“There are decades where nothing happens; and there are weeks where decades happen” – Lênin.

A corrida do homem (isto é, dos americanos) para conquistar o espaço está seguindo à risca a famosa frase de Lênin, segundo a qual “existem décadas em que nada acontece; e há semanas em que décadas acontecem.”

Na segunda-feira, a NASA – em parceria com a SpaceX, de Elon Musk – colocou no espaço sua maior sonda de exploração interplanetária.  A Europa Clipper deve chegar a Júpiter daqui a seis anos, em uma das principais missões já feitas na tentativa de comprovação da existência de vida fora da Terra. 

Um dia antes, a SpaceX já havia conquistado um feito inédito e espetacular na história da corrida espacial. 

Numa cena já eternizada pela internet, o propulsor de um foguete retornou à base minutos depois do lançamento, pousando de ‘marcha à ré’ verticalmente e sendo agarrado por braços mecânicos – e o mais importante, abrindo uma nova era para as missões à Lua e possivelmente à Marte. 

A sonda Euro Clipper partiu da base da NASA na Flórida levada pelo foguete Falcon Heavy, da SpaceX – em mais uma demonstração da relevância que a empresa de Musk está assumindo nos programas de exploração espacial dos EUA.

O foguete, de mais de 70 metros de altura, é composto por três motores reutilizáveis. O seu empuxo na decolagem equivale ao de 18 Boeings 747.

A missão custará US$ 5,2 bilhões à agência espacial americana e vai investigar se Europa, uma das luas de Júpiter, apresenta condições de vida.

Europa é a quarta maior lua do planeta. Tem oceanos gelados que teoricamente poderiam ser compatíveis com a existência de vida. Além de água, a sonda buscará identificar a presença de compostos orgânicos.

Depois de se desprender do foguete da SpaceX, a Europa Clipper vai entrar em uma órbita ao redor do Sol. Em fevereiro, quando se aproximar de Marte, ganhará um impulso gravitacional adicional.

Então em dezembro de 2026, se tudo sair como o planejado, vai ganhar um outro empurrão gravitacional, dessa vez em um sobrevoo sobre a Terra, para então entrar na trajetória rumo ao seu destino.

A NASA prevê que a sonda entrará na órbita de Júpiter no dia 11 de abril de 2030, depois de ter viajado 2,9 bilhões de quilômetros.

A partir daí, deverá fazer 49 sobrevoos orbitais na lua de Europa ao longo de quatro anos.

A sonda carrega nove instrumentos de prospecção, incluindo câmeras, radares e espectrômetros, que funcionarão com energia solar. Abertos, os seus paineis têm mais de 20 metros.

Os cientistas descobriram que Europa é uma das chamadas ‘Goldilocks zone’ do Sistema Solar – ‘mundos’ onde há regiões ‘nem muito quente nem muito frias’ e, por isso, compatíveis com a presença de água líquida.

Estudos indicam que a lua de Júpiter pode ter o dobro de água do que o volume somado de todos os oceanos da Terra.

Há indícios da presença de água também em duas outras luas de Júpiter, em duas luas de Saturno, em uma de Netuno e talvez em Plutão.

A NASA tem se tornado cada dia mais dependente da SpaceX para  suas missões. Nos últimos 14 anos, já foram mais de 300 lançamentos utilizando o foguete Falcon 9 – os mesmos usados para colocar em órbita os satélites da Starlink.

A SpaceX também deverá ajudar no resgate de dois astronautas que ficaram presos na Estação Espacial Internacional depois que uma falha numa nave da Boeing impediu que eles retornassem à Terra em junho.

Agora a melhor chance da dupla é retornar na cápsula Crew Dragon, da empresa de Musk, em um voo de volta previsto para fevereiro.

No último domingo, a SpaceX alcançou também um feito inédito. Em um teste, o seu foguete Starship decolou da Starbase, no Texas, e minutos depois o booster o seu retornou à própria plataforma, numa aterrissagem vertical.

O propulsor de primeiro estágio – chamado Super Heavy  – separou-se do Starship três minutos após o lançamento. Na sequência religou 13 de seus motores e voltou ao ponto de partida.

O Starship seguiu no voo teste não-tripulado e pousou no Índico. 

Os vídeos da façanha da engenharia viralizaram. Não é para menos. A tecnologia pode ser o início da reutilização em massa de foguetes, acelerando e barateando as missões espaciais.

O Starship é o maior e mais potente foguete produzido na história. Tem mais de 120 metros de altura.

A SpaceX fechou um contrato com a NASA, de US$ 4 bilhões, para levar astronautas à Lua em duas missões do programa Artemis. Ainda não existe uma data precisa para o primeiro lançamento, mas a estimativa é final de 2026.

Musk é um entusiasta da conquista espacial. Fundou a SpaceX em 2001 e logo de saída um de seus planos declarados era colonizar Marte – e o projeto se chama Occupy Mars.

Uma reportagem recente do New York Times revelou que a sua empresa mantém um time que está projetando módulos para serem habitados, enquanto outra equipe desenvolve vestimentas para enfrentarem o ambiente hostil do planeta vermelho.

Ainda segundo o NYT, Musk teria falado internamente que daqui a 20 anos deverá haver 1 milhão de pessoas morando em Marte.

Paralelamente, Musk ganha relevância estratégica – e espacial – com a Starlink, a subsidiária da SpaceX que provê internet de alta velocidade via satélite.

A companhia possui uma ‘constelação’ de 7.000 pequenos satélites de órbita terrestre baixa (LEO, de low Earth orbit). O total poderá superar 34.000.

A Starlink lançou hoje no ar hoje, de uma base na Flórida, o seu centésimo foguete apenas neste ano. Um Falcon 9 colou em órbita 23 satélites.

Duas horas depois, na Califórnia, outro foguete foi lançado, dessa vez com 20 satélites da Starlink.