Os acionistas controladores da Cielo — o Bradesco e o Banco do Brasil — estão propondo uma OPA por 100% do capital, tentando tirar a companhia de adquirência da Bolsa num momento de perda forte de share e alto turnover na liderança.
Os controladores estão oferecendo pagar R$ 5,35 por ação — um prêmio de apenas 6% em relação ao preço de tela. A ação subiu 20% nos últimos seis meses.
Caso a transação vá adiante, o Banco do Brasil ficaria com 49,99% do capital da Cielo e o Bradesco com o restante. Hoje, o BB tem 28,65% das ações ONs e o Bradesco, 30,06%.
O racional da operação é simples.
Além dos ganhos de eficiência e da redução de custos por não ser mais uma empresa listada, a saída da Bolsa permitiria ao Bradesco integrar a operação de adquirência com seu negócio bancário.
“Ficou muito claro para o mercado que o produto vencedor é o integrado,” disse o analista de uma gestora que não tem o papel. “Ao integrar, você não precisa ganhar na adquirência, porque pode ganhar no crédito, na conta, em vários outros produtos.”
Esse analista também nota que em termos de valuation a transação é positiva para os compradores. “É uma empresa que negocia com um múltiplo muito baixo e tem um retorno sobre o capital alto.”
O movimento do Bradesco vem um pouco atrasado — 12 anos depois do Itaú ter percebido a mesma coisa e feito a OPA da Rede.
Para Edson Santos, o ex-CFO da Redecard e ex-CEO da Global Payments, a estratégia do Itaú deu muito certo, “tanto que ano passado a Rede assumiu pela primeira vez a liderança do mercado, ultrapassando a Cielo.”
“A cada R$ 100 de transação de cartão, uns R$ 25 passam pela Rede hoje; uns R$ 35 são feitos por um cartão do Itaú; e uns R$ 25 são depositados numa conta do Itaú. Isso dá um poder muito grande de combinar serviços e preços de uma maneira interessante. Permite baixar preço de um lado e ganhar de outro,” disse Santos.
O Bradesco estuda há anos fechar o capital da Cielo comprando a participação do BB, mas a transação sempre esbarrou na Cateno — a empresa criada durante o Governo Dilma que adquiriu os direitos de receber as taxas de intercâmbio do BB pelas próximas décadas.
Essa empresa é controlada pela Cielo, que tem 70% do capital. O BB tem os 30% restantes.
A transação de agora deve ter envolvido alguma negociação a respeito da Cateno, na visão de um gestor que acredita que, depois da OPA, o Bradesco e o BB podem dividir a Cielo em duas.
“Com a governança de hoje é mais complicado para o Bradesco fazer a integração da adquirência com o bancário que ele quer,” disse ele.
O fechamento do capital da Cielo é uma das primeiras medidas de Marcelo Noronha como CEO do Bradesco depois de ter assumido o cargo em novembro. Noronha conhece bem a Cielo: ele está no conselho da adquirente há 12 anos e foi chairman por seis.
Naturalmente, os grandes perdedores serão as adquirentes menores, como a Ton e a PagSeguro, já que a Cielo vinha perdendo bastante market share nos últimos anos — o que pode mudar com a nova estratégia.
“Nos últimos anos, a Cielo parece uma sanfona em termos de estratégia,” disse um executivo do setor. “Uma hora ela corre atrás de market share, outra reduz despesas para ganhar margem. Depois volta a correr atrás de share, para depois querer buscar margem de novo.”
No segundo trimestre do ano passado, a companhia perdeu a liderança do mercado de adquirência pela primeira vez na história.
“Não é um desastre total, mas é um momento muito desafiador,” disse o executivo.