns em fertilizantes,” disse Blas. “Faltaram também detalhes sobre as reduções de custos.”
Pelas regras de proposta de aquisições do Reino Unido, a BHP tem até o dia 22 de maio para fazer uma proposta formal pela Anglo.
Em valor de mercado, a BHP mais de 4x a Anglo: US$ 149 bi contra US$ 35 bi. A Vale tem market cap de US$ 54 bi.
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