A Visa acaba de anunciar que está criando uma nova empresa no Brasil para capturar uma fatia do PIX, que já responde por 35% de todas as transações no ecommerce.
O movimento faz parte de uma estratégia global da Visa de se transformar numa empresa de tecnologia de movimentação financeira, indo além dos cartões de crédito e débito.
Batizada de Visa Conecta, a nova empresa será uma instituição de pagamentos e, inicialmente, vai operar apenas como um ‘iniciador de pagamentos’ do PIX. Em novembro passado, a Visa já pediu a licença de ITP junto ao Banco Central, e a expectativa é que ela saia até novembro deste ano.
A decisão de entrar nesse mercado teve a ver com o lançamento pelo Banco Central, em 28 de fevereiro, da jornada de pagamento do PIX sem redirecionamento — o que vai permitir pagar com o PIX nos ecommerces com apenas um clique.
Hoje, para um cliente fazer uma compra no PIX numa loja virtual ele precisa copiar o código ou escanear um QR Code, tendo que entrar no aplicativo do banco para efetuar a transação.
Na jornada sem redirecionamento, ele vai conseguir fazer a compra com apenas um clique, sem sair do ecommerce — contanto que já tenha vinculado sua conta bancária àquela loja. Essa vinculação é operacionalizada pelas ‘iniciadoras de pagamentos’, que passam a receber um fee sobre cada transação por esse serviço.
Para os ecommerces, o principal benefício do PIX sem redirecionamento é a redução da fricção e o potencial aumento da conversão.
“Conversamos com muitos potenciais clientes nos últimos anos para desenhar essa estratégia e a criação do produto, e quase todos esses clientes falaram que o calcanhar de aquiles é a conversão,” Leonardo Enrique, que vai comandar a Visa Conecta, disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, não há dados sobre o impacto que a jornada mais longa do PIX gera na conversão, mas a percepção geral é que há sim um impacto negativo.
“Imagina que o cliente está comprando com o PIX, copia o código e uma pessoa chama ele bem nesse momento. Ele vai parar o pagamento e depois pode acabar desistindo da compra. A instantaneidade que existe no pagamento sem redirecionamento gera uma fluidez muito maior e, consequentemente, maior conversão.
Leonardo não abre a projeção de receita para a Visa Conecta, mas diz que a expectativa é que a nova empresa se torne “um braço importante da Visa, tanto em receita quanto em capilaridade.”
Mesmo sem a licença, a Visa já pretende iniciar a operação do Visa Conecta em setembro, usando inicialmente a licença e infraestrutura de conectividade de um parceiro (a Celcoin).
A experiência de uso da ferramenta, no entanto, será da Visa, que vai usar a tecnologia de uma empresa europeia que ela adquiriu há três anos: a Tink, que é hoje a líder de open banking na Europa.
Leonardo — que entrou na Visa há três anos para estruturar a área de open finance — disse que a solução de iniciação de pagamento de PIX é um primeiro produto da Visa Conecta e que a ideia é lançar outras soluções ao longo do tempo.
“Todos os produtos novos que lançarmos que tenham a ver com open finance vão ficar debaixo da Conecta,” disse ele.
Apesar de operar no Brasil, a Visa Conecta vai ficar debaixo do guarda chuva da Visa Inc (a operação global) e não da Visa Brasil. Segundo o executivo, isso acontece por uma questão regulatória: o Banco Central não permite que uma instituição de pagamento fique na mesma estrutura societária de um instituidor de arranjo de pagamentos (IAP).